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SOBRE O UNIVERSO

O Cosmo

O Universo é tudo que existe fisicamente, a totalidade do espaço-tempo, todas as formas de matéria, incluindo todas as galáxias, com seus planetas e satélites, as estrelas e os componentes do espaço intergaláctico.

O Universo observável tem, de raio, cerca de quarenta e seis bilhões de anos-luz. Ele é governado pelas mesmas leis físicas e constantes durante a maior parte de sua extensão e história.

A teoria do Big Bang é o modelo cosmológico prevalecente, que descreve como o Universo evoluiu desde os primeiros segundos até hoje. Calcula-se que se passaram treze bilhões e setecentos milhões de anos desde então. Observações de supernovas têm mostrado que o Universo está se expandindo a uma velocidade acelerada.

O Universo conhecido contém aproximadamente cem bilhões de galáxias, reunidas em grandes grupos e separadas por vastos espaços vazios, que podem estar repletos de matéria escura, de natureza ainda desconhecida, cuja forte atração gravitacional é capaz de inverter a expansão do Universo e comprimí-lo no Big Crunch.

De acordo com o Big Bang, o Universo surgiu de um único ponto, ou singularidade, onde toda matéria e energia de sua parte observável encontravam-se concentradas em uma fase densa e extremamente quente, chamada Era de Planck, a partir da qual vem ele se expandindo, possivelmente em curtos períodos de inflação cósmica, e tem-se acelerado por ação da energia escura, uma força contrária à gravidade, que está agindo mais do que esta devido ao fato de as dimensões dele serem grandes o bastante para a dissipar. O escasso conhecimento a respeito da energia escura torna pequeno o entendimento deste fenômeno e sua influência no destino do Universo.

A sonda WMAP coletou dados que levaram à determinação da idade do Universo em treze bilhões setecentos e trinta milhões de anos. Já o satélite Planck indica treze bilhões oitocentos e vinte milhões de anos e um diâmetro de noventa e dois bilhões de anos-luz.

De acordo com a teoria da relatividade, de Einstein, o espaço pode expandir-se a uma velocidade superior à da luz, embora possamos ver somente uma pequena fração da matéria visível do Universo devido à limitação imposta pela velocidade da luz.

Trezentos mil anos depois do Big Bang, teriam surgido átomos de matéria. As formas de vida teriam aparecido onze bilhões e duzentos milhões de anos depois. Não se sabe se a dimensão do espaço é finita ou infinita.

O Universo, ou Cosmo, subdivide-se em superaglomerados de galáxias que se mantêm relativamente próximas umas das outras devido à ação da gravidade. Há os aglomerados de galáxias, que são partes menores de cada superaglomerado.

O aglomerado onde a Via Láctea se encontra chama-se Grupo Local. Este grupo contém diversas galáxias, sendo a Via Láctea e Andrômeda as maiores. Na Via Láctea encontram-se estrelas, planetas, luas e asteróides.

A Terra

Supõe-se que a Terra teria tido o início da sua formação há, aproximadamente, quatro bilhões e seiscentos milhões de anos, através de várias nuvens de gás e poeira, disco protoplanetário em rotação, que deu origem ao nosso Sistema Solar. A vida começou na Terra há pouco mais de três bilhões e seiscentos milhões de anos, no Período Arqueano, conforme vestígios de vida encontrados nesse período, o que dá a entender que sua formação deve ter sido anterior.

No começo, tudo no planeta Terra era uma rocha derretida que, depois de algum tempo, virou pedra, e formou a superfície terrestre. Naquela época havia muitas erupções vulcânicas, razão pela qual a atmosfera da Terra era composta de vários gases, principalmente o oxigênio, o hidrogênio e o carbono. Houve um grande período de chuvas, que durou milhões de anos, e as partes de Terra que ficaram emergiram, formando os Continentes.

No Período Arqueano, iniciou-se o registro da história da Terra, antecedido pelo Hadeano, um éon da sua geologia, quando o sistema solar estava tomando forma. Durante esse período, surgiu a vida no mundo. As primeiras formas de vida eram pequenas esferas protegidas por uma membrana, que se constituíram em águas quentes e serenas, no mar, ao abrigo dos raios ultravioletas do Sol, e que, com o tempo, uniram-se a corpúsculos prontos para a fotossíntese, para a respiração e para a reprodução.

No Período Proterozóico, os continentes se estabilizaram. Os primeiros fósseis de organismos unicelulares surgiram na Austrália, na Terra Nova, na Califórnia e na Rússia. A reprodução sexuada foi uma novidade que teria surgido nessa época, bem como seres multicelulares de configuração simples, como algas, esponjas e cnidários.

A Era Paleozóica, do éon Fanerozoico, divide-se nos períodos:

Cambriano, quando os climas do mundo eram suaves, não havendo, ainda, nenhuma glaciação, e a maioria dos grupos principais de animais apareceu no registro fóssil, numa diversificação verdadeiramente dramática.

Ordoviciano, quando o clima era mais suave e a atmosfera muito úmida, e surgiram diversos invertebrados marinhos, peixes primitivos e esporos trietes.

Siluriano, quando o derretimento das calotas polares contribuiu para o aumento dos níveis dos oceanos e para o aparecimento dos recifes de corais, dos peixes com mandíbulas, dos insetos e aracnídeos.

Devoniano, quando surgiram plantas com sementes e árvores, possibilitando a formação de florestas, peixes encouraçados, peixes ósseos e um enorme desenvolvimento de insetos, atingindo grande quantidade de espécies e tamanhos.

Carbonífero, quando temperaturas suaves levaram ao aumento do número de samambaias gigantes, e ocorreram eventos biológicos, geológicos e climáticos diversos, como o surgimento do ovo amniótico e de enormes cadeias de montanhas.

Permiano, quando placas tectônicas modificaram a face da Terra, ocorrendo a extinção maciça de muitos grupos de organismos, com mais intensidade das comunidades marinhas, e também das espécies vertebradas terrestres, dando origem a nova era.

A Era Mesozóica, também do éon Fanerozóico divide-se nos períodos:

Triássico, quando o clima global foi modificado, surgiram enormes áreas desérticas, os seres que sobreviveram à grande extinção deram origem aos dinossauros, originalmente os carnívoros e depois os herbívoros, e a pequenos animais mamíferos.

Jurássico, quando os dinossauros se tornaram a espécie dominante, os carnívoros atacaram os herbívoros que, em defesa, evoluíram em tamanho e força; surgiram os répteis voadores, as aves primitivas, os répteis marinhos, os tubarões e os crocodilos.

Cretáceo, quando se deu a extinção dos dinossauros e de muitas espécies vegetais, supostamente provocada pela queda de um grande asteróide, havendo muitas outras teorias para o evento, mas os mamíferos e as aves se diversificaram e evoluíram.

A Era Cenozóica, do mesmo éon, divide-se nos períodos:

Paleoceno, quando se iniciou a dominação dos mamíferos, com variedades enormes de espécies e tamanhos ainda não muito grandes, alguns se arriscando no meio aquático, aves já bem grandes e vegetação e clima tropical dominantes.

Eoceno, quando os mamíferos diversificaram suas formas e tamanhos e dominaram a água, o ar, locais frios e quentes, e algumas espécies começaram a se confrontar e, inclusive, com as aves, que se tornaram predadoras formidáveis.

Oligoceno, quando apareceram os maiores mamíferos terrestres, ainda predominantes, mas já começando a perder a competição para outros animais, ancestrais dos atuais, num clima ainda quente e úmido, começando a aparecer campos e pradarias.

Mioceno, quando o clima se tornou mais favorável, marcado pela expansão dos campos e dos cerrados, mais árido no interior dos continentes, a fauna e a flora sofrendo extinções, tendo algumas sobrevivido, sofrendo as adaptações necessárias.

Plioceno, quando houve uma grande diversificação dos campos, cerrados e savanas, que se espalharam por muitos continentes, provavelmente causada pelas eras glaciais que provocaram um esfriamento global, com acumulação de gelo nos pólos, conduzindo à extinção de muitas espécies vegetais, que sobreviveram, em outras áreas, até a atualidade.

Pleistoceno, quando ocorreram as glaciações, ou idade do gelo, com a presença de mamíferos e pássaros gigantes, que foram extintos, e a expansão da nossa própria espécie Homo Sapiens, oferecendo fósseis muito abundantes e bem preservados.

Holoceno, quando houve pequenas mudanças de clima, com temperaturas mornas e quentes, e ocorreu a ascensão e queda de todas as civilizações humanas, que estão sendo responsabilizadas pelo aquecimento global, pela destruição de vários habitats e pela poluição, causando uma extinção maciça de muitas espécies de plantas e animais, apesar do grande desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia.

Não se sabe como a Terra terá o seu fim. Uma teoria muito provável é a de que o Sol consumirá todo o seu hidrogênio e expandir-se-á na forma de gigante vermelha, cujo processo será acompanhado de bastante perda de material solar, e o vento solar causado por esta perda de material poderá arrancar a atmosfera terrestre, tornando a Terra um deserto, uma rocha nua.

O Homem

Supõem os cientistas que o homem surgiu na África e migrou para fora do continente em torno de cinquenta mil a cem mil anos atrás. Desde o tempo de Lineu, alguns grandes macacos foram classificados como sendo os animais mais próximos dos seres humanos, com base na similaridade morfológica. No século XIX, especulava-se que nossos parentes mais próximos eram os chimpanzés e gorilas. Supunha-se que os fósseis dos ancestrais dos humanos seriam encontrados na África e que os humanos compartilhavam um ancestral comum aos outros antropóides africanos.

Os Australopithecíneos são atualmente vistos como os ancestrais imediatos do gênero Homo, grupo ao qual os homens pertencem, à família Hominidae, mas alguns consideram que tenham sido apenas primos mais distantes. Antes do gênero Homo, teriam surgido os primeiros hominídeos e os gêneros Australopithecus e Paranthropus.

Existiram várias espécies de Homo, quais sejam:

Homo Habilis, a primeira espécie do gênero Homo, que evoluiu no sul e no leste da África no final do Plioceno ou no início do Pleistoceno, divergindo dos Australopithecines, com molares menores e cérebro maior do que eles, e faziam ferramentas de pedra, e, talvez, de ossos de animais.

Homo Erectus, surgindo na África, na Ásia e na Europa, no Pleistoceno Inferior, com um cérebro maior, fabricando ferramentas de pedra mais elaboradas, cujo exemplo é o Homem de Pequim.

Homo Ergaster, nome específico do Homo erectus não encontrado na Ásia, e que possuía diferenças esqueléticas e dentárias deles.

Homo Heidelbergensis, na Alemanha.

Homo Floresiensis, apelidado de Hobbit por causa de seu pequeno tamanho.

Homo Neanderthalensis, com possíveis efeitos pequenos negativos sobre a raça humana, tais como depressão, lesões da pele e coagulação sanguínea excessiva.

Homo Sapiens, surgido no Pleistoceno Médio, com um cérebro altamente desenvolvido, com capacidade de raciocínio abstrato, linguagem, introspecção e solução de problemas, associada ao corpo ereto, que possibilitou o uso dos braços para manipular objetos e criar e utilizar ferramentas para alterar o ambiente de acordo com suas necessidades.

Atualmente os seres humanos estão distribuídos por toda a Terra. Os humanos criaram complexas estruturas sociais compostas de muitos grupos cooperantes e concorrentes. Os grupos étnicos diferenciaram-se, principalmente, pela cor da pele e dos cabelos, em brancos, negros, amarelos e vermelhos.

A História da Humanidade foi precedida pela Pré-história, período em que não havia a escrita e os meios de investigação se restringiram ao exame dos documentos das artes, das armas e dos túmulos, e que foi classificado, por ordem de antiguidade, em Idades, a da Pedra Lascada, Paleolítica, a da Pedra Polida, Neolítica, e a dos Metais, pela ordem, a do Cobre, a do Bronze e a do Ferro, sendo que, no momento atual, certos povos se encontram ainda em uma ou outra dessas Idades.

A História da Humanidade começou em datas variadas nas diferentes partes do mundo e convencionou-se denominar os diferentes períodos dela em:

História Antiga, ou Antiguidade, que registrou a existência dos mais antigos povos do Oriente e do Ocidente: Arianos, Egípcios, Hebreus, Caldeus, Fenícios, Assírios, Medos, Persas, Gregos, Romanos, Celtas, etc. Os Fenícios criaram o alfabeto, do qual se originaram todos os outros, exceto o dos chineses. Convencionou-se considerar o fim dessa era em 395, quando Teodósio dividiu o Império Greco-Romano entre seus dois filhos.

Idade Média, que registrou a conversão do mundo romano ao Cristianismo, a invasão dos Bárbaros no Ocidente, a queda do Império Romano, a luta dos Cristãos contra o Islamismo, a organização do regime feudal, as transformações sociais e políticas que originaram, no século XV, na Europa, a formação de grandes Estados, distintos e independentes, a Tomada de Constantinopla pelos Turcos em 1453.

Idade Moderna, que registrou cronologia variada, conforme o avanço do Renascimento e da Reforma, e que se definiu com a invenção da imprensa, com o descobrimento da América, com o movimento intelectual no sentido do livre-exame da cultura, com a criação de obras primas artísticas e literárias, com lutas fratricidas e guerras religiosas, com a reação contra a intolerância e o absolutismo que gerou a Revolução Francesa, com a queda do Império Napoleônico em Waterloo em 1815.

Idade Contemporânea, que registrou o princípio democrático com a política das nacionalidades, regime esse que sofreu, depois da guerra de 1914-1918, grave crise, surgindo ditaduras mais ou menos confessadas em vários países da Europa, com a instituição democrática, sob várias formas, afirmando-se novamente.

No decorrer da História da Humanidade, levando-se sempre em conta que, em várias partes do mundo, as idades descritas têm-se manifestado em ocasiões diferentes, e que, até o momento atual, algumas partes dele manifestam ainda características até mesmo das mais remotas épocas, há que considerar que as formas de governo, ato ou efeito de dirigir, têm-se manifestado diferentemente, podendo, por ordem de surgimento, considerarem-se os diversos regimes, conjunto de regras impostas, quais sejam:

Horda, do Turco Ordu, acampamento, denominação dada a agrupamentos nômades da Tartária, que trafegavam em grande parte da Ásia, na Mongólia, na Manchúria, no Turquestão, no Afeganistão, na Sibéria, principalmente, povos errantes, guerrilheiros, indisciplinados e malfazejos.

Tribo, aglomerado de famílias ou de povos, sob a autoridade de um chefe, vivendo na mesma região, provindo de um tronco comum, formando uma sociedade rudimentar.

Feudo, concessão territorial, por um suserano a um vassalo, ambos nobres, mediante certas obrigações, podendo ocorrer o benefício, concedido como recompensa por algum serviço prestado, e a recomendação, quando o mais fraco se entregava ao mais poderoso em troca de proteção.

Império, nome dado a vários grandes Estados, como o Romano, que depois se subdividiu em Grego e Romano, o Segundo Império do Ocidente, chamado depois do século XIV de Santo Império Romano Germânico, o Império Latino, o Império Alemão, o Império da Áustria, o Império Francês, o Império das Índias, o Império Português, o Império do Meio ou Celeste Império, o Império do Sol Nascente.

República, coisa pública, governo dos interesses de todos, por intermédio de delegados eleitos pelo povo.

Em busca das coordenadas que levem à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos, há que considerar que os indivíduos que formam os grupos é que determinam o pensar coletivo, sendo que as mais significativas dessas tendências são as que se seguem:

Quiliasma, irrupção, no presente, do que anteriormente quedava interiorizado, tomando posse do mundo exterior e o transformando, esperando uma comunhão com o presente imediato, que santifica o momento incidental, inseparável da espiritualidade.

Ideia Liberal Humanitária, um grito de guerra contra os extratos da sociedade cujo poder advém da sua posição herdada da ordem existente, caracterizando-se por uma aceitação positiva da cultura e da ética, ocupando-se da educação e do progresso.

Ideia Conservadora, valorização do passado, experimentado como virtualmente presente, determinando que a liberdade interna deve subordinar-se ao código moral já definido e que as ideias das classes oponentes são utópicas, ameaças à ordem posta, e devem ser combatidas.

Ideia Socialista-Comunista, baseada em uma síntese interna das várias ideias em questão, considerando que a liberdade e a igualdade só ocorrerão com a derrocada do capitalismo e que os aspectos materiais da existência devem ser glorificados.

Nenhuma das formas destas forças dinâmicas, que emergem em uma sequência histórica, jamais desaparece por completo e, em época alguma, qualquer delas é incontestavelmente dominante.

Uma perspectiva “lato sensu” em busca das coordenadas que levem à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos é oferecida pela história da administração, que aponta para a missão histórica do administrador, que consistiu no planejamento e na direção dos recursos para atender à flutuação, a curto e longo prazo, do mercado, na sua expansão inicial e acumulação de recursos, na operacionalização do uso dos recursos, na expansão subsequente para novos mercados e produtos, no desenvolvimento de uma estrutura, desenho da organização.

A cultura manifesta tríplice aspecto: a teologia, nas suas três vertentes, a afirmativa natural, a afirmativa revelada e a negativa, mística; a filosofia, também nas suas três vertentes, a racional, a intuitiva e a fenomenológica; a ciência, nos seus diferentes ramos, o empírico, o eidético interpessoal e o eidético multipersonal.

A ciência apresentou contribuições preciosas para o conhecimento do ser humano: a ciência empírica desenvolveu o conceito de integração permanente de todos os sistemas que constituem o corpo humano; a ciência eidética interpessoal integrou fisicalismo e mentalismo num conceito coerente sobre o psiquismo; a ciência eidética multipersonal afirmou que não existe natureza humana sem ambiente social.

A transmissão da cultura, tarefa precípua da humanidade, se faz através da educação, condução, que compreende o conhecimento, em geral, e o conhecimento ético, em especial, nos seus aspectos de informação, do conhecimento em si, e de formação, adoção prática do aprendido, de acordo com as etapas evolutivas de cada indivíduo e de cada grupo.

A finalidade última do homem, a criação racional do próprio homem em busca da felicidade, que consiste no bem-estar do corpo, vivência mística, no bem-estar psíquico, experiência mística, e no bem-estar espiritual, êxtase místico, exige a humanização, que se ampara na administração do bem comum sem prejuízo do bem individual, na educação, transmissão teórico-prática da cultura, e no amor, que se origina da afetividade, capacidade do indivíduo de sentir-se emocionalmente ligado a outros indivíduos.

O amor é personalizado quando une indivíduos, manifestando-se amor-amizade, amor sexual e amor cósmico, e não personalizado quando une o indivíduo às coisas ou à divindade, podendo concluir-se que é a salvação da humanidade, necessitando os indivíduos de aprender a amar, para o que devem ser assistidos na sua evolução, aprender todas as verdades e cultivar o amor em todas as suas instâncias.

A verdade, o resultado do confronto da ideia com a realidade, individual quando decorre de cada momento da vida de cada indivíduo, coletiva quando decorre da aceitação da verdade individual por um ou mais indivíduos, e absoluta, jamais conhecida e, talvez, incognoscível, o mistério, é o anseio de todo ser humano desde sempre.

Considerações

A verdade é o resultado do confronto da ideia com a realidade. Há a verdade individual, decorrente de cada momento da vida de cada indivíduo, a verdade coletiva, decorrente da aceitação da verdade individual por um ou mais indivíduos, e a verdade absoluta, jamais conhecida e, talvez incognoscível, o mistério. A ideia é o produto do pensamento, a tentativa da mente de configurar a percepção, seja empírica, sobre os seres, seja psicológica, sobre os seres humanos, seja social, sobre os grupos humanos.

A verdade individual se aninha no campo vivencial da mente do indivíduo, o componente básico do todo harmônico que registra sua visão de mundo, afetada pela percepção, entrada em relação com ele, que é feita com emoção, que influi nela, com inteligência, elaboração da percepção, com consciência, o buscar do sentido da conduta, com moralidade, o buscar da razão de ser da conduta, com sexualidade, o buscar do êxtase pela via orgânica, com religiosidade, o buscar do êxtase pela via mística.

A verdade individual, que ocorre a cada momento da vida de cada indivíduo e é registrada no seu campo vivencial, apresenta fases distintas durante a evolução do indivíduo, infância, adolescência e adultez:

A verdade individual infantil, inicialmente inexiste, manifesta-se em seguida, instintiva e mítica e, posteriormente, precariamente objetal, ingênua e permissiva, e, finalmente, reflexiva sobre o concreto.

A verdade individual adolescente é limitada, inicialmente reflexiva sobre o abstrato ao nível da dúvida, e, posteriormente, reflexiva sobre o abstrato ao nível da busca de consenso próprio.

A verdade individual adulta manifesta-se reflexiva nos âmbitos comunitário, humanístico e cósmico.

A verdade coletiva, aceitação da verdade individual pelo grupo, manifesta-se, também, infantil, precária, adolescente, limitada, adulta, evoluída, conforme o nível evolutivo dos seus membros.

Tanto a verdade individual quanto a verdade coletiva estão sujeitas às perturbações no esquema evolutivo do indivíduo, que são as inadaptações, as desadaptações e as fragilidades psíquicas, psicoses.

A verdade ocorre sempre no indivíduo e se comunica com a coletividade. Há a verdade da religião, a verdade da filosofia e a verdade da ciência. A verdade da religião tem-se manifestado ora afirmativa, natural ou revelada, ora negativa, mística. A verdade da filosofia tem-se manifestado ora racional, ora intuitiva, ora fenomenológica. A verdade da ciência tem-se manifestado ora empírica, ora eidética, interpessoal e multipersonal.

A verdade decorre de uma labuta permanente e está sujeita a erros e acertos de cada indivíduo e de cada grupo, conforme o seu estágio evolutivo e sua fragilidade biopsicossociológica, exigindo uma constante revisão de suas premissas para garantir a verdade sobre elas.

A verdade sobre a verdade resulta do exame de cada verdade obtida, levando-se em conta o progresso do indivíduo do qual se origina, no sentido de sua própria evolução, que inclui todas as informações que terá obtido no decorrer do seu amadurecimento.

O indivíduo e o grupo, bastante bem conhecidos na sua estrutura, necessitam ser direcionados na sua dinâmica, para assimilar todo o conhecimento possível sobre o seu viver e o aplicar no seu pensar sobre o seu próprio pensamento e sobre a verdade adquirida no confronto entre sua ideia e a realidade.

A assimilação, pelo indivíduo e pelo grupo, de todo o conhecimento possível sobre o seu viver, ocorre em função da educação que recebem, que visa sua criação racional, único meio para a obtenção da verdade, alicerce da liberdade, que vai promover a criação de uma sociedade que permita que todos, indivíduo e grupo, atinjam a plenitude de sua humanização.

A verdade absoluta, jamais conhecida e, talvez, incognoscível, o mistério, se faz presente, como ideia, na religiosidade, sentimento que decorre da sensação de incompletude do indivíduo em consequência da ignorância sobre a sua origem e o seu destino e a origem e o destino do universo.

O Universo aí está, logo, algo ou alguém o criou. Ele existe, conforme constata o ser humano, seu observador, em decorrência da percepção que tem desta imensidão de espaço-tempo cuja duração dá a sensação de unidade de estrutura dos seus contrários, que se completam num mecanismo em constante movimento.

A história do Universo, na sua precariedade, fala mais da ansiedade do ser humano em o conhecer do que de lídimos conhecimentos comprovadamente adquiridos. O Observador determinou o raio do Universo, inferiu suas fases anteriores, declarou que ele é governado pelas mesmas leis físicas e constantes durante a maior parte de sua extensão e história.

A teoria do Big Bang é o modelo cosmológico prevalente que descreve como o Universo evoluiu desde os primeiros segundos, Tempo de Planck, até hoje, e tem sido observado que ele está se expandindo a uma velocidade acelerada, podendo ela ser invertida e comprimi-lo totalmente no Big Crunch.

A sonda WMAP coletou dados que levaram à determinação da idade do Universo, corrigida pelos dados do satélite Planck, que forneceram também o seu diâmetro. Os modelos heliocêntrico, de Copérnico, e newtoniano descreveram o Sistema Solar. Determinou-se que o Universo subdivide-se em superaglomerados e aglomerados de galáxias, e que o aglomerado onde se encontra a Via Láctea se chama Grupo Local.

Os estudos têm procurado estimar a época do surgimento da Terra e os seus períodos, não havendo evidência disponível do Hadeano, havendo fósseis do Arqueano, quando a vida teria aparecido primeiramente, mas não há um senso comum entre os cientistas sobre o assunto. Do período Proterozóico, quando começou a história da Terra, tem-se fósseis em abundância. O Paleozóico, o Mesozóico e o Cenozóico também foram bem estudados e comprovados, sendo que, no Cenozóico, na etapa inicial do Pleistoceno, surgiu o Homo, e na etapa do Holoceno deu-se toda a história da humanidade.

A história da evolução humana registra que o gênero Homo evoluiu no sul e no leste da África, e denomina as espécies em Homo habilis, Homo erectus, Homo ergaster, Homo heidelbergensis, Homo floresiensis, Homo neanderthalensis e Homo sapiens. Registra, também: os diferentes períodos da humanidade, História Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea; as diferentes formas de governo, Horda, Tribo, Feudo, Império e República; as coordenadas que levam à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos, o quiliasma, a ideia liberal-humanitária, a ideia conservadora e a ideia socialista-comunista.

As contribuições da cultura trouxeram a cogitação básica de que as épocas pré-histórica e histórica ocorrendo em locais diferenciados desde sempre, e até mesmo no momento atual, estão a exigir a compreensão da sua evolução independentemente das ocasiões e dos lugares em que ocorreram. A teologia, decorrente do temor ao desconhecido, se faz afirmativa natural, afirmativa revelada e negativa, mística. A filosofia se faz racional, intuitiva e fenomenológica. A ciência se faz empírica, eidética interpessoal e eidética multipersonal.

O Universo, aí presente, desconhecido na sua origem e no seu destino, mal conhecido na sua pré-história, parcamente conhecido na sua história, tem a seu serviço uma labuta bem sucedida na administração dos seus bens, com uma evolução técnica sem precedentes e sem limites, um precário esforço de educação do caráter e uma lamentável noção de amor em todas as suas instâncias.

O Universo “é”, mas só “é com”, só existe porque o Observador existe, este precário ser humano que vem tentando desde sempre desvendar os seus mistérios sem nenhum sucesso e constatando meias verdades, questionadas sempre, sempre corrigidas, quase sempre abandonadas. O Observador, esta Primeira Pessoa, Eu, encontra-se limitada na sua capacidade de percepção da realidade pela sua condição biopsicossocial.

A verdade, o resultado do confronto com a realidade, seja individual, seja coletiva pela aceitação da individual, decorre de uma labuta permanente, exigindo uma constante revisão de suas premissas para garantir a verdade sobre a verdade delas, decorrente das informações sempre atualizadas pela própria evolução do Observador, o que ocorre em função da educação que recebe.

A verdade sobre o Universo, como é visto atualmente, mostra que a humanidade continua insegura diante dos azares da natureza e que o sentimento de religiosidade, de necessidade de reverenciá-los, permanece presente nas orações e nas persignações em todos os momentos de calamidades naturais, que não têm sido poucos.

De várias formas, continua um permanente anseio de comunicação com a divindade, muito embora se saiba que os argumentos explicativos sobre a origem e o destino do Universo e de sua própria origem e destino, vêm dele mesmo, do Observador, e carecem de fundamento real.

Alguns ainda crêem que as divindades lhes revelam verdades e muitos crêem nestas revelações. Outros afirmam que a contemplação os leva ao êxtase e os une misteriosamente à divindade, no que muitos acreditam, tentando a via do abandono da expressão verbal para obtê-lo.

Assim sendo, observa-se que o ser humano continua temendo o desafio de viver plenamente cada instante, de enfrentar a mutabilidade, e busca uma união permanente com Deus, sentindo-se incapaz de se tornar responsável por ser. A religiosidade, a necessidade de se ligar ao divino, ao mistério, continua inerente ao ser humano e faz dele um eterno refém de sua ignorância e de sua imaturidade.

As instituições religiosas aí estão todas elas, representando suas crenças, seus dogmas, seus rituais, como sempre o fizeram, procurando angariar cada vez mais adeptos, para consolidar a crença na verdade dos seus conceitos, desgostando-se entre si. Os fanáticos temem os que pensam diferentemente deles e se reúnem, belicamente, para destruí-los, acabar com sua influência no mundo.

Os pensadores, de presença cada vez mais obscura, continuam eternizando seus conceitos por todo o planeta. Cada homem procura pautar sua conduta de acordo com a explicação que acalenta no seu espírito a respeito de sua origem, vida e destino, bem como da origem, da vida e do destino da humanidade e do Universo, ora racional, ora intuitiva, ora fenomenologicamente.

Os cientistas continuam aperfeiçoando o controle da qualidade de vida, elaborando, em consequência, técnicas de sustentação do planeta em todas as áreas de manifestação, que permitem a exploração da terra, da água e do ar, quer do ponto de vista do bem, quer do ponto de vista do mal, com o seu proverbial desrespeito à sobrevivência da natureza.

Um cadinho, sempre igual, contém a humanidade num panorama de nascimento, crescimento e morte que garante, praticamente, a mesma subsistência demográfica, com ligeiras mas significativas modificações decorrentes do controle da natalidade, que tem-se mostrado nocivo no oriente.

A proporção de indivíduos nas diferentes etapas evolutivas, infância, adolescência e adultez, e nos diferentes descaminhos do temperamento, psicose, e do caráter, neurose, permanece praticamente a mesma desde que as organizações mundiais se manifestaram a respeito.

A administração dos povos continua de um primarismo a toda prova, predominando o interesse pelo indivíduo apenas como técnico, alguns poucos administradores acordando para o seu lado humano, procurando evitar o desgaste inútil de energia, salientando a necessidade de as empresas servirem aos seus fins específicos de produção sem desservir a comunidade e a cada indivíduo que a constitui.

A educação, no seu aspecto informativo, continua tateando nas suas etapas inferiores, num completo descalabro de currículos inadequados e técnicas de ensino ultrapassadas, prestando um desserviço aos discentes, à custa de gastos financeiros sem nenhum sentido, manifestando alguma melhora nas etapas superiores de preparação de especialistas competentes. No seu aspecto de formação do caráter, a educação é nula em todo o planeta.

Esta a verdade sobre o Universo, esta imensidão na qual se encontra a Terra, habitat da humanidade, uma nave de origem e rumo desconhecidos em cujo bojo os seres humanos procuram sobreviver, desorientados ou mal orientados, num afã verdadeiramente feérico.

A maioria dos indivíduos não busca a verdade sobre o Universo, satisfazendo-se com as orientações recebidas pelos seus mentores, quase sempre religiosos, raramente laicos. A verdade perseguida, ou simplesmente seguida, varia a cada momento do viver individual e coletivo, manifestando uma variedade incalculável e desmedida de conceitos.

O verdadeiro obstáculo à evolução, quer do indivíduo, quer do grupo, são os motivos ocultos subjacentes às decisões individuais e coletivas que impedem a escolha do verdadeiro, do bom, do belo e do santo. Tal obstáculo tem levado o ser humano e o grupo humano a uma série de equívocos que constituem a maior fonte da sua temática habitual, da mais burlesca comédia à mais dramática tragédia.

O indivíduo não exerce o livre pensar pelo medo de um Deus cruel e vingativo, inadmissível, continuando a viver uma religiosidade irracional. Uma vez que a escolha é o ato definitivo do indivíduo e do grupo, e que depende do aparato organo-psíquico de cada um, tem-se que a criança não o possui, o adolescente o possui conturbadamente e só o adulto conta com ele.

O Universo, o cenário onde transitam os pensadores, continua sendo a preocupação primeira dos filósofos que, abandonando as explicações obsoletas, superadas pela ciência, mantêm a ideia de que ele vive e evolui graças a um impulso vital originário, e que a natureza, sua manifestação, é a realidade, que independe do sujeito cognoscente, mas pode alimentar o pensamento, que vai criar a ideia, que vai permitir o conhecimento.

No entanto, os filósofos atuais manifestam conceitos de liberdade de maneira confusa e inconsequente, servindo mais a políticas aguerridas, que desservem à evolução da cultura e retardam a conquista da felicidade, do que orientando os lídimos esforços no sentido da busca do bem e da felicidade a que todos os povos almejam desde sempre.

Os cientistas e os técnicos continuam em pleno progresso, oferecendo suas descobertas para o bem e para o mal da humanidade, conforme o uso que ela faça delas, de acordo com sua versão da verdade, em decorrência da visão que cada um tenha dela e transmita para a totalidade, conforme sua força de persuasão sobre as massas.

Uma perspectiva de religiosidade pode vir a ocorrer de um efetivo ato de fé, esperança e caridade. Fé em que haja um Criador, em decorrência do raciocínio lógico de que, se o Universo aí está, algo ou alguém o criou. Esperança de que estejamos compreendendo nossa destinação no Universo, como um compromisso em nos dedicarmos à nossa subsistência e evolução. Caridade para com aqueles que não têm esta fé e esta esperança.

Uma ordenação do conhecimento filosófico nos oferece os conceitos de que o Universo, cenário onde transitam os filósofos, e a natureza, manifestação dele, fornecem a realidade, fonte do material sobre o qual trabalha a percepção, que permite o pensamento, gerador da ideia, que permite o conhecimento, que decorre da razão, da intuição e da participação, levando à apreensão cada vez mais perfeita do mundo real.

A ciência necessita desta religiosidade e deste conhecimento ordenado, ambos tópicos, reais, para poder aplicar seu progresso no sentido do bem-estar individual e coletivo, na busca da consecução da sua meta, que é a criação da humanidade do ser e da sua felicidade, enquanto lhe for permitido viver.

A humanidade tem sido incapaz de evitar as catástrofes naturais, vistas e previstas, e está fadada a esperar a catástrofe final, desde sempre prevista, a destruição total dela mesma e do Universo como um todo. Enquanto espera o fim, porém, pode, se contar com uma plêiade de adultos plenos para assessorá-la, procurar criar e manter uma cultura alicerçada numa administração humanística, que garanta a educação dos povos e a aprendizagem do amor.

A tão decantada globalização, ideada, mas pouco efetivada, poderá garantir um futuro melhor programado em todos os seus setores, com uma administração para o bem comum que respeite o bem individual, uma educação que garanta a informação, sempre atualizada em todos os sentidos, e a formação, seja em geral, seja do caráter em especial, coroadas ambas, administração e educação, pelo amor de todos para com todos, a chave da felicidade.

Esta a verdade sobre o universo!

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SOBRE SER HUMANO

Ser é tudo que existe, que foi criado. Ser humano é pensar. Pensando, o ser humano raciocina para conhecer. Ele nasce, vive e morre só. Sua solitude o leva à necessidade de se comunicar para sobreviver, pois ele não se basta. De sua peregrinação, do berço ao túmulo, ele é um ser de relação. Sua evolução ocorre em etapas, infância, adolescência e adultez, cada qual com suas características e necessidades próprias.

A infância do ser humano manifesta, em sequência, o surgimento da angústia diante das privações, do medo de que elas ocorram, da raiva de não as poder satisfazer, da farsa ao escamotear que não as sente ou ao procurar meios espúrios de as conseguir satisfazer, e da praticidade, na busca de assimilação do mundo exterior para o conquistar.

A adolescência compreende uma fase preparatória, a pré-adolescência, e a adolescência propriamente dita. A pré-adolescência é uma revisão da fase infantil da raiva, já então com reflexão sobre as suas frustrações, procurando sempre encontrar, fora de si, as causas delas e as culpar e agredir. A adolescência propriamente dita é uma revisão da fase infantil do medo, com reflexão sobre a forma de consolidar a conquista do mundo exterior para se realizar.

A adultez compreende a fase jovem, a fase adulta propriamente dita e a velhice. A adultez jovem é a da realização pessoal, incluindo a procriação, e profissional, em ambiente comunitário. A adultez propriamente dita é a da humanização plena do ser, a consolidação do adquirido nos planos pessoal e profissional. A adultez velha é o viver da plenitude iluminada, cósmica.

Os pais, os educadores e a sociedade como um todo são responsáveis pela assistência e pela orientação das crianças. Nos primeiros meses de existência, quando só existem o bem-estar e a angústia da ausência dele, a criança necessita que lhe sejam garantidos esse bem-estar e a recuperação dele, pois ela só vive o aqui e agora. Nos meses que se seguem, com o surgimento da memória, quando surge também o medo, antecipação da possível angústia, a criança necessita aprender sobre o medo real e o medo imaginário, e ser orientada a proteger-se do primeiro e descartar o segundo. Na sequência, ao surgir a raiva do medo da angústia, a criança necessita aprender que tal reação é natural, pela frustração que sente, mas que a manifestação dela deve ser evitada para que não haja ocorrências negativas para si e para os demais. Quando capaz de escamotear seus sentimentos e de procurar meios espúrios para satisfazer suas necessidades, a criança deve aprender a evitar condutas que a prejudiquem e a terceiros. Quando surge a praticidade, capacidade de satisfazer suas necessidades sem se prejudicar e a terceiros, a criança deve ser auxiliada a encontrar tais meios.

Na adolescência, continua a responsabilidade dos pais, dos educadores e da sociedade em geral. Na pré-adolescência, quando o indivíduo revive a raiva infantil buscando as razões de sua frustração, precisa ele ser orientado no sentido de compreender quais atitudes suas o levaram a tais situações e evitar sua recorrência. Na adolescência propriamente dita, revisão do medo infantil, o indivíduo necessita ser orientado no sentido de distinguir entre os medos reais e os medos criados pela sua imaginação, os quais precisa descartar.

Cabe aos adultos se orientarem e orientarem as crianças e os adolescentes. Para se capacitarem para esta tarefa, necessitam ter pleno conhecimento dos progressos da humanidade, tanto no plano da saúde física e mental quanto da filosofia e da religião. No plano da saúde física, cabe salientar o papel da sexualidade. No plano da filosofia e da religião, cabe uma interpretação das contribuições de todas as gerações sobre os temas.

A sexualidade, presente desde a vida uterina, necessita ser conhecida na sua estrutura e na sua dinâmica. Na infância, o prazer provocado pelo toque da genitália ocorre desde cedo, e a manipulação dela pela própria criança e as carícias das crianças entre si são evidenciadas. Cabe ao adulto promover a higiene da genitália infantil com a mesma naturalidade e privacidade com que trata as secreções auditiva, nasal, anal e urinária. Na fase infantil da praticidade, quando ocorre o surgimento da razão, devem ser programadas as orientações sobre a estrutura e a dinâmica dos sexos, bem como da função de procriação dos mesmos. Na pré-adolescência, os indivíduos devem ser alertados para o risco da gravidez e os meios de a evitar que não prejudiquem a saúde; a inadequação da relação sexual anal para ambos os sexos deve ser também explicada, bem como os inconvenientes sócio-culturais das relações entre pessoas do mesmo sexo. Na adolescência propriamente dita, as orientações devem estender-se às ocorrências previstas do casamento e da procriação. Ao adulto cabe o direito à prática sexual, desde que ele assuma total responsabilidade sobre as consequências dos seus atos, para si e para os eventuais parceiros.

A filosofia, pensar sobre o pensar, nula na infância, tênue na adolescência, só adquire foros de função na adultez. Pensando o seu próprio pensamento, o ser humano ocupa-se em conhecer o espaço circundante, ao qual deve adaptar-se e de onde deve retirar o seu sustento. O pensamento, no ato de conhecer, começa por uma visão de conjunto, intuitiva, do objeto, que prepara o caminho para o raciocínio, sendo que a intuição empírica, do objeto, seja sensível, seja psicológica, serve de ponto de partida para o raciocínio indutivo, que parte do particular para o geral, e a intuição racional serve de ponto de partida para o raciocínio dedutivo, que parte do geral para o particular; a intuição adivinha e o raciocínio prova. O juízo de valor é fundamental para o ser humano e consolida o pensamento ético. Pensando o próprio pensamento, o ser humano conclui que a felicidade é o fim de toda cultura, razão pela qual se torna necessário programar o processamento adequado na transmissão dos conhecimentos e dos valores, a fim de que cada grupo e cada indivíduo atinja, com o desgaste mínimo de energia, o máximo progresso de que for capaz.

A religião, religação do ser humano com o mistério do universo, é inacessível à criança, toscamente conhecida na adolescência e só acessível na adultez. A teologia, estudo das religiões, reflexão sistemática sobre o absoluto enquanto relacionado ao nosso ser, busca a integração de essência e existência, de absoluto finito e infinito, de eternidade e temporalidade. A hipótese habitual nas teologias é a de que um princípio uno, geralmente denominado deus, transformou-se, no seu íntimo, em elementos diversos, coordenados em hierarquias e funções que reforçam esta unidade, conservando o mesmo esquema em todas as individuações menores, donde a afirmação de que todo ser é feito à imagem e semelhança dele, que é sua origem e destino. Cada indivíduo crê naquilo em que necessita crer, conforme o seu momento evolutivo. Não há nenhuma comprovação consistente contra ou a favor de qualquer crença. Pode supor-se uma hierarquia entre as teologias afirmativa natural, à base do conhecimento do mundo, e revelada, dirigida pela luz da fé, e a teologia negativa, mística, que dispensa as palavras e considera o êxtase místico o viver da unificação com o divino. Uma teologia unificada passa: pela prisca teologia, uma sabedoria que vem influenciando a humanidade paralelamente às teologias divulgadas e que se encontra na teosofia, sabedoria de deus, vinda, supostamente, diretamente dele, teologia mística por excelência, da verdade toda; pela teologia dialética, ou teologia da crise, que defende a separação absoluta entre o mundo e deus, que só pode ser franqueada com o auxílio deste, através da revelação; pela teologia radical, o niilismo, que parte da desdivinização e consequente secularização do mundo, e da necessidade da criação de uma fraternidade universal; pela teologia sistemática, que visa à interpretação das formas religiosas como formas culturais, apresentando-se como uma teologia da situação, que se refere ao momento atual histórico e à situação humana como tal.

De crucial importância para o conhecimento do ser humano, é o conceito de psiquismo frágil, psicose. De acordo com a estatística mais recente da Organização Mundial de Saúde – OMS, datada de 1986, somente quatorze por cento da humanidade possuem psiquismo normal, atingem as metas evolutivas esperadas em cada etapa da vida. Os demais, oitenta e seis por cento, apresentam algum tipo e grau de fragilidade psíquica, psicose.

O indivíduo se expressa, em cada momento da sua vida, em função do nível de integração dos seus componentes de temperamento (bioquímico) e de caráter (ético-social), que vão compor a personalidade, sua forma de ser. Ele se torna pessoa em função da transformação do seu viver instintivo, impulsivo, inconsciente, em um viver racional, inteligente, consciente. O psiquismo frágil, psicose, decorre de alguma perturbação do temperamento.

Uma representação gráfica do temperamento pode valer-se de uma circunferência cortada por dois diâmetros, um horizontal, básico, e um vertical, complementar, cuja área total seja dividida de forma que uma circunferência interior concêntrica represente os quatorze por cento dos indivíduos com psiquismo normal, e a área restante, os oitenta e seis por cento dos indivíduos com psiquismo frágil, psicóticos, sendo o ponto central da circunferência um ponto de referência do psiquismo perfeito, inexistente no indivíduo.

Na circunferência prevista, o diâmetro representa, na sua polaridade horizontal: a partir do centro, à esquerda, em direção ao seu limite, a comunicabilidade do indivíduo, introspectiva no caso do psiquismo normal, e de fechamento, esquizofrênica, no caso do psiquismo frágil, psicótico; a partir do centro, à direita, em direção ao seu limite, a comunicabilidade do indivíduo, extrospectiva no caso do psiquismo normal, e de projeção, paranoide, no caso do psiquismo frágil, psicótico.

Na circunferência, o diâmetro vertical representa a coloratura emocional do psiquismo: no sentido ascendente, a partir do centro, a alegria, no espaço da normalidade, e a euforia, mania, no espaço da fragilidade; no sentido descendente, também a partir do centro, a tristeza, no espaço da normalidade, e a depressão, melancolia, no espaço da fragilidade. As tendências emocionais de euforia e de depressão, representadas pelo diâmetro vertical, pressupõem a fragilidade no substrato esquizo-paranoide, representada pelo diâmetro horizontal, podendo não ocorrer em muitos casos de psicose.

Há os casos da esquizofrenia simples e da paranoia simples, ambos limítrofes, em que as variações intermediárias não ocorrem, tornando o quadro excessivamente grave, pois os indivíduos assim acometidos ou se fecham ao convívio, no primeiro caso, ou se comunicam sempre agressivamente com o ambiente, no segundo. Em ambos os casos, os indivíduos, se adequadamente vigiados, e medicados se necessário, podem ser úteis à comunidade, dentro da sua capacidade, antes da débâcle final dos seus destinos.

Pode considerar-se a humanidade, no seu todo, uma entidade em evolução, uma pequena parte dos indivíduos tendo atingido as etapas evolutivas esperadas na adultez, e uma grande parte deles não tendo atingido sequer a adolescência nas suas duas fases. Há que considerar o temperamento e o caráter. O temperamento em desequilíbrio provoca a fragilidade psíquica, psicose, nos três níveis: no da inumanidade, do indivíduo incapaz de formar o seu caráter; no da desumanidade, do indivíduo incapaz de reformular o seu caráter pervertido, voltado para o mal; no da humanidade, do indivíduo capaz de formular o seu caráter voltado para o bem e o manter.

Há os indivíduos com psiquismo normal que não tiveram orientação ético-social para formar o bom caráter, podendo fazê-lo se receberem tal informação. Há os indivíduos com psiquismo frágil, psicose, de duas naturezas: os educáveis, aqueles cujo temperamento, devidamente tratado e medicado se necessário, podem adquirir, reformular e manter o caráter no sentido do bem; os ineducáveis, aqueles que, embora o temperamento receba tratamento adequado, têm incapacidade intrínseca de formular o caráter.

A humanidade é, pois, uma entidade em evolução, em cujo cadinho cada indivíduo atinge o desenvolvimento de que é capaz. Há os psiquicamente normais possuidores de bom caráter, e os que não o possuem espontaneamente, podendo adquiri-lo se devidamente orientados. Há os psiquicamente frágeis, psicóticos, que podem adquirir, reformular e manter um bom caráter, e os que, basicamente, não o podem. A incapacidade de formar o caráter é denominada psicopatia, doença do psiquismo.

A maior parte da humanidade encontra-se na infância psíquica, seja pela ignorância cultural, seja pela fragilidade psíquica, psicose, que a incapacitam de formular seu bom caráter, exigindo atendimento adequado em ambos os casos. Os incapazes de adquirir ou de reformular o caráter, embora altamente prejudiciais à vida comunitária, podem exercer funções específicas úteis, dentro das suas habilidades produtivas.

Um fenômeno universal está ocorrendo na humanidade, com o despontar franco e decisivo da fase da farsa, da escamoteação. Inicialmente angustiados, ou medrosos, ou enraivecidos, muitos indivíduos evoluíram abertamente na busca de meios espúrios para satisfazer suas necessidades; este é um movimento de grande monta para a evolução da humanidade, que está a necessitar de uma regulamentação severa para tal erupção.

Os indivíduos chamados corruptos são os que, com o tempo, evoluíram da angústia, do medo da angústia, e da raiva do medo da angústia, para a farsa, necessitando ser conduzidos para a praticidade, forma infantil de obterem a satisfação de suas necessidades sem se prejudicarem e sem prejudicarem terceiros. Tais indivíduos, os corruptos, fixados na farsa, cumprem o seu papel de pontuar seu exemplo para os angustiados, os medrosos, os irados, e de alertar os governos para a necessidade da educação do povo.

Do ponto de vista evolutivo da humanidade, é necessária uma severa revisão do quadro de valores que norteia a educação. As escolas devem instituir disciplinas para a formação do caráter dos alunos desde cedo, ensinando-os a agir sem se prejudicarem e sem prejudicarem os outros, na linguagem própria da sua idade. O angustiado deve ser retirado da angústia, o medroso deve distinguir o medo real do medo imaginário, o raivoso deve aprender a frear a sua conduta de raiva, o farsante deve aprender a não se prejudicar e a não prejudicar ninguém, o prático deve ser assistido e festejado na sua maneira de ser.

Na sequência: o pré-adolescente deve ser informado sobre a responsabilidade dos seus atos ao invés de procurar “bodes expiatórios” para suas frustrações; o adolescente deve distinguir as explicações lídimas sobre os medos reais e os imaginários; o adulto deve encarar suas responsabilidades pessoais e profissionais, na comunidade e na humanidade como um todo. Para colimar este objetivo, todos os indivíduos devem ser amparados e orientados, de acordo com a sua capacidade, na busca do maior bem-estar possível.

Assim sendo, pode concluir-se que a grande maioria dos indivíduos necessita adquirir, reformular e manter o bom caráter para atingir a categoria de seres humanos. Alguns indivíduos psiquicamente normais possuem o bom caráter espontaneamente. Alguns poucos indivíduos não são capazes de possuir caráter algum. Uma minoria, formada de indivíduos de psiquismo frágil, psicóticos, não é educável. Os indivíduos psiquicamente normais e os indivíduos psiquicamente frágeis, psicóticos, educáveis, podem reformular o caráter. Os adultos, pais, educadores e governantes, têm a tarefa precípua de oferecer os meios para que os indivíduos tratem o seu temperamento e formem o seu bom caráter, para conseguir uma personalidade capaz de garantir-lhes a atuação necessária na busca da felicidade, no nível de que for capaz, seja na aquisição do bem-estar do corpo, seja também na do bem-estar psíquico e do espiritual.

A educação e a reeducação constituem o caminho para a busca da felicidade, que decorre da aquisição da vivência mística, bem-estar do corpo, da experiência mística, bem-estar psíquico, e do êxtase místico, bem-estar espiritual. A educação ocorre na família, na escola e na comunidade em geral. A reeducação, psicoterapia, ocorre na atuação de especialistas, psicoterapeutas.

Esta a verdade sobre ser humano!

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SOBRE O SEXO

O sexo tem sido um verdadeiro tormento na história da humanidade. Inicialmente associado à ideia de proibição, pecado e castigo, foi considerado um mistério que o ser humano não poderia conhecer, pois, com tal conhecimento, se assemelharia a Deus. Assim sendo, conhecer a verdade sobre o prazer por ele propiciado seria a libertação da ignorância, o que era proibido.

Não importa a verdadeira origem do sentido do pecado no caso da transgressão da prática sexual. A verdade é que a humanidade continua escrava da ignorância a respeito desta proibição, cultivando-a e cultivando toda espécie de castigo aos infratores.

Longe vai a gravidez como desculpa, pois a ciência já resolveu, cabalmente, o problema, bastando uma orientação educacional de longo espectro a respeito, o que é facilmente abordável e resolvível por qualquer governo minimamente esclarecido.

Quanto às vantagens e desvantagens da prática sexual em tal ou qual idade e em tal ou qual contexto, cabe aos pais e educadores definirem as regras de conveniência, de acordo com seus padrões de vida, devidamente embasados nas aquisições das ciências biológica, psicológica, social e econômica, tendo em vista os princípios da responsabilidade pessoal e social.

De qualquer forma, todos os indivíduos devem ser informados, de acordo com sua maturidade, sobre a anatomia e a fisiologia da fêmea e do macho humanos, bem como da dinâmica da obtenção do prazer sexual, o orgasmo, e da procriação. É indispensável tal conhecimento, independentemente das regras que devam ser a eles impostas.

O direito à prática sexual deve ser do livre arbítrio de cada indivíduo esclarecido sobre o assunto, desde que ele assuma total responsabilidade sobre as consequências dos seus atos, para si e para os eventuais parceiros, o que exige maturidade, prevista, no mínimo, aos 18 anos de idade, pelos dados das ciências e das civilizações.

O prazer sexual, orgasmo, que pode ser obtido individualmente ou em parceria, é desaconselhável a partir da presença de uma terceira pessoa, pois fere os princípios de respeito a si mesmo e ao parceiro, básico para que uma prática dessa natureza tenha a característica de humanidade que nos é inerente. Pela mesma razão, tornam-se inadmissíveis as participações de objetos e de animais no intercurso sexual, que seria, assim, infantilizado, perdendo a característica de realização nos seus três níveis, físico, psíquico e espiritual.

É bem verdade que nem todos os indivíduos conseguem um intercurso nos seus três níveis, dadas as suas limitações. Seja, porém, qual for o nível possível para cada indivíduo, deve ele ser orientado no sentido de não ferir sua dignidade nem a do parceiro. Assim sendo, regras rígidas de higiene e de respeito devem ser ensinadas a todos os indivíduos.

A presença de um parceiro do sexo oposto ou do mesmo sexo é de somenos importância, pois o orgasmo será obtido de qualquer forma. A impossibilidade de procriação no caso de parceiros do mesmo sexo é largamente resolvida pela ciência. Por outro lado, a prática da relação anal, sintomática de imaturidade, pode ser resolvida, no quesito higiene, pela assistência de um proctologista.

Enquanto a humanidade considerar o prazer sexual um pecado, continuará sofrendo por ignorância, pois só a verdade liberta, e o sexo é a fonte natural de saúde neurológica, sem os efeitos colaterais dos medicamentos em voga e da utilização de procedimentos elétricos, favorecendo o equilíbrio do organismo como um todo. Faz-se, pois, necessária uma verdadeira revisão dos conceitos filosóficos e religiosos dos povos sobre o tema.

Uma grande desmistificação do assunto começa com a linguagem utilizada pelo povo em geral, pois a atração sexual de um indivíduo pelo outro não se explica em termos de atração pelo mesmo sexo ou pelo sexo oposto. No sentido limitativo de escolha do parceiro, qualquer indivíduo pode sentir-se atraído por um homem ou por uma mulher, o conceito de particularismo pertencendo à ignorância.

Erros de linguagem têm criado sérios embaraços na compreensão da sexualidade e necessitam ser corrigidos. Um erro comum é considerar-se o indivíduo como homo ou heterossexual. Na realidade, o indivíduo é macho ou fêmea; há raros casos de anomalias na genitália, e casos mais raros ainda da total ausência dela. Não cabe dizer que um indivíduo seja homo ou heterossexual; a relação dele com um indivíduo do mesmo sexo ou do sexo oposto é que sofre tal conotação, podendo ela, a qualquer momento ser modificada.

O sofrimento humano em face do tema sexo seria cômico, se não se tivesse tornado dramático. Não há patologia sexual no sentido da escolha do parceiro do mesmo sexo ou do sexo oposto. A atração sexual por determinado indivíduo em detrimento dos demais ainda não foi explicada até hoje pela ciência. Em face da situação em que se encontra a ciência, há que considerar que tal atração é desconhecida nas suas origens.

Uma vez que a meta do ser humano é a felicidade, há que considerar também que, em face da atração que sinta por alguém, cabe-lhe, e exclusivamente a ele, decidir se vai manifestar o seu interesse pelo indivíduo em questão, e em que termos, pesando as vantagens e desvantagens de sua decisão para o seu plano de vida. Poderá viver o intercurso simplesmente no plano físico, ou também psíquico, afetivo e, mais ainda, espiritual, místico.

O plano físico da sexualidade consiste, apenas, no prazer do corpo, o simples orgasmo, o que está ao alcance de qualquer indivíduo, e pode ser vivido de modo sadio se houver um consenso de ambas as partes. O plano psíquico, afetivo, da sexualidade, consiste em um maior envolvimento, emocional, com a responsabilidade inerente a ele. O plano espiritual, místico, da sexualidade, compreende a comunhão com o mistério do mundo, que leva ao êxtase.

A vida sexual tem sido muito mal interpretada e confundida com os desvarios do temperamento e do caráter. A prática sexual, em todos os seus níveis, é absolutamente simples e sadia. Qualquer complicador deve ter sua origem pesquisada no âmbito da psiquiatria, que explica o temperamento, e da psicologia, que explica o caráter, ou seja, no âmbito do organismo e da educação, respectivamente.

O Boletim de Psiquiatria do ano de 1986 divulgou os dados estatísticos da Organização Mundial de Saúde – OMS – que noticiaram que 86% dos indivíduos são portadores de algum tipo e grau de psicose, que decorre de deficiências no substrato orgânico do cérebro. Somando a esta informação o fato de que a maioria dos indivíduos não tem oportunidade de formar o seu caráter, por falta de berço e/ou de escolaridade, é aí que se deve buscar as razões dos conflitos dos indivíduos com os seus parceiros sexuais, e não no sexo em si.

Assim sendo, pode afirmar-se que a prática sexual é um bem, desde que embasada no conhecimento da sua anatomia e da sua fisiologia, que vai garantir a responsabilidade sobre todas as suas consequências. O sexo assim vivido, expurgado de todo tipo de ignorância, que gera o preconceito, é uma dádiva divina, uma porta para a felicidade.

Todos os problemas trazidos de roldão para a humanidade, sejam originados do temperamento ou do caráter dos indivíduos, ou de ambos, são factíveis de controle por meio de tratamento médico e da educação. É necessário um movimento coordenado da família e da escola para resolver os problemas das neuroses e das psicoses, que se valem da sexualidade e a ela imputam inadequadamente, a responsabilidade pelos seus desatinos.

Um homem e uma mulher, sadiamente assistidos no seu temperamento e no seu caráter, jamais farão mal a si mesmos e a seus parceiros sexuais, sejam do mesmo sexo, sejam do sexo oposto, seja em que nível vivam sua sexualidade. Os problemas sociais decorrentes da ocorrência de parcerias do mesmo sexo devem ser amplamente examinados e levados a bom termo, respeitando os indivíduos sem ferir os interesses da sociedade.

O sexo vivido plenamente, no plano psíquico e no espiritual, associa-se ao amor sensual, Eros, ao amor amizade, Filia, e ao amor místico, Ágape. Essa plenitude decorre da maturação do indivíduo, tornado pessoa pelo surgimento da consciência, perpassando a adultez como um todo. A evolução do indivíduo fica na dependência da atuação da sua família e do sistema educacional que lhe é oferecido.

Há que considerar os fatos lamentáveis das doenças mentais, que oferecem um panorama distorcido, com o uso do sexo para as suas manifestações. Eles precisam ser compreendidos na sua essência, e não como problemas sexuais, pois não há problemas sexuais em si, do ponto de vista psicológico. Todas as manifestações sexuais dos indivíduos mentalmente doentes estão presas à ausência de caráter, decorrente de deficiências no substrato orgânico do cérebro, e a perturbações do temperamento, pelo mesmo motivo.

No caso da pedofilia, o que ocorre é um retardo no desenvolvimento emocional, que faz com que o indivíduo adulto procure parceiros no seu nível emocional infantil. Não há cura, pois ele não é capaz de compreender sua inadequação. Pode também ocorrer que, adultos nos demais aspectos, não tenham formado o seu caráter, e lhe sejam indiferentes os objetos que utilizem para o seu prazer sexual, procurando também crianças, na sua indiscriminação.

Há o caso especial do indivíduo denominado “bicha”. Trata-se de um indivíduo que, com baixíssimo nível de autoestima (esquizofrenia), decide fazer-se de fêmea para viver sua identificação com a figura materna e, assim, fugir das responsabilidades sociais atribuídas aos machos. Mas nem todo “bicha” tem baixíssima autoestima, e nem todo indivíduo com baixíssima autoestima é “bicha”. O indicador é a necessidade de fazer-se fêmea para fugir das responsabilidades atribuídas aos machos pela sociedade.

Há também, o caso especial da mulher denominada “sapatão”. Inversamente ao “bicha”, ela apresenta altíssimo nível de autoestima (paranoia) e decide fugir da condição de fêmea, que lhe parece depreciativa, para viver sua identificação com a figura paterna e, assim, fugir das responsabilidades sociais atribuídas às fêmeas. Mas nem todo “sapatão” tem altíssima autoestima, e nem toda mulher que tem altíssima autoestima é “sapatão”. O indicador é a necessidade de fazer-se macho para fugir das responsabilidades atribuídas às fêmeas pela sociedade.

Há, pois, que considerar a distinção importante entre dois homens que fazem sexo sadiamente e dois homens que o fazem por um ter baixíssima autoestima e o outro ter autoestima altíssima. Há que considerar também a distinção importante entre duas mulheres que fazem sexo sadiamente e duas mulheres que o fazem por uma ter baixíssima autoestima e outra a ter em altíssimo nível. No caso de pares assim formados, podem ocorrer todos os conflitos previstos na psiquiatria, sejam eles de indivíduos do mesmo sexo ou do sexo oposto.

A justeza de linguagem é um fator importante na compreensão dos tipos de indivíduos, no quesito comportamento sexual. Os termos “bicha” e “sapatão” são desrespeitosos para com indivíduos que são vítimas de distúrbios mentais, merecendo respeito e assistência psiquiátrica e psicológica adequadas.

Igualmente lamentável é o uso das denominações “gay” e “lésbica”. “Gay” é um indivíduo alegre, irresponsável, denominação que não se adequa a todos aqueles que têm parceria sexual com indivíduos do mesmo sexo. “Lésbica” é, na patologia sexual de fundo neurológico, a mulher viciada em masturbação, termo que não se coaduna com todas as mulheres que têm parceria com outras mulheres. Etimologicamente, lésbica é a mulher que nasceu em Lesbos, ilha grega, para onde foram deportadas as mulheres espartanas abandonadas pelos maridos guerreiros, que viviam em campanha, mulheres essas que passaram a viver sexualmente entre si.

A verdade sobre o sexo deve ser revelada sem temor. A ignorância a respeito dele é uma erva daninha que está perturbando o prazer sexual dos indivíduos desinformados. Associar sexo a pecado é um desrespeito à função do nosso corpo que nos leva a prazeres inauditos. Acreditar em pecado é a maior blasfêmia que se pode cometer contra a existência de um possível Criador, pois todo ser humano age sempre da melhor forma possível, buscando atingir sua meta, a felicidade.

Esta a verdade sobre o sexo!

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SOBRE A ADMINISTRAÇÃO

Preliminares

Uma empresa que pretenda objetivar, não apenas uma finalidade específica, como a produção de bens de consumo ou a preparação de profissionais de determinados ramos, mas também a finalidade de transformar qualquer empresa comum em uma empresa global, aquela que permite, inclusive, contribuir para a criação racional do próprio homem, necessita passar por uma intervenção psicossociológica que vise sua preparação para este mistér.

Necessário se faz levantar um histórico o mais conciso e, ao mesmo tempo, o mais completo possível, a respeito do que tem sido considerada, através dos tempos, uma administração. A cronologia nos mostra a Pré-história, com suas Idades, e a História, também com suas Idades. As formas de governo, no decorrer da História, registraram os diversos regimes. As contribuições da cultura registraram os esforços dos teólogos, dos filósofos e dos cientistas para explicar a evolução do ser humano e da humanidade como um todo. As coordenadas que levam à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos concluíram que os indivíduos é que determinam o pensar coletivo e as tendências dele.

A intervenção psicossociológica, com base na Teoria e na Técnica Psicoterapêuticas Analítico-fenomenológico-existenciais, promove a transformação de uma empresa comum em uma empresa global, garantindo a sustentação de um relacionamento sadio entre seus membros, promovendo um clima de harmonia em que, sem prejuízo dos fins a que se destina, promova a evolução da racionalidade deles. Tal intervenção exige uma estrutura especial da empresa, com base em premissas estabelecidas para sua elaboração, quais sejam organização formal adequada, direção democrática, operacionalização de todas as atividades, avaliação da produtividade, ambiente adequado, chefes especializados. Exige, também, uma dinâmica especial, com uma programação completa de divulgação, sob a direção de especialistas nas atividades empresariais, sempre acompanhados por especialistas em humanização, com vistas a clarificar suas responsabilidades trabalhistas e humanistas.

Uma vez estabelecidas a estrutura e a dinâmica necessárias, pode efetivar-se a formação de grupos psicoterapêuticos, nos termos da Técnica citada, por meio da atuação de especialistas em humanização, com número de membros definido, ambiente adequado, entrevistas iniciais, duração estabelecida e sistematização constando de uma primeira sessão e uma última sessão padronizadas, com sessões intermediárias obedecendo a evolução do grupo em uma cronologia paralela a da evolução do indivíduo, ou seja, a infância, a adolescência e a adultez.

Uma visão panorâmica mostra o surgimento e a evolução do conceito de administração no bojo da história da humanidade, no confronto dos diferentes aspectos da cultura, religião, filosofia e ciência. Neste cadinho, surgem os respingos de interesse pela humanização dos indivíduos nas contribuições dos administradores mais notórios, crescendo com o passar dos tempos, até o surgimento da proposta de elaboração da intervenção psicossociológica para transformar as empresas comuns em empresas globais, humanizadoras. O valor heurístico deste empreendimento é indiscutível, como se pode atestar.

A História da Administração

A transformação de uma empresa comum, aquela que se ocupa apenas com a produção de bens de consumo e a preparação de profissionais a ela direcionados, em uma empresa total, global, aquela que se ocupa também da criação racional do próprio homem, necessita da clarificação dos procedimentos necessários para este fim. O primeiro deles é o levantamento da história da sua evolução o mais conciso e, ao mesmo tempo, o mais completo possível, e os tipos e graus registrados, bem como os modelos deles decorrentes, tipos e graus estes existentes em épocas e locais diferentes e consistência estatística variada.

A Cronologia

A História, conhecimento adquirido mediante investigação e relato de fatos em uma forma ordenada cronologicamente, foi precedida pela Pré-história, período em que a humanidade não contava com a escrita e os meios de investigação dos estudiosos se restringiram ao exame dos monumentos, das artes, das armas e dos túmulos. A Pré-história, o período entre a aurora dos tempos e a formação das sociedades, tendo, na ausência de qualquer documento escrito, valido-se os estudiosos apenas de documentos arqueológicos, não passando do exame dos traços gerais dos costumes e das civilizações, foi classificada, por ordem de antiguidade, em Idades. A Idade da Pedra foi denominada, inicialmente, Paleolítica, ou da Pedra Lascada, e, depois, Neolítica, ou Pedra Polida. As Idades dos Metais foram, pela ordem, a do Cobre, a do Bronze e a do Ferro. As transições das Idades ocorreram, de uma a outra, por efeito das diferenças de civilização existentes entre povos que se achavam em relação mútua, sendo que, no momento atual, certos povos se encontram ainda em uma ou outra dessas idades.

A História começou em datas variadas nas diferentes partes do mundo, e seus registros têm pretendido constituir a ciência dos acontecimentos e dos fatos que se desenrolaram através dos tempos, buscando determinar as leis que regem o curso deles. Convencionou-se denominar os diferentes períodos da história da humanidade em História Antiga, Idade Média, Idade Moderna e Idade Contemporânea.

A História Antiga, também denominada Antiguidade, registrou a existência dos mais antigos povos do Oriente e do Ocidente: Arianos, Egípcios, Hebreus, Caldeus Fenícios, Assírios, Medos, Persas, Gregos, Romanos, Celtas, etc. Os Fenícios criaram o alfabeto, do qual se originaram todos os outros, exceto o dos Chineses. Convencionou-se considerar o fim dessa era em 395, quando Teodósio dividiu o Império Greco-Romano entre seus dois filhos.

A Idade Média registrou, desde então, a conversão do mundo romano ao Cristianismo, a invasão dos Bárbaros no Ocidente, a queda do Império Romano, a luta dos Cristãos contra o Islamismo, a organização do regime feudal, as transformações sociais e políticas que originaram, no século XV, na Europa, a formação de grandes Estados distintos e independentes, a tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453.

A Idade Moderna registrou, desde então, o estabelecimento dos Turcos na Europa Oriental, com a tomada de Constantinopla. A cronologia dela não se aplica igualmente a todos os países, pois a Idade Média, cuja civilização manifestou-se Cristã e Feudal, foi terminando à medida que a dominação da Igreja Romana foi sendo abalada pelo Renascimento e pela Reforma, quando terminou o poder feudal. O período dos tempos modernos começou com a invenção da imprensa, que veio divulgar a escrita por todo o mundo, e com o descobrimento da América, eventos esses que mudaram a fase do mundo. Produziu-se um movimento intelectual considerável no sentido do livre-exame da cultura, que provocou o Renascimento e a Reforma. Do Renascimento emanaram obras primas artísticas e literárias. A Reforma desencadeou lutas fratricidas e guerras religiosas. No fim do século XIII, produziu-se uma reação contra a intolerância e contra o absolutismo, que precipitou o advento da Revolução Francesa, a qual inaugurou um novo regime, no qual os direitos civis e políticos e a liberdade individual passaram a ser respeitados. Esse período terminou com a queda do Império Napoleônico em Waterloo, em 1815.

A Idade Contemporânea registrou o princípio democrático, com a política das nacionalidades, que sucedeu à das rivalidades dinásticas feudal e monárquica, regime esse que, por sua vez, sofreu, depois da guerra de 1914-1918, uma grave crise. As ditaduras mais ou menos confessadas que se estabeleceram em vários países da Europa e os ataques que tem sofrido a instituição parlamentar na França e nos Estados Unidos mostram a evolução das ideias até 1939. Depois dessa época, a instituição democrática, sob várias formas, vem-se afirmando novamente.

As Formas de Governo

No decorrer da História, levando-se sempre em conta que, em várias partes do mundo, as Idades descritas têm-se manifestado em ocasiões diferentes, e que, até o momento atual algumas partes dele manifestam ainda características até mesmo das mais remotas épocas, há que considerar que as formas de governo, ato ou efeito de dirigir, têm-se manifestado diferentemente, podendo, por ordem de surgimento, considerarem-se os diversos regimes, conjunto de regras impostas, quais sejam o das Hordas, o das Tribos, o dos Feudos, o dos Impérios e o das Repúblicas.

A Horda, do Turco, Ordu, acampamento, era a denominação dada a agrupamentos nômades da Tartária, que trafegavam em grande parte da Ásia, na Mongólia, na Manchúria, no Turquestão, no Afeganistão, na Sibéria, principalmente. Constituíam-se de povos errantes, guerrilheiros, indisciplinados e malfazejos.

A Tribo constituía-se de um aglomerado de famílias ou de povos, sob a autoridade de um chefe, vivendo na mesma região, provindo de um tronco comum, formando uma sociedade rudimentar.

O Feudo se constituía de uma concessão territorial, por um suserano a um vassalo, ambos nobres, mediante certas obrigações, podendo ocorrer duas instituições, quais sejam o benefício e a recomendação; o benefício era concedido como recompensa por algum serviço prestado, e que foi, primeiramente, vitalícia e, posteriormente hereditária; a recomendação ocorria quando o mais fraco se entregava ao mais poderoso em troca de proteção. O centro de vários feudos denominava-se reinado e o rei era o suserano dos suseranos. As causas que modificaram o regime feudal foram várias: as Cruzadas, que afastaram os Senhores dos seus feudos, que os vendiam para angariar fundos para suas expedições; a criação do serviço militar em 1439, instituindo os exércitos permanentes; o aumento do poder real com o desempossamento dos Senhores dos feudos; o renascimento dos estudos de direito romano desenvolvendo argumentos favoráveis à centralização administrativa, inicialmente dissolvendo o poder político dos feudos, com Luiz IX e Richelieu, e, posteriormente, em 1789, minimizando o seu aspecto social.

O Império foi o nome dado a vários grandes Estados. O Império Romano vigorou desde o século 29 a.C, com Augusto, até o século 395 d.C, e com Teodósio, que o dividiu entre seus dois filhos, denominando-os Império Romano e Império Grego. O segundo Império do Ocidente vigorou desde Carlos Magno até Francisco II, em 1806, chamado, depois do século XIV, de Santo Império Romano-Germânico. O Império Latino vigorou de 1204 a 1261, com os Cruzados. O Império Alemão, com Guilherme I da Prússia, vigorou de 1871 até 1949. O Império da Áustria, quando Francisco II se separou da Alemanha e se denominou Francisco I, vigorou de 1804 até 1918, com Carlos V. O Império Francês: o Primeiro Império, com Napoleão, vigorou de 1804 a 1815, e o Segundo Império, com Napoleão III, vigorou de 1852 a 1870. O Império das Índias, em 1876, unido à Coroa da Inglaterra. O Império Português reunindo Portugal e as Ilhas Adjacentes (arquipélagos dos Açores e da Madeira) e o Ultramar (Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Macau, Timor). O Império do Meio, ou Celeste Império, compreendendo a China desde o século III a.C, até 1912, quando se transformou em República. O Império do Sol Nascente, o Japão, que recebeu várias denominações, sete ao todo, desde o início até 1867, quando a constituição pôs fim ao feudalismo.

A República, coisa pública, governo de interesses de todos, tem a soberania do povo por intermédio de delegados eleitos por ele, e com mandato por um certo tempo. Vários filósofos escreveram obras de grande porte sobre o assunto. Destacam-se: Platão, com “A República”; Cícero, com “Da República”; Bodin, precursor de Montesquieu, com “O Tratado da República”; Tommaso Campanella, com “A Cidade do Sol”; Thomas Hobbes, com “O Leviatã”; Tomas Morus, com “Utopia”.

Como se pode observar, as formas de governo foram evoluindo, umas adentrando outras, como no caso das dinastias, antes festejadas e depois rechaçadas, e das monarquias, como simples passagem do regime feudal para o regime imperial, acenando do absolutismo para o constitucionalismo, vislumbrando as repúblicas. As formas de governo, condicionadas pelas filosofias de vida dos grupos dominantes, apontam, em épocas diferentes e em lugares vários, os frutos da cultura que alavancaram a civilização para parâmetros de vida cada vez mais elevados.

As Contribuições da Cultura

A evolução das sociedades registrou uma trilogia do pensamento decorrente dos esforços dos teólogos, dos filósofos e dos cientistas na busca de compreender o universo e o sentido da presença do ser humano neste universo. A teologia se fez afirmativa natural, afirmativa revelada e negativa, mística. A filosofia se fez racional, intuitiva e fenomenológica. A ciência se fez empírica, eidética interpessoal e eidética multipersonal. Tais contribuições inspiraram a criação e o funcionamento das instituições que foram surgindo através dos tempos.

A teologia surgiu do temor ao desconhecido, que deu origem a um sentimento de religiosidade, que pretendeu explicar o mundo e a presença da humanidade no mundo a partir das forças da natureza, afirmativa natural, a partir da crença no saber revelado a alguns indivíduos, afirmativa revelada, e a partir da capacidade de alguns indivíduos de sentirem a presença de Deus sem a necessidade de palavras, negativa, mística. Nenhuma explicação da teologia tem fundamento na realidade; são todas utópicas. Cada indivíduo crê no que necessita crer. A crença em um Deus vingativo e cruel é um desserviço à humanidade.

A filosofia, amor ao saber, na busca de explicações sobre o mundo e sobre a presença da humanidade no mundo, se fez: racional, do saber sobre o ser humano e sobre o grupo humano à base da razão; intuitiva, do saber sobre o ser humano e sobre o grupo humano à base da intuição; fenomenológica, do saber sobre o ser humano e sobre o grupo humano à base da participação, da busca de síntese das abordagens racional e intuitiva. O conhecimento filosófico não oferece nenhuma teoria consistente, nenhuma conclusão consequente dos princípios postos que juntem algo a um saber inicial. Falta uma taxionomia, uma ordenação e uma classificação adequadas dos termos utilizados pelos diversos pensadores, uma metalinguagem.

A ciência, o conhecimento do mundo, do ser humano e do grupo humano, manifesta-se nos seus diferentes ramos: a ciência empírica, biologia; a ciência eidética interpessoal, psicologia; a ciência eidética multipersonal, sociologia. A ciência empírica ensina que o biológico contém as condições necessárias para a vida psíquica. A ciência eidética interpessoal ensina que há uma evolução do indivíduo, infância, adolescência, adultez, havendo, também, perturbações neste esquema. A ciência eidética multipersonal ensina que o grupo humano também manifesta uma evolução, dependência, contradependência e interdependência, havendo também perturbações, decorrentes das perturbações dos seus membros.

Como se pode observar, as contribuições da cultura, quer das teologias, quer das filosofias, quer das ciências, trouxeram, a cogitação básica de que as épocas pré-históricas e históricas ocorrendo em locais diferenciados desde sempre, e até mesmo no momento atual, estão a exigir a compreensão da sua evolução independentemente das ocasiões e dos lugares em que ocorreu. Considerando a evolução dos grupos humanos “de per si” e buscando o seu denominador comum, tornou-se necessário conceituar a pré-história e a história em si mesmas, e as formas de governo que nelas atuaram, numa sequência inteligível. A exposição que se segue visa tornar possível uma avaliação dos fatos dentro desta perspectiva, que vai levar à compreensão dos conceitos atuais da sociologia, ciência eidética multipersonal, sobre o tema em questão.

As Coordenadas

Em busca das coordenadas que levem à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos, há que considerar que os indivíduos que formam os grupos é que determinam o pensar coletivo. Nunca é por acaso que determinadas tendências aparecem em determinados momentos do processo social. As mais significativas dessas tendências são o quiliasma, a ideia liberal-humanitária, a ideia conservadora e a ideia socialista-comunista.

O quiliasma é a irrupção, no presente, do que anteriormente quedava interiorizado. Ele toma posse do mundo exterior e o transforma. Os extratos oprimidos da sociedade do século XVI irromperam e deram origem à política, participação mais ou menos consciente de todos eles na consecução de alguma finalidade. O quiliasta espera uma comunhão com o presente imediato; ele só se satisfaz no Kairós, oportunidade, o tempo realizado, o momento do tempo invadido pela realidade. A duração absolutamente não existe para a mente quiliástica. A experiência quiliástica santifica o momento incidental, é inseparável da espiritualidade.

A ideia liberal-humanitária é um grito de guerra contra os extratos da sociedade cujo poder advém da sua posição herdada da ordem existente. Manifesta-se buscando o caminho do progresso por meio das revoluções e por feitos externos em geral, e o caminho da constituição interna do ser humano e das suas transformações. A atitude fundamental do liberal-humanitário caracteriza-se por uma aceitação positiva da cultura e pela atribuição de uma tonalidade ética aos assuntos humanos. O liberal-humanitário deslocou as bases da experiência do plano extático para um plano educacional, e a duração passou a ser um instrumento na busca do progresso.

A ideia conservadora é a de que tudo o que existe possui um valor positivo e nominal, simplesmente porque veio lenta e gradativamente a existir. O passado é experimentado como virtualmente presente. A liberdade interna, em seu objetivo temporal indefinido, deve subordinar-se ao código moral já definido. O pensamento inclina-se a aceitar o ambiente total na concretude acidental com que se dá, como se fosse a ordem adequada do mundo, a ser aceita de antemão e sem apresentar nenhum problema. As ideias das classes oponentes são consideradas utópicas, ameaças à ordem posta, e devem ser combatidas.

A ideia socialista-comunista representa, ao mesmo tempo, um compromisso e uma nova criação, baseada em uma síntese interna das várias ideias em questão. Procura superar completamente a oposição interna do anarquismo em sua forma mais extrema. Radicaliza o liberalismo, a ideia. Seu antagonista conservador é considerado menos ameaçador, e se dispõe a aprender muito com ele. Da mesma forma que o liberalismo, coloca o domínio da liberdade e da igualdade em um ponto do futuro especificamente determinado, o da derrocada do capitalismo. Ressalta a glorificação dos aspectos materiais da existência.

Nenhuma das formas destas forças dinâmicas, que emergem em uma sequência histórica, jamais desaparece por completo, e, em época alguma, qualquer delas é incontestavelmente dominante. O esforço visando a um objetivo e a possibilidade, intimamente relacionada a ele, de uma perspectiva ampla, desintegram-se, no conselho consultivo parlamentar e no movimento sindical, em um mero conjunto de orientações para dominar um vasto número de detalhes concretos, com vistas a assumir uma posição política quanto a eles. Tal otimização leva à necessidade de uma síntese. Constitui uma característica dos nossos dias que os limites dos pontos de vista parciais se tenham revelado evidentes, embora os grupos das extremas pretendam, cada um separadamente, deter a perspectiva total.

Uma perspectiva “lato sensu” em busca das coordenadas que levem à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos é oferecida pela história da administração. O desenvolvimento da indústria e a crescente separação entre propriedade e administração levaram ao aparecimento da figura do administrador. As grandes etapas da história da administração apontam para a missão histórica do administrador, que consistiu no planejamento e na direção dos recursos para atender a flutuação, a curto e longo prazo, do mercado, que compreende quatro fases: a expansão inicial e acumulação de recursos; a racionalização do uso dos recursos; a expansão subsequente para novos mercados e produtos; o desenvolvimento de uma nova estrutura, desenho da organização, a forma que ela tomou para integrar seus recursos, para desenvolver a estratégia, o plano de alocação destes recursos a uma demanda antecipada.

Nos economistas clássicos liberais do século XIX encontramos as origens do pensamento administrativo. Adam Smith, já em 1776, mencionava o princípio de especialização dos operários, alguns conceitos de controle e de remuneração e a necessidade de ordem, economia e atenção. Seguiram-se: fidelidade; zelo; autoconfiança; prontidão; incomum quantidade de previsão e cálculo; perseverança e constância de propósitos; capacidade de superintender os esforços dos outros; discrição e decisão de caráter; muito conhecimento, tanto do estado do mundo em geral como dos detalhes de empregos e empreendimentos particulares. O planejamento foi considerado a função mais importante. O treinamento também recebeu boa acolhida. A organização foi concebida em termos amplos. Falou-se no princípio da unidade de comando, da especialização e da divisão do trabalho; falou-se, também, nos incentivos e nos tipos de remuneração.

O transcendentalismo postulava a crença no progresso da humanidade através da disciplina intelectual e moral do homem e através do progresso da ciência e da tecnologia. A estrada de ferro apareceu como a primeira organização comercial moderna em larga escala. A ciência da administração fundou-se em três princípios: organização, comunicação e informação. O organograma foi aperfeiçoado: na base constava o fundador, no tronco o presidente, nos galhos principais os superintendentes e nos ramos menores os chefes de seções e de unidades. Um sistema de relatórios, diários, semanais e mensais, foi instituído. Surgiu o controle do desempenho. Surgiram as greves, como reações ao controle. Surgiu também, o hábito da publicação de balanços e de informações financeiras. As relações entre a empresa e a sociedade foram definidas em 1860 em termos de prestação de contas ao público, supostamente a sentinela vigilante do bem-estar social.

 

 

Os denominados clássicos da administração assim se expressaram:

F. W. Taylor declarou que o principal objetivo da Administração Científica consiste em assegurar a máxima prosperidade para o empregador junto com a máxima prosperidade para o empregado. Fazem-se necessários o desenvolvimento de uma ciência do trabalho, a seleção e o desenvolvimento científicos do empregado, a combinação da ciência do trabalho com a seleção do pessoal e a cooperação entre a administração e os empregados. É fundamental o conceito de especialização.

H. Emerson advogou o uso de padrões que reduzam o esforço humano.

H. L. Gantt tinha como interesse principal o ser humano. Concebeu os bônus de produção e elaborou um gráfico de controle com planejamento à base do tempo.

F. Gilbreth tinha como escopo do seu trabalho compreender o aspecto humano da organização com a intenção de eliminar o esforço que pode ser evitado. Considerava que os sindicatos seriam sempre necessários para vigiar as condições de trabalho e empreender negociações.

H. Fayol voltou-se para a administração pública. Salientou a igualdade entre autoridade e responsabilidade, a unidade de comando e a unidade de direção como princípios dos mais importantes. Considerou importante a utilização do método experimental: observar, recolher, classificar e interpretar os fatos.

O. Sheldon teve como premissa que um negócio existe para servir à comunidade, e que é necessária uma ciência da administração para formar um código para a direção da indústria.

O. Tead divulgou a importância da compreensão da natureza humana para se compreender o comportamento administrativo. Tentou mostrar a relação entre os temores e ambições e as realizações dos operários, e que o empregado trabalha pela possibilidade de realizar o próprio desenvolvimento.

J. D. Mooney procurou nos compêndios de História toda a informação disponível sobre a administração e a organização, desde Aristóteles, Alexandre Magno, César, a Igreja Católica e os exércitos tradicionais, concluindo que as estruturas históricas de organização tinham algo em comum, o princípio de autoridade, que concebia toda organização como uma hierarquia em que superiores eram obedecidos pelos subordinados.

L. F. Urwick foi um importante sistematizador e divulgador da teoria administrativa da Escola Clássica.

A Escola das Relações Humanas originou-se dos estudos de G.E.Mayo, que só tiveram popularidade nos Estados Unidos a partir de 1940, e, no Brasil, só se tornaram populares depois de 1950. Ele concluiu que o trabalho é uma atividade grupal e que o comportamento em grupo pode influir neles.

A Escola do Sistema Social descreveu o fenômeno da burocracia. P. Selznick comparou o estudo das instituições com o estudo clínico da personalidade. A.W. Gouldner estudou as posições alternativas da burocracia, punitiva e representativa, e concluiu que ela é, em ambos os casos, uma forma de se conseguirem as coisas sem levar em consideração as pessoas. Já P.Blau e R.Scott, com Bendix, concluíram que é necessário um equilíbrio entre a obediência e a iniciativa, e que precisamos sobreviver para podermos preservar nossas instituições democráticas, mas não às custas de perdermos nossa liberdade.

A Escola Behaviorista, do comportamento, com Kurt Levin, estudou a dinâmica de grupo como um meio para medir a atmosfera dele e educá-lo para a democracia, identificando as características e necessidades humanas, e treinando as atitudes necessárias para sua evolução. G.Homans descobriu que há mútua interação entre as atividades e os sentimentos. Considerando o lado humano da empresa, D.Mc.Gregor constatou a necessidade de todo indivíduo de se realizar. R.Likert considerou que as forças motivacionais causam o comportamento, que pode ser sempre melhorado. W.Bennis definiu as condições para esta melhoria, que são: um esforço em comum, um espírito de investigação e uma relação voluntária e crescente com a interação entre os participantes, com igual oportunidade para influírem uns sobre os outros.

A Ideologia Administrativa teve, como precursor, J.Burnhan, que afirmou o conceito de que o desaparecimento do capitalismo é inevitável e o futuro é das máquinas eficientes. R.Bendix propôs que os operários fossem seus próprios donos. W.H.Whyte Jr. defendeu a tese de que o homem deve lutar contra a organização e admitir que há um conflito entre ele e a sociedade.

A Escola Clássica, com A.Sloan Jr., deu ênfase ao planejamento, à valorização das habilidades dos técnicos e aos princípios de responsabilidade e de funções de organização centralizadas. Em P.F Drucker, observa-se a ênfase na responsabilidade social da empresa e na eficiência da administração. A crítica estruturalista de V.A.Thompson e A.Etzioni baseia-se na afirmação da necessidade da reforma das organizações. N.Wiener e S.Beer salientaram as vantagens e as limitações da cibernética.

A Teoria Geral dos Sistemas ocupou-se da integração das várias ciências naturais e sociais, em busca da técnica ideal para o planejamento industrial, e se deparou com duas dificuldades: não havia conhecimento da dinâmica comum aos grupos; não havia conhecimento profundo da diferença entre o organismo biológico, o organismo psíquico e o organismo social. A evolução das ciências empírica, eidética interpessoal e eidética multipersonal, no seu crescente progresso, oferecem as bases para a formulação da intervenção psicossociológica nas empresas.

A Intervenção Psicossociológica

Uma empresa, associação organizada para explorar algo (uma indústria, por exemplo), empreendimento para a realização de um objetivo, organização instituída para explorar determinado ramo de negócios e oferecer ao mercado bens e/ou serviços, é uma empresa comum quando se propõe apenas uma finalidade específica, uma produção. Uma empresa global é aquela que, além da finalidade específica que se propõe, compromete-se com a finalidade humanística de propiciar a todos os seus membros os meios para atingirem a plenitude de sua humanização.

Uma empresa comum pode transformar-se em uma empresa global desde que sua administração, além de disciplinar os elementos de produção e submeter a produtividade a um controle de qualidade para a obtenção de um resultado eficaz, adote uma perspectiva psicossociológica, aquela que vai sustentar um relacionamento sadio entre seus membros, garantindo um clima de harmonia em que, sem prejuízo dos fins a que se destina, vai promover a evolução da racionalidade deles.

A transformação de uma empresa comum em uma empresa global baseia-se na promoção de uma estrutura e de uma dinâmica instituídas pelas ciências eidética interpessoal, psicologia, e eidética multipersonal, sociologia. Tal estrutura e tal dinâmica devem compreender, além dos registros habituais de uma empresa comum, que são uma estrutura e uma dinâmica nos moldes exigidos pela produtividade, requisitos especiais que levem à comunicação efetiva entre os membros que compõem a empresa.

A Estrutura

A hipótese de que é possível, por meio de medidas bem planejadas, transformar uma empresa comum em uma empresa global, levou à definição dessas medidas, que constituem as sub-hipóteses assim formuladas:

Primeira sub-hipótese: é possível promover a organização formal adequada para que a empresa comum se transforme em empresa global, desde que: se torne explícita a estrutura subentendida; tornem-se estáveis essa estrutura e as funções definidas pelas atividades; tornem-se habituais as comissões permanentes e as comissões especiais.

Segunda sub-hipótese: é possível promover a substituição da direção autocrática pela direção democrática, condição para que a empresa comum se transforme em uma empresa global, desde que: a auto-educação se torne possível; seja criado e se mantenha um ambiente social ótimo; criem-se oportunidades reais para uma participação ativa na direção; considerem-se como potencialmente educativos todos os relacionamentos dentro da empresa; admitam-se e se respeitem as diferenças sub-grupais da estrutura; seja criado e se mantenha um clima emocional de aceitação e respeito; proporcionem-se todas as oportunidades necessárias à comunicação inter-grupal.

Terceira sub-hipótese: é possível promover as demais medidas necessárias para que a empresa comum se transforme em uma empresa global, quais sejam: a operacionalização de todas as atividades a fim de evitar perda de tempo e de energia; a avaliação da produtividade para evitar a estagnação; a garantia do ambiente adequado à execução de todas as atividades e de chefes especializados em todas elas.

A organização formal adequada para transformar uma empresa comum em uma empresa global exige um modelo administrativo que clarifique todas as ligações de dependência da instituição, no que concerne a legislação vigente, com o conteúdo explícito de um estatuto, de um regulamento, de um regimento e de ordens de serviço, que garantam a fluidez de um organograma específico.

A substituição da direção autocrática pela direção democrática exige a educação de todos os líderes da empresa e a consequente educação de todos os participantes dela, o que pode ocorrer com a criação de grupos especificamente formados e orientados por psicólogos especializados.

As demais medidas necessárias exigem, para serem elaboradas, a atuação de especialistas em ambientação, operacionalização de tarefas e avaliação, e um serviço de psicologia em constante interação, que garantam o clima adequado aos fins colimados.

Uma vez clarificada a estrutura que deve ter uma empresa para tornar-se global, para sofrer a intervenção psicossociológica pretendida, cabe agora clarificar a dinâmica dessa intervenção.

A Dinâmica

Estabelecida a estrutura necessária para que uma empresa comum se transforme em uma empresa global, há que explicitar sua dinâmica em um amplo e um restrito aspecto, ambos clarificados tanto no que concerne à produtividade quanto à humanização do seu viver coletivo. Em qualquer das circunstâncias, ocorre a necessidade da existência de um porta-fólio completo, com toda a documentação explicitada no item estrutura, disponível para todos os integrantes da empresa.

A dinâmica da empresa, no seu amplo aspecto, deve constar de uma programação completa de divulgação, sob a direção de especialistas nas atividades empresariais, sempre acompanhados de especialistas em humanização, ou seja, toda comunicação, em todas as situações, deve ser da responsabilidade de ambos, técnico e educador. Tal dinâmica visa atualizar todos os integrantes da empresa no que concerne às suas responsabilidades trabalhistas e humanistas.

O amplo aspecto da empresa abarca toda a aquisição da humanidade no tocante ao ramo específico de sua atividade e no tocante à evolução dos grupos e dos indivíduos que a compõem. A aquisição da humanidade no tocante à tecnologia tem-se mostrado sem limites, terra, mar e ar, tanto para o bem quanto para o mal, e os especialistas em cada ramo contam com uma literatura que os mantém informados de todas as conquistas a ele inerentes. A aquisição da humanidade no sentido da humanização conta com os avanços das ciências empírica, biologia, eidética interpessoal, psicologia, e eidética multipersonal, sociologia, coroadas pelas assertivas das filosofias e das religiões.

Deixando a tecnologia aos especialistas, pode-se noticiar o progresso das ciências no tocante à evolução dos indivíduos e dos grupos na sua trajetória para a humanização. A personalidade, expressão do psiquismo, conta com o temperamento, substrato somático, e o caráter, substrato psicossocial. As estatísticas das organizações de saúde apontam para a afirmação de que 90% da humanidade encontram-se fixados nas neuroses, em razão da não evolução do caráter, sendo que a maioria manifesta condutas comuns a menos de três anos de idade, ou seja, debate-se entre a fobia e a obsessão. Tais estatísticas apontam também para a afirmação de que 86% da humanidade manifestam algum tipo de fragilidade do temperamento, psicose, variando apenas os seus tipos e graus. A sintalidade, expressão do somatório das personalidades dos indivíduos que formam o grupo, é afetada pelas limitações destes.

O aspecto estrito da empresa compreende a atuação da técnica em pequenos grupos, com especialistas no ramo da empresa e especialistas no atendimento à humanização dos grupos. A Teoria e a Técnica Psicoterapêuticas Analítico-fenomenológico-existenciais oferecem a orientação para a organização e o funcionamento de pequenos grupos a serem humanizados. Um modelo de grupo pode assim configurar-se:

Os membros: um psicoterapeuta formado na Técnica em questão; o líder do grupo, de preferência que já tenha sido submetido ao tratamento; doze membros no máximo.

O ambiente: sala com o mobiliário necessário.

A entrevista: em duas etapas: a individual, de cada membro, a quem devem ser explicados e dados por escrito os aspectos contratuais administrativos e técnicos do trabalho; a coletiva, do cotejamento dos objetivos comuns, quando deve ser fornecido o porta-fólio da empresa.

A duração: doze sessões, de uma hora e quarenta minutos, sempre no mesmo horário e local, de preferência semanal, podendo adaptar-se às necessidades da empresa.

A primeira sessão: é uma sessão de entrosamento coletivo, um prolongamento da entrevista coletiva. Começa com a relaxação. Em seguida vem o diálogo, espontâneo e, se necessário, estimulado. Em geral, surge espontaneamente o tema dos objetivos do grupo, com a temática subjacente dos anseios de cada membro, em um clima de angústia coletiva. Em geral, surge também um pressuposto de regimento.

As sessões intermediárias: elas constituem o tratamento propriamente dito, e são em número de dez, sendo cinco para a fase de dependência, infantil, duas para a fase de contra-dependência, adolescente, e três para a fase de interdependência, adulta, e assim se manifestam no seu desenrolar:

Na infância do grupo:

No primeiro estágio, o da emoção-choque, o grupo é tocado pela ansiedade caótica, que o psicoterapeuta, P, deve trabalhar no sentido de ampliar seu campo vivencial para a necessidade de utilizar o seu medo ao imaginar novas atitudes para obter o que deseja no tocante à sua segurança e realização.

No segundo estágio, o da emoção antecipação-medo, surgem a intenção e a imaginação, e o grupo é tocado pela ansiedade fóbica, que o P deve trabalhar no sentido de remetê-lo ao companheirismo, à busca de condutas que tenham chance de sucesso

No terceiro estágio, o da emoção antecipação-cólera, o grupo se conscientiza da inutilidade da obediência passiva (fobia), e é tocado pela ansiedade obsessiva, que o P deve trabalhar no sentido de remetê-lo à compreensão da inadequação da agressividade e à necessidade de buscar formas de conduta mais variadas e satisfatórias (farsa).

No quarto estágio, o da emoção antecipação-falso amor, o grupo vive em função da consciência da inutilidade da reação agressiva cega (obsessão), e é tocado pela situação ansiógena de desonestidade, que o P deve trabalhar no sentido de remetê-lo à latência, à parada para pensar antes de agir.

No quinto estágio, o da emoção antecipação-amor verdadeiro, surge a elevação, e o grupo é tocado pela necessidade de dar lógica à sua conduta, embora ligada ainda apenas ao concreto, que o P deve trabalhar no sentido do nível abstrato de pugna.

 

Na adolescência do grupo:

No primeiro estágio, da pré-adolescência, o grupo vive no campo da elevação ao nível abstrato de pugna, de negativismo, questionando o valor real das diretrizes que vinham regendo o seu viver, que o P deve trabalhar no sentido de auxiliá-lo a reformular seus quadros de valores básicos e de sentimentos básicos.

No segundo estágio, da adolescência propriamente dita, o grupo vive no campo da elevação ao nível abstrato ético, da praticidade esclarecida, que o P deve trabalhar no sentido de remetê-lo à busca de cooperação no plano comunitário.

 

Na adultez do grupo:

No primeiro estágio, o da reflexão no sentido da cooperação no plano comunitário, o grupo vive tal temática em função da atinência da finalidade para o qual foi criado, que o P deve trabalhar no sentido de remetê-lo às implicações do seu existir em função de uma comunidade maior, a humanidade.

No segundo estágio, o da reflexão no sentido da cooperação no plano da humanidade, o grupo vive em função da finalidade para a qual foi criado, que o P deve trabalhar no sentido de incluir, no seu estilo de vida, o comércio com outros grupos, tendo em vista a divulgação e a consolidação dos valores universais.

No terceiro estágio, o da reflexão no sentido da cooperação no plano universal, o grupo vive em função do seu papel no universo, que o P deve trabalhar no sentido de incluir, no seu estilo de vida, a divulgação e consolidação dos valores universal-anárquicos no sentido do bem comum.

 

A última sessão: é uma sessão de despedida, compreendendo dois momentos distintos:

No primeiro momento, os membros do grupo são convidados a fazer todas as indagações que ainda desejarem, competindo ao P respondê-las e finalizar com uma breve síntese sobre a evolução do grupo humano.

No segundo momento, a característica do encontro é social, com despedidas afetuosas.

O diálogo psicoterapêutico, seja individual, seja do indivíduo no grupo, seja do grupo em si, este que se encontra em questão no momento, visa a descoberta da verdade, dos empecilhos que obscurecem a elevação do espírito. Na entrevista inicial, o P deve fazer o diagnóstico de cada membro do grupo e solicitar uma ficha de inscrição previamente elaborada. Deve, também, providenciar testes coletivos de inteligência e de personalidade para corroborar suas observações sobre cada membro. Nas sessões, o P deve garantir a liberdade do diálogo, e não sugerir nem proibir que os membros façam anotações. Toda sessão deve começar com a relaxação, devendo o P sugerir que ela seja feita diariamente. Um texto, como “A verdade sobre ser humano” ou similar, deve ser distribuído na primeira sessão, com o calendário correspondente aos assuntos das sessões, sem didatismo. O decálogo da saúde mental deve ser distribuído e comentado na última sessão. O P deve contar com todo o acervo cultural da humanidade para obter o seu intento.

O líder, L, deve conferir as fichas de inscrição dos membros do grupo. Deve, também, providenciar um porta-fólio completo sobre a empresa para cada membro, a ser distribuído na primeira sessão, com um calendário das leituras a serem feitas antes de cada sessão. Os membros devem ser convidados a manifestar, em cada sessão, as correções que surjam em face da leitura programada, e as apresentar, por escrito, ao L, explicitando se desejam que sejam sigilosas ou não. Compete ao L preparar um relatório completo das correções e sugestões sobre o porta-fólio que ocorrerem no decorrer das sessões, para entregá-lo ao presidente da empresa no final do trabalho e, se for o caso, providenciar para que as medidas cabíveis sejam antecipadas. O L deve, nos últimos momentos de cada sessão, indagar se houve alguma dúvida na leitura, caso ninguém se manifeste espontaneamente. O tempo dedicado ao porta-fólio deve ser determinado, previamente, pelo P.

Há alguns aspectos a serem considerados, quais sejam: É de extrema valia que o P e o L contem, todo o tempo, com a assessoria de um Administrador formado na Teoria e na Técnica Psicoterapêuticas Analítico-fenomenológico-existenciais. Em face da necessidade de economia de tempo e de gastos, são possíveis duas adequações: a primeira consiste na aglutinação das três últimas sessões em apenas uma; a segunda consiste na composição de um grupo com vinte e quatro membros, dispostos em dois círculos concêntricos, de modo que, na metade da sessão, só os do círculo interno dialoguem, e, na outra metade, os membros dos círculos troquem de posição e de função.

Uma intervenção psicossociológica compreende a formação de tantos grupos quantos a empresa pretenda contratar, que deve abranger o máximo possível dos membros que a compõem. A formação dos grupos deve obedecer ao organograma, de forma que o primeiro grupo seja formado pelo presidente e seus doze, ou vinte e quatro, subordinados mais próximos, e assim por diante. Os demais grupos, no caso de haver setores mais comprometidos na sua comunicação, podem ser priorizados, se assim aprouver à presidência da empresa.

Há que considerar que a intervenção psicossociológica em empresas de qualquer natureza é, de fato, uma proposta de reeducação, tendo em vista a inoperância das famílias e das escolas em propiciar os meios para que a evolução dos indivíduos e dos grupos ocorram nos momentos adequados da sua existência.

Uma Visão Panorâmica

Embora seja difícil precisar a época do aparecimento do homem sobre a Terra, sustenta-se que os nossos antepassados já existiam no fim do período terciário, e no início do período quaternário foram encontrados esqueletos humanos, armas e utensílios, comprovando sua existência desde então. Portanto, o homem, que terá surgido na Terra há cerca de um milhão de anos, vem-se libertando, muito lentamente, das limitações ecológicas. Sua libertação tem sido possibilitada pelo acúmulo de conhecimentos sobre o mundo, as coisas, os seres, em geral, e sobre si mesmo, em particular. Para sobreviver, necessitou voltar sua atenção, inicialmente, para o espaço circundante, ao qual deveria adaptar-se e de onde deveria tirar o seu sustento. À noção de espaço acrescentou a noção de tempo, dadas a relativa regularidade das exigências do seu organismo e a constância, também relativa, dos fenômenos externos, da natureza, do seu “habitat”. Quanto mais conhece, mais o homem se torna livre para optar, para escolher sua conduta; quanto mais livre, maior sua responsabilidade pessoal e social.

Embora não seja provável, é possível que rudimentos do que possa considerar-se uma administração em sentido lato tenham surgido desde o início da humanidade, pois a preocupação fundamental com a sobrevivência terá originado o conceito de propriedade desde tempos imemoriais, pré-históricos. Os registros históricos, que começaram em datas variadas nas diferentes partes do mundo, mostram, desde a antiguidade, através dos tempos, vestígios de cooperativismo e de belicosidade, intra e intergrupais. A História Antiga e as Idades Média, Moderna e Contemporânea, no seu todo, oferecem subsídios para que se possa compreender como a humanidade foi evoluindo nos seus conceitos de como administrar a sua convivência. As hordas, no seu viver nômade, necessitaram desenvolver a sua belicosidade, ainda com muito pouca disciplina. As tribos, já com noção de família, exigiram chefes e formaram sociedades rudimentares. Os feudos desenvolveram o conceito de protegidos e protetores, reunindo-se, inclusive, muitas vezes, em torno de um chefe, o rei, e instituindo os reinos. Os impérios, reunião de vários reinos, fortaleceram o conceito de poder, até que o abuso dele levou à luta pelo constitucionalismo. As repúblicas, por meio das constituições, constataram a soberania dos povos, e a evolução cultural levou ao estabelecimento de parâmetros de vida cada vez mais elevados.

A cultura, no seu tríplice aspecto, teológico, filosófico e científico, levou à compreensão de um denominador comum para a evolução da humanidade. A teologia, nas suas três vertentes, a afirmativa natural, a afirmativa revelada e a negativa, mística, tem-se manifestado em todas as épocas e em todos os lugares. A filosofia, também nas suas três vertentes, a racional, a intuitiva e a fenomenológica, pode ser notada em todas as épocas e em todas as civilizações. A ciência apresentou contribuições preciosas para o conhecimento do ser humano: a ciência empírica desenvolveu o conceito de integração permanente de todos os sistemas que constituem o corpo humano; a ciência eidética interpessoal integrou fisicalismo e mentalismo num conceito coerente sobre o psiquismo; a ciência eidética multipersonal afirmou que não existe natureza humana sem ambiente social.

As coordenadas que levam à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos apontam para as tendências quiliásmica, liberal-humanitária, conservadora e socialista-comunista, sendo que nenhuma das formas destas forças dinâmicas, que emergem em uma sequência histórica, jamais desaparece por completo, e em época alguma qualquer delas é incontestavelmente dominante. O quiliasta se vale do presente para, de uma forma mística e abrupta, realizar o seu anseio. O liberal-humanitário, aceitando positivamente a cultura e a ética, ocupa-se do desenvolvimento de um plano educacional. O conservador considera o passado como um criador de valores, que devem ser cultivados e transmitidos. O socialista-comunista, baseado em uma síntese das várias tendências em questão, valoriza a liberdade e a igualdade, mas ressalta a glorificação dos aspectos materiais da existência.

Nesse bojo histórico, em busca das coordenadas que levem à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos, temos a contribuição oferecida pela história da administração. O desenvolvimento da indústria e a crescente separação entre propriedade e administração levaram ao aparecimento da figura do administrador. As grandes etapas da história da administração ocorreram em dois contextos: em um deles, o imenso progresso técnico, terra, mar e ar, registrados pelos especialistas dos mais diferentes ramos; em outro, o pálido interesse pela humanização da população empresarial.

Deixando de lado o progresso técnico, o interesse pela humanização da população empresarial assim se tem manifestado: nos economistas clássicos e nos transcendencialistas não se deu nenhum interesse pelo indivíduo, senão como técnico. Os denominados verdadeiros clássicos da administração consideraram a importância do lado humano de todos os participantes da empresa, procurando evitar o desgaste inútil de energia; salientaram que uma empresa deve servir à comunidade; afirmaram a importância da compreensão da natureza humana para se compreender o comportamento administrativo, uma vez que há uma relação entre os temores e ambições e as realizações dos operários, que trabalham pela possibilidade de realizar o próprio desenvolvimento.

As Escolas que se seguiram à Escola Clássica concluíram que: a hierarquia é fundamental; o trabalho é uma atividade grupal, cujo comportamento influi nele; o estudo das instituições pode comparar-se com o estudo clínico das personalidades; a burocracia, seja punitiva, seja representativa, não leva em consideração as pessoas; é necessário um equilíbrio entre a obediência e a iniciativa; além de sobreviver, precisamos preservar nossas instituições democráticas sem perdermos a nossa liberdade; a dinâmica de grupo educa para a democracia, identificando as características e necessidades humanas e treinando as atitudes necessárias para sua evolução; há uma interação constante entre as atividades e os sentimentos; todo indivíduo tem necessidade de se realizar; as forças motivacionais causam o comportamento, que pode ser sempre melhorado por meio de um esforço comum, um espírito de investigação e uma relação voluntária e crescente com a interação entre os participantes, com igual oportunidade de influência mútua; os operários devem ser seus próprios donos; há uma responsabilidade social da empresa.

A Proposta

Até bem pouco tempo não havia conhecimento da dinâmica comum aos grupos, nem conhecimento profundo das diferenças entre o organismo biológico, o organismo psíquico e o organismo social. A evolução das ciências empírica, eidética interpessoal e eidética multipersonal, no seu crescente progresso, oferece as bases para a formulação da intervenção psicossociológica nas empresas comuns para transformá-las em empresas globais, aquelas que, além de servirem aos seus fins específicos de produção, servem ao objetivo precípuo da humanidade, que é o de promover a evolução da racionalidade de todos os seus membros.

A intervenção psicossociológica, com base na Teoria e na Técnica Psicoterapêuticas Analítico-fenomenológico-existenciais, é uma proposta de reeducação, uma vez que as famílias e as escolas não têm cumprido o seu papel de educadores no tocante à formação do caráter dos indivíduos no tempo cronológico de sua evolução, reeducação esta que vai ser necessária por muito tempo, tendo em vista a lentidão com que as instituições encarregadas da educação, família e escola, absorvem a metodologia adequada para este fim. As famílias não têm condições de educar, pois elas próprias estão em descompasso com a evolução, seus membros principais, os genitores, encontram-se mergulhados na ignorância, no medo, na raiva e na farsa. As escolas só cuidam, e mal, da informação, não cuidando, em absoluto, da formação. Os governos estão fixados na farsa, na corrupção, sem nenhuma perspectiva humanística nos seus procedimentos.

Assim sendo, a intervenção psicossociológica é a solução para que os órgãos encarregados da educação e da saúde mental possam criar condições, a curto prazo, para corrigir tal descalabro. A formação de especialistas na educação do caráter se faz urgentemente necessária, e o único caminho é o tratamento dos encarregados dessas tarefas que, em grupo, possam ampliar os seus conhecimentos sobre a criação e a manutenção do próprio caráter e providenciar o tratamento dos familiares e dos educadores em todos os níveis. A estrutura e a dinâmica de tal intervenção e o funcionamento do tratamento dos grupos, já explicitados, garantem o resultado de tal proposta, que é a de atingir a finalidade última do homem, a criação racional do próprio homem.

Seu Valor Heurístico

O sucesso de todo empreendimento, além do seu objetivo específico, pode ser medido pelo seu valor heurístico, ou seja, pela capacidade de inspirar a criação de outros procedimentos, com base nele, que possam ampliar o seu alcance em todos os setores da atividade humana, inclusive valendo-se da cibernética nos seus aspectos positivos, atentos, porém, aos seus aspectos negativos, de desumanização das comunicações.

A eficiência, já comprovada, da utilização da intervenção psicossociológica na transformação de escolas comuns em comunidades educativas e de hospitais psiquiátricos comuns em comunidades psicoterapêuticas, vem demonstrar que esta técnica pode ser aplicada em qualquer segmento da sociedade que conte com uma administração reformulada para este fim, nos termos explicitados quanto às hipóteses e sub-hipóteses citadas e comprovadas.

Necessário se faz criar um curso de formação de especialistas em intervenção psicossociológica, com base nas informações aqui desenvolvidas, especialistas estes que devem ter recebido formação completa na Teoria e na Técnica Psicoterapêuticas Analítico-fenomenológico-existenciais, resultado do conhecimento científico produzido pela consciência crítica da realidade e pela compreensão dialética da necessidade de criação de uma sociedade que permita ao homem atingir a plenitude de sua humanização.

Finalmente

Uma vez que o universo é harmonia, visa a harmonia, trabalha a harmonia, toda ação humana deve harmonizar-se com o conjunto dos determinismos universais. Se a finalidade última do homem é a criação racional do próprio homem, se nenhuma profissão tem as dimensões necessárias às grandes coisas de que a verdadeira vida é feita e se cada um de nós somos membros uns dos outros, compete-nos procurarmos a linguagem comum que irá corrigir as causas das dissonâncias cognitivas, que são sinais, avisos de saturação de permanência, em um dado plano evolutivo, de um ou de vários dos componentes do todo harmônico.

A história da humanidade nos mostra que a linguagem falada, expressão especificamente humana, do grito à dialética, passando pela onomatopéia, pela metáfora e pela analogia, que se repete em cada indivíduo que nasce, cresce e morre, é a pedra angular da compreensão, do conhecimento. Dela originaram a tradição oral e a tradição escrita, que nos trouxeram os registros das tentativas dos seres humanos de se comunicarem e de buscarem a preservação da espécie e a administração dos bens de consumo, sempre com vistas à harmonia e à felicidade para o maior número de pessoas.

Sabe-se que o ser humano, como parte do todo, necessita, para realizar-se, que o todo se realize. Sua aspiração é compreender a vontade do Criador e atuar de acordo com ela. A humanidade, na sua trajetória, ocupa-se da transmissão da sua herança cultural com a dupla finalidade de perpetuar essa herança e de auxiliar os homens na conquista da síntese pessoal e da metalinguagem da espécie, que vão permitir cada vez mais harmonização do todo e no todo. A administração de qualquer empreendimento humano exige, além do progresso material, a evolução psíquica e espiritual dos seus componentes.

Cabe às administrações, particulares e governamentais, exigirem um sistema ideal de valores, aquele que assista inteligentemente o processo total da existência, fornecendo as diretrizes para o tratamento adequado dos indivíduos e dos grupos em suas várias idades maturacionais, com vistas a que cada um atinja o máximo de seu desenvolvimento e de integração de que é capaz. São, portanto dois os grandes problemas da humanidade: reformular seus sistemas visando a uma síntese universal e programar o procedimento adequado na transmissão dela a fim de evitar desgaste inútil de energia, quer do indivíduo quer do grupo.

À pergunta milenar “tem futuro o homem?” e, mais genericamente, “tem futuro a humanidade?”, pode-se responder afirmativamente, desde que os dirigentes dos diversos segmentos da sociedade apliquem os conhecimentos da ciência para transformarem as entidades comuns, aquelas que só se ocupam dos produtos de consumo, em entidades globais, aquelas que buscam também a conscientização dos indivíduos e dos grupos a fim de ajudá-los a se colocarem em condições de escolherem e decidirem por sua própria e exclusiva opção, o que inclui a busca permanente do verdadeiro e do valioso.

Esta a verdade sobre a administração!

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SOBRE A EDUCAÇÃO

Preliminares

A verdade é o resultado do confronto da ideia com a realidade. A ideia é o produto do pensamento, a tentativa da mente de configurar a sua percepção, seja empírica, sobre os seres, seja psicológica, na esfera da existência dos seres humanos, seja social, no âmbito da existência dos grupos humanos.

A cultura registra a história da evolução dos povos e a educação procura conduzi-los nessa evolução com base na transmissão dos conhecimentos adquiridos. A teologia discorre sobre a existência de Deus, de forma afirmativa, natural e revelada, e negativa, mística. A filosofia discorre sobre o conhecimento, quer intuitivo, quer racional, quer fenomenológico. A ciência explica o conhecimento empírico e o conhecimento eidético, interpessoal e multipersonal. A fenomenologia científica tenta uma síntese do conhecimento e do conhecimento ético aberta ao progresso do pensamento.

A evolução ocorre no ser humano e no grupo humano. O ser humano manifesta, na sua evolução, as etapas infantil, adolescente e adulta, sujeita a pequenos adiantamentos ou a pequenos atrasos, com a possibilidade de inadaptações e desadaptações. O grupo humano, na sua evolução, manifesta os estágios de dependência, contradependência e interdependência, estágios estes decorrentes da evolução e das limitações de cada um de seus membros. A educação e a reeducação procuram propiciar o ambiente adequado para a evolução e para a correção das discrepâncias que nela ocorram.

Uma visão panorâmica da humanidade nos mostra que o homem, que terá surgido na Terra há cerca de um milhão de anos, necessitou, para sobreviver, adaptar-se ao ambiente. Quanto mais o conhece e quanto mais conhece a si mesmo, mais livre se torna para optar, escolher sua conduta. Os registros históricos noticiam a História Antiga e as Idades Média, Moderna e Contemporânea, e um denominador comum para a evolução dos povos. Sempre num mesmo cenário, o universo, tem-se dado o enredo da evolução dos indivíduos e dos grupos, cujas personagens variam no decorrer da sua existência.

O problema que ocorre é que a humanidade, na sua evolução, sofre a atuação de vários empecilhos. O maior obstáculo é a falta de autoconhecimento. Além disso, há os indivíduos psiquicamente normais e os psiquicamente frágeis; ambos necessitam de assistência ao seu temperamento e de formação ou reformulação do seu caráter. Um fenômeno universal está ocasionando a erupção de indivíduos fixados na farsa, os corruptos, e os fixados na agressividade, os terroristas, provocando medidas repressoras pelos governos.

Outros empecilhos se fazem sentir, quais sejam: a ignorância sobre o sexo, seja como reprodutor, seja como fonte de prazer; as filosofias, que não oferecem nenhuma teoria consistente; as religiões que têm perpetuado a crença em um Deus vingativo, que castiga suas criaturas. A educação necessita erradicar todos esses empecilhos e direcionar os indivíduos e os grupos na sua dinâmica para assimilarem todo o conhecimento possível e o aplicarem no seu pensar sobre o próprio pensamento e sobre a verdade adquirida no confronto da sua ideia com a realidade.

Os Procedimentos

O educador, o adulto maduro, seja governante, seja professor, seja genitor, necessita conhecer a evolução dos indivíduos e dos grupos, bem como as perturbações que possam nelas ocorrer, a fim de poder agir nos momentos adequados a cada indivíduo e a cada grupo.

O diagnóstico do estado de cada indivíduo e de cada grupo é a descrição do momento atual de cada um, respectivamente, a sua personalidade, no caso do indivíduo, e a sua sintalidade, somatório das personalidades, no caso do grupo.

A educação, condução, exige, tanto na transmissão do conhecimento em geral, quanto na transmissão do conhecimento ético, em especial, a informação do conhecimento em si e a formação, a adoção prática do aprendido.

Seja informação, seja formação, tal aprendizado exige a montagem de currículos próprios a cada período, básico, médio, superior, com disciplinas explicitadas em unidades, com suas etapas e suas fases, proporcionando ao educando um progresso linear, sem qualquer empecilho.

A reeducação é um corolário da educação, nas situações em que, por qualquer motivo, ela não ocorreu. Visa, pois, a oferecer aos indivíduos que não a receberam na época adequada, os conhecimentos e os conhecimentos éticos que deverão nortear sua destinação pessoal e profissional.

A trajetória do ser humano pode ser observada do encontro do espermatozóide com o óvulo até a transformação do corpo em pó. Tal linha evolutiva compreende a infância, a adolescência e a adultez, cada período com suas etapas características.

A trajetória do grupo humano, assim como a do ser humano, pode ser observada do seu surgimento à sua dissolução. Tal linha evolutiva compreende, também, a infância, a adolescência e a adultez, cada período com suas etapas características.

A felicidade é o fim de toda cultura; ela decorre da aquisição da vivência mística, bem-estar do corpo, da experiência mística, bem-estar psíquico, e do êxtase místico, bem-estar espiritual. A cultura decorre do conhecimento, em geral, e do conhecimento ético, em especial. Transmitir a cultura de forma correta em todos os seus trâmites é tarefa precípua da humanidade; essa transmissão se faz através da educação e da reeducação.

O conhecimento, em geral, só atinge o que é material. Quanto mais conhece, mais o ser humano se torna livre para optar, para escolher sua conduta; quanto mais livre, maior sua responsabilidade pessoal e social.

A informação é a transmissão do conhecimento do conteúdo a ser assimilado. A didática é a arte de ensinar, que determina a técnica a ser utilizada nessa transmissão, que decorre do conhecimento da evolução do público alvo, indivíduo ou grupo.

O conteúdo a ser transmitido diz respeito aos objetivos a serem colimados em cada período da evolução, de acordo com as diretrizes do ensino. São períodos da ação educativa o ensino básico, o ensino médio e o ensino superior.

Em todos os períodos se faz necessária a montagem de um currículo que satisfaça seus objetivos. Qualquer currículo, de qualquer período, exige a seleção das disciplinas que, no seu conjunto, garantam que sejam atingidos os seus fins.

Cada disciplina de cada período deve desdobrar-se em unidades, com suas etapas e suas fases, proporcionando ao educando o capacitamento gradual do conhecimento, o que vai permitir seu progresso linear, sem qualquer empecilho.

O ensino básico é a fase ideal para o aprendizado da leitura, da escrita, da aritmética e de uma língua universalmente festejada, aprendizado este que nos seus rudimentos, pode começar bem antes. Outras disciplinas devem ser consideradas complementares, todas elas também operacionalizadas em etapas, linearmente.

O ensino médio, continuando o aprendizado básico de duas línguas e da aritmética, ao introduzir as disciplinas necessárias aos seus fins de ampliação dos conhecimentos já com vistas ao ensino técnico e ao superior, deve evitar o excesso delas e cuidar, também, da sua operacionalização linear.

O ensino superior, na sua objetivação profissional maior, necessita, também, promover currículos racionais, sempre operacionalizados linearmente, na amplitude do leque de suas especializações, com vistas a abarcar todo o conhecimento que a humanidade amealhou na sua evolução.

A formação decorre da aplicação das informações em todos os períodos da ação educativa, básica, média e superior. Para cada informação há um correspondente prático do aprendido, sua aplicação. Assim, todo aprendizado se faz, necessariamente, útil, levando à aplicação do aprendido em todos os seus níveis.

O ensino básico exige que, na formação dos alunos, aplicação do aprendido, haja no ambiente escolar, miniaturas das organizações da comunidade, onde possam eles viver os papéis correspondentes aos papéis ali existentes, reproduzindo seus afazeres em termos semelhantes aos reais, a fim de ajustarem sua visão de mundo.

O ensino médio exige a vivência de situações reais que propiciem o conhecimento prático das atividades técnicas e de nível superior que são vislumbradas no seu futuro, permitindo-lhes uma compreensão do panorama que lhes será oferecido, e condições de opção de suas preferências na formação que lhes é oferecida.

O ensino superior necessita, todo o tempo, promover o contato com todas as atividades que lhes serão exigidas no seu futuro profissional, de modo que sua formação lhes seja garantida em termos reais e a noção de vocação e excelência profissionais os encaminhe para uma verdadeira performance na sua especialidade.

O conhecimento ético, em especial, ensina que é necessário o sentido para dar validade existencial ao materialmente valioso, e que o ser humano deve aspirar ao melhor para o maior número de pessoas.

A informação, transmissão do conhecimento ético a ser assimilado, deve ser feita nos mesmos moldes daquela feita para a assimilação do conhecimento em geral, quais sejam, currículos adequados a cada período, básico, médio e superior, e disciplinas desdobrando-se em unidades, etapas e fases, possibilitando ao educando a aquisição linear do conhecimento ético que vai permitir seu progresso sem qualquer empecilho.

O ensino básico permite as informações sobre a estrutura das genitálias masculina e feminina, e sobre a fecundação, a gestação e o parto. Permite, também, a correção dos falsos conceitos de pecado, culpa e castigo de Deus, caso as crianças estejam imbuídas dessas informações primitivas, irracionais.

O ensino médio permite a ampliação das informações sobre a sua genitália e a genitália do parceiro, bem como sobre a procriação e os meios de a evitar, além do desencorajamento de práticas sexuais precoces ou puramente animais, firmando-se, assim, as bases da sua educação sexual comunitária e humanística. Permite, também, a ampliação do livre pensar no sentido da compreensão do decálogo mosaico e das virtudes fundamentais da fé, da esperança e da caridade, e da distinção entre bondade e conformismo.

O ensino superior permite a definição do viver sexual com vistas ao bem comum, que inclui a procriação responsável, programada, a fidelidade e a devoção. Permite, também, erradicados os conceitos vulgarizados da existência de um Deus ilógico, primitivo e irracional, e conhecidos os valores universais da bondade, da beleza, da verdade e da santidade, informar-se sobre a vida já no plano do absoluto.

A formação decorre da aplicação das diretrizes éticas assimiladas em todos os períodos da ação educativa, básica, média e superior. Para cada informação há, também, um correspondente prático do aprendido, sua aplicação. Assim, todo o aprendizado ético se faz, necessariamente, útil, levando, também, à aplicação do aprendido em todos os seus níveis.

O ensino básico exige que, na formação ética dos alunos, aplicação do aprendido, haja os cuidados adequados com a sua genitália, nos aspectos higiene e manipulação. Exige também que os alunos pratiquem sua reflexão constante sobre a impossibilidade da existência de um Deus castigador.

O ensino médio estimula a castidade, o não uso de práticas sexuais precoces, com vistas à aceitação de uma sexualidade controlada para o bem individual e comunitário. Estimula, também, a prática da caridade no seu dia a dia, em todos os ambientes que frequenta.

O ensino superior estimula o viver sexual com vistas ao bem comum, à procriação responsável, à fidelidade e à devoção. Estimula, também, o viver a bondade, a beleza, a verdade e a santidade, e o aspirar ao êxtase sempre que possível.

A reeducação é um corolário da educação nas situações em que, por qualquer motivo, ela não ocorreu. Visa, pois, a oferecer aos indivíduos que não a receberam na época adequada, os conhecimentos e os conhecimentos éticos que deverão nortear sua destinação pessoal e profissional.

Faz-se, também, necessária a montagem de currículos que satisfaçam seus objetivos, com a seleção das disciplinas que, no seu conjunto, garantam que sejam atingidos os seus fins. Cada disciplina deve, pois, desdobrar-se, também, em unidades com suas etapas e suas fases, possibilitando o progresso linear desses indivíduos, sem qualquer empecilho.

Na impossibilidade de reeducação ética dos indivíduos no plano da organização escolar de reeducação, há a possibilidade dessa reeducação ocorrer por meio da psicoterapia, formação do caráter, o substrato psíquico que, com a colaboração do tratamento do temperamento, substrato orgânico, vai garantir o surgimento e a manutenção da personalidade.

O universo, o campo total, conhecido e cognoscível, a realidade de tudo que é, a obra do Criador, pode ser representado na mente de cada ser humano, constituindo o seu campo vivencial particular, um retrato da realidade que lhe é dado configurar. O campo vivencial de cada ser humano pode ampliar-se ao máximo da sua capacidade evolutiva, acumulando o dinâmico, o da determinação, o da intenção, o da imaginação e o da elevação.

No campo vivencial ocorrem: a percepção, no espaço, no tempo na duração, na unidade de estrutura dos contrários, de mecanismo e de movimento; a emoção choque e a emoção antecipação (medo, cólera, amor); a inteligência equilibradora das ações externas e internas, estas últimas simbólico-representativas da e sobre a realidade concreta; a consciência espontânea pré-objetal ou objetal precária, a reflexiva e a do absoluto; a moralidade, infantil, adolescente e adulta; a sexualidade, parcial e total; a religiosidade, também parcial e total.

A evolução do ser humano e a evolução do grupo humano, ambas com suas perturbações, são bem conhecidas nas suas etapas e nas suas contingências. A evolução do ser humano compreende a infância, a adolescência e a adultez, e suas perturbações compreendem as neuroses e as psicoses, com os seus desdobramentos. A evolução do grupo humano compreende a dependência, a contra-dependência, e a interdependência, e suas perturbações decorrem das neuroses e psicoses dos seus membros.

O verdadeiro obstáculo a evolução, quer dos indivíduos, quer dos grupos, são os motivos ocultos subjacentes às decisões individuais e coletivas, que impedem a escolha do verdadeiro, do bom, do belo e do santo, que decorre do livre pensar. A solução para esse problema encontra-se no autoconhecimento, na passagem da ignorância para a sabedoria. O poder dos governos é que vai garantir os meios para que os indivíduos se conheçam e possam efetivar a vivência, a experiência e o êxtase místicos, que vão permitir a felicidade, a meta natural da humanidade.

A educação e a reeducação constituem o caminho para a busca da felicidade. Elas ocorrem na família, na escola e na comunidade em geral. O indivíduo se expressa, em cada momento da sua vida, em função do nível de integração dos seus componentes de temperamento (bioquímico) e de caráter (ético-social), que vão compor sua personalidade, sua forma de ser. Ele nasce, vive e morre só, e sua solitute o leva a necessidade de se comunicar para sobreviver, pois ele não se basta, o que o obriga a buscar a assimilação do mundo exterior para o conquistar.

A humanidade, no seu afã de criar cultura, busca sempre a verdade, resultado do confronto da ideia com a realidade. Há a verdade individual, decorrente de cada momento da vida de cada indivíduo, a verdade coletiva, decorrente da aceitação da verdade individual por um ou mais indivíduos, e a verdade absoluta, jamais conhecida e talvez incognoscível, o mistério. A verdade ocorre sempre no indivíduo e se comunica com a coletividade. Há a verdade da ciência, a verdade da filosofia e a verdade da religião.

Quer no plano individual, quer no coletivo, há que considerar que a vida por si mesma se corrige, e que o educador é, apenas, uma peça da engrenagem, cabendo-lhe dar o exemplo de sua conduta, oferecer informações verdadeiras e contribuir para a formação dos indivíduos e dos grupos, ensinando-os a cultivar as emoções positivas de amor, com inteligência cada vez mais aguçada a caminho da consciência do todo e a adoção de uma moralidade, uma sexualidade e uma religiosidade universais.

Uma visão panorâmica

Embora seja difícil precisar a época do aparecimento do homem sobre a terra, sustenta-se que os nossos antepassados já existiam no fim do período terciário. Do início do período quaternário foram encontrados esqueletos humanos, armas e utensílios, comprovando a sua existência desde então. Portanto, o homem, que terá surgido na Terra há cerca de um milhão de anos, vem-se libertando, muito lentamente, das limitações ecológicas. Sua libertação tem sido possibilitada pelo acúmulo de conhecimentos sobre o mundo, as coisas, os seres, em geral, e sobre si mesmo, em particular.

Para sobreviver, o homem necessitou voltar sua atenção, inicialmente, para o espaço circundante, ao qual deveria adaptar-se e de onde deveria retirar o seu sustento. A noção de espaço acrescentou a noção de tempo, dadas a relativa regularidade das exigências do seu organismo e a constância, também relativa, dos fenômenos externos, da natureza, do seu “habitat”. Quanto mais conhece, mais o homem se torna livre para optar, para escolher sua conduta; quanto mais livre, maior a sua responsabilidade pessoal e social.

Embora não seja provável, é possível que rudimentos do que pode considerar-se uma tentativa de administração dos seus bens tenham surgido desde o início da humanidade, pois a preocupação fundamental com a sobrevivência terá originado o conceito de propriedade desde sempre. Os registros históricos, que começaram em datas variadas nas diferentes partes do mundo, mostram, desde a antiguidade, através dos tempos, vestígios de cooperativismo e de belicosidade intra e intergrupais.

A História Antiga e as Idades Média, Moderna e Contemporânea, no seu todo, oferecem subsídios para a compreensão de como a humanidade foi evoluindo nos seus conceitos de como administrar a sua convivência. As hordas, no seu viver nômade, necessitaram desenvolver a sua belicosidade, ainda com muito pouca disciplina. As tribos, já com noção de família, exigiram chefes e formaram sociedades rudimentares. Os feudos desenvolveram o conceito de protegidos e protetores, reunindo-se, inclusive, muitas vezes, em torno de um chefe, o rei, e instituindo os reinos. Os impérios, reunião de vários reinos, fortaleceram o conceito de poder até que o abuso dele levou à luta pelo constitucionalismo. As repúblicas, por meio das constituições, constataram a soberania dos povos, e a evolução cultural levou a parâmetros de vida cada vez mais elevados.

A cultura, no seu tríplice aspecto, teológico, filosófico, e científico, levou à compreensão de um denominador comum para a evolução da humanidade. A teologia, nas suas três vertentes, a afirmativa natural, a afirmativa revelada e a negativa, mística, tem-se revelado em todas as épocas e em todos os lugares. A filosofia, também nas suas três vertentes, a racional, a intuitiva e a fenomenológica, pode ser notada em todas as épocas e em todas as civilizações. A ciência, nos seus diferentes ramos, apresentou contribuições preciosas para o conhecimento do ser humano: a empírica desenvolveu o conceito de integração permanente de todos os sistemas vigentes; a eidética interpessoal integrou fisicalismo e mentalismo num conceito coerente sobre o psiquismo como um todo; a eidética multipersonal afirmou que não existe natureza humana sem ambiente social.

As coordenadas que levam à compreensão de um denominador comum para a evolução dos povos apontam para as tendências quiliásmica, liberal-humanitária, conservadora e socialista-comunista, sendo que nenhuma das formas destas forças dinâmicas, que emergem de uma sequência histórica, jamais desaparece por completo, e em época alguma qualquer delas é incontestavelmente dominante. O quiliasta se vale do presente para, de uma forma mística e abrupta, realizar o seu anseio. O liberal-humanitário, aceitando positivamente a cultura e a ética, desenvolve um plano educacional de acordo com essa percepção. O conservador considera o passado como um criador de valores positivos, que devem ser cultivados e transmitidos. O socialista-comunista, baseado em uma síntese das várias ideias em questão, valoriza a liberdade e a igualdade, mas ressalta a glorificação dos aspectos materiais da existência.

A humanidade transita, desde tempos imemoriais, no universo, o campo total, conhecido e cognoscível. Sua cultura registrou sua infância, suas angústias, seus medos, suas cóleras, suas farsas e uma fraca tentativa de praticidade. Registrou, também, sua adolescência, em um primeiro momento, belicosa, e, em um segundo momento, pacifista. Nenhum esforço, até o presente momento, havia sido feito no sentido do registro da sua adultez. O registro da infância e o da adolescência dos povos é um registro histórico das tendências dominantes de cada época, pois sempre houve e haverá indivíduos e grupos na infância e na adolescência, não significando que não tenham existido indivíduos e grupos adultos naquelas ocasiões.

O cenário onde surgiu, sobreviveu, procriou e se desenvolveu a humanidade, o universo, esta imensidão maravilhosa, não é ainda totalmente conhecido, se é que o será algum dia. O ser humano tem buscado conhecê-lo, conhecer a humanidade e conhecer a si mesmo. Nessa busca, desenvolveu, de início, um sentimento de religiosidade e, em seguida, procurou o conhecimento pela reflexão, pela intuição e pelas causas dos fenômenos. Seu sentimento de religiosidade levou-o a reverenciar as forças da natureza, a crer em um Deus que lhe ditava regras de conduta e que lhe proporcionava momentos de beatitude. Sua reflexão e sua intuição levaram-no a recomendar o verdadeiro, o belo, o bom e o santo. A busca das causas dos fenômenos levou-o ao conhecimento do seu corpo, do seu psiquismo e da dinâmica do ambiente social onde se encontra inserido. Tal o cenário onde ocorre o enredo da humanidade.

O enredo que se observa neste cenário é o do grupo humano, este aglomerado de indivíduos já bastante conhecido na sua estrutura e na sua dinâmica, e o do ser humano, também já bastante conhecido na sua estrutura e na sua dinâmica, bem como na sua interação com os pequenos grupos. O desenvolvimento do grupo e o do indivíduo ocorre de modo similar, infância, adolescência e a adultez. As mudanças ocorrem no germe e não na espécie, no indivíduo e não no grupo, donde a necessidade de se conhecerem as personagens que atuam neste cenário.

As personagens que o ser humano representa neste cenário, constituindo o seu enredo, variam no decorrer da sua existência. No início, ele é sem saber que está sendo, é uma criança carente e desvalida. Ao surgir a memória, acrescenta, ao papel de carente e desvalida, o de medrosa e obediente, para que nada lhe falte. Decepcionada porque a obediência nem sempre lhe garante os cuidados de que necessita, irrita-se. Percebendo que a cólera, também, nem sempre lhe traz o benefício desejado, procura variar suas condutas para obter aquilo de que necessita. Em decorrência da maturação do seu organismo, consegue evoluir para a praticidade, para a pré-adolescência aguerrida, para a adolescência pacifista, para a adultez comunitária, humanística e cósmica. A sintalidade dos grupos humanos é a síntese das personalidades dos indivíduos que os formam, manifestando dependência na infância, contra-dependência na pré-adolescência e interdependência na adolescência propriamente dita e na adultez.

O problema que ocorre é que a história da humanidade tem registrado inúmeros empecilhos para a sua evolução. O maior obstáculo é a falta de conhecimento, que fixa os indivíduos e os grupos na comunicação ao nível consumatório inferior, aquela que só se ocupa do bem-estar individual. Podem visualizar-se os desentendimentos dos diferentes indivíduos entre si, deles com os diferentes grupos e dos diferentes grupos entre si. Os adultos imaturos falham na assistência às crianças, aos pré-adolescentes e aos adolescentes, pois se encontram no mesmo nível evolutivo que eles. O mesmo ocorre com a atuação dos grupos imaturos. Tal estado de coisas é bastante desanimador para o progresso do indivíduo e da humanidade.

A humanidade é uma entidade em evolução, em cujo cadinho cada indivíduo e cada grupo atinge o desenvolvimento de que é capaz. Há os indivíduos psiquicamente normais possuidores de bom caráter, e os que não o possuem espontaneamente, podendo adquiri-lo se devidamente orientados. Há os indivíduos psiquicamente frágeis, denominados psicóticos, que podem adquirir, reformular e manter um bom caráter, e os que, basicamente não o podem. A incapacidade de formar o caráter é denominada psicopatia, doença do psiquismo. Os grupos são o somatório dos psiquismos dos seus membros.

Há, pois, os indivíduos com psiquismo normal que não tiveram orientação ético-social para formar o bom caráter, podendo fazê-lo se receberem tal informação. Há os indivíduos com psiquismo frágil, chamado psicose, de duas naturezas: os educáveis, aqueles, cujo temperamento, devidamente tratado e medicado se necessário, permite a aquisição, a reformulação e o mantenimento do caráter no sentido do bem; os ineducáveis, aqueles que, embora o temperamento receba tratamento adequado, têm incapacidade intrínseca de formular o caráter.

Pode observar-se que apenas uma pequena parte dos indivíduos atinge as etapas evolutivas esperadas na adultez. Uma grande parte deles não atinge sequer a adolescência nas suas duas fases. Há que considerar que o temperamento em desequilíbrio provoca a fragilidade psíquica, denominada psicose, nos três níveis: o da inumanidade, o do indivíduo incapaz de formar o caráter; o da desumanidade, do indivíduo incapaz de reformular o seu caráter pervertido, voltado para o mal; o da humanidade do indivíduo capaz de formular o seu caráter voltado para o bem e o manter.

A maior parte da humanidade encontra-se na infância psíquica, seja pela ignorância cultural, seja pela fragilidade psíquica, denominada psicose, que a incapacitam de formular um bom caráter, exigindo atendimento adequado em ambos os casos. Os incapazes de adquirir ou de reformular o caráter, embora altamente prejudiciais à vida comunitária, podem exercer funções específicas úteis, dentro das suas habilidades produtivas, desde que socialmente controlados.

Um fenômeno universal está ocorrendo na humanidade, com o despontar franco e decisivo da fase da farsa, da escamoteação. Inicialmente angustiados, medrosos e coléricos, muitos indivíduos evoluíram abertamente na busca de meios espúrios para satisfazer suas necessidades; este é um movimento de grande monta para a evolução da humanidade, que está a necessitar de uma regulamentação severa para tal erupção.

Os indivíduos chamados corruptos são os que, com o tempo, evoluíram da angústia, do medo da angústia, e da raiva do medo da angústia, para a farsa, necessitando ser conduzidos para a praticidade, forma infantil de obterem a satisfação de suas necessidades sem se prejudicarem e sem prejudicarem a terceiros. Tais indivíduos, os corruptos, fixados na farsa, cumprem o seu papel de pontuar seu exemplo para os angustiados, os medrosos, os irados e, de alertar os governos para a necessidade da educação deles em benefício do povo.

Do ponto de vista da evolução da humanidade, é necessária uma severa revisão do quadro de valores que norteia a educação. As escolas devem instituir disciplinas para a formação do caráter dos alunos desde cedo, ensinando-os a agir corretamente, na linguagem própria da sua idade. O angustiado deve ser retirado da angústia, o medroso deve distinguir o medo real do medo imaginário, o raivoso deve aprender a refrear sua conduta de raiva, o farsante deve aprender a não se prejudicar e a não prejudicar ninguém, o prático deve ser assistido e festejado na sua maneira de ser, e estimulado a ampliar o leque dos seus conhecimentos sobre o viver.

Na sequência: o pré-adolescente deve ser informado sobre a responsabilidade dos seus atos ao invés de procurar “bodes expiatórios” para suas frustrações (vide os terroristas); o adolescente deve distinguir as explicações lídimas sobre os medos reais e imaginários; o adulto deve encarar suas responsabilidades pessoais e profissionais, na comunidade e na humanidade como um todo. Para colimar este objetivo, todos os indivíduos devem ser amparados e orientados, de acordo com a sua capacidade, na busca do maior bem-estar possível para todos.

O pensamento contém a realidade, topia, em cujo meio opera. Tudo o mais é utopia. O caminho da história vai de uma utopia até a topia seguinte, e assim por diante. A topia é uma realidade concreta, histórica e socialmente determinada, que se acha em constante processo de mudança. Podem distinguir-se entre o relativamente utópico e o totalmente utópico. A relação, entre a utopia e a ordem existente, topia, aparece como uma relação dialética: cada época permite surgir, em grupos sociais diversamente localizados, os ideais e os valores em que se acham contidas, de forma condensada, as tendências não realizadas, que representam as necessidades de tal época. A função utópica é a de romper os laços existentes e propiciar a evolução para a topia.

A evolução do ser humano e do grupo humano se faz por etapas, a tópica, do momento, e as utópicas, do por vir. O verdadeiro obstáculo à evolução, quer no indivíduo, quer da humanidade como um todo, são os motivos ocultos subjacentes às decisões individuais e coletivas que impedem a escolha do verdadeiro, do bom, do belo e do santo, que decorre do livre pensar, que inexiste na alienação mental, processo que consiste no afastamento do indivíduo da realidade à qual pertence. A alienação mental é natural no indivíduo imaturo, cultural no indivíduo ignorante e patológica na vesânia, doença mental.

Cada fase evolutiva do ser humano e do grupo humano manifesta alienação mental característica, que pode ser parcial ou total. A alienação mental parcial compreende o conhecimento possível para o indivíduo sobre o seu soma e a sua psique, em um primeiro momento apenas a nível concreto, e, em um segundo momento também a nível abstrato de pugna e de consenso próprio. A alienação mental total compreende o desconhecimento total do indivíduo sobre sua estrutura e sua dinâmica. A alienação mental grupal é sempre o somatório das alienações mentais dos indivíduos que compõem os grupos.

A cultura oferece, a cada momento evolutivo do indivíduo e do grupo, a informação e a formação necessárias para que ambos, indivíduo e grupo, consigam atuar sua personalidade e sua sintalidade na busca da racionalidade ao nível das etapas que estejam vivendo, no caminhar para a maturidade, como objetiva todo o processo educativo. As informações e formações visadas na educação devem ser verdadeiras, atualizadas constantemente, buscando assimilar todas as aquisições das ciências, das filosofias e das religiões.

Do ponto de vista dos empecilhos para os indivíduos atingirem a maturidade, o sexo tem sido um verdadeiro tormento na história da humanidade. Inicialmente associado à ideia de proibição, pecado e castigo, foi considerado um mistério que o ser humano não poderia conhecer, pois, com tal conhecimento, se assemelharia a Deus. Conhecer a verdade sobre o prazer por ele propiciado seria a libertação da ignorância, no seu todo, o que era proibido. O conhecimento atual sobre o sexo mostra suas duas funções, a da procriação e a do prazer. A função da procriação exige todas as informações para que ela seja exercida com responsabilidade. A função do prazer exige o conhecimento de todos os cuidados que o indivíduo necessita ter para consigo mesmo e para com o parceiro, no sentido de preservar, em ambos, a humanidade do ser.

Um outro empecilho para que os indivíduos atinjam a maturidade tem sido as filosofias. O conhecimento filosófico, tal como a história o registra, não oferece nenhuma teoria consistente, nenhum sistema dedutivo ao qual certas consequências observáveis se seguissem do conjunto dos fatos observados. Não se observa nenhuma conclusão consequente de princípios postos que junte algo a um saber inicial. Os princípios básicos que preexistem a qualquer teoria, e que são o de identidade, o de contradição e o de finalidade, não são explicitados em nenhuma exposição filosófica. Nem mesmo um fundamento, um princípio que pudesse abarcar todos os princípios particulares, se faz notar, seja real, material, da idéia de causa, origem, seja lógico, formal, da idéia de razão. Nota-se a falta de uma taxionomia, de uma ordenação e classificação adequada dos termos utilizados pelos diferentes pensadores, uma metalinguagem.

Outro empecilho, maior ainda, para que os indivíduos atinjam a maturidade têm sido as religiões. Cada indivíduo crê no que necessita crer, conforme o seu momento evolutivo. Nenhuma comprovação da experiência particular de um indivíduo é consistente para outro indivíduo que não tenha vivido experiência semelhante. As alternativas a respeito do destino do homem além túmulo (materialista, panteísta, eclesiástica, espírita, teosófica) não determinam, nenhuma delas em particular, diretrizes insofismáveis para o existir aqui e agora; de fato, qualquer delas pode servir para quaisquer argumentos pró ou contra as diferentes condutas possíveis. As crenças, todas utópicas, enquanto preconizam o castigo de Deus prestam um desserviço à humanidade.

Quanto mais conhece, mais o homem se torna livre para optar, para escolher sua conduta. Quanto mais livre maior sua responsabilidade pessoal e social. O conhecimento é abordado, de um lado, pela intuição e, de outro pela razão: intuicionistas e racionalistas existem em todos os tempos e em todos os lugares, assim como existem os conciliadores, os neutrais; tese, antítese e síntese apresentam-se, geralmente, em simultaneidade espacial e temporal. Problemas tais como a estática e a dinâmica das coisas e do universo, a estrutura e a dinâmica dos organismos, têm sofrido melhor tratamento pelas abordagens experimentais, racionalistas. Problemas insolúveis, como o da existência de Deus e o da origem e do destino do universo, têm-se dado melhor com as abordagens de cunho intuicionista-sentimental, ou irracionalista, ou utópico. A maior limitação decorre da cristalização dos conhecimentos adquiridos em sistemas fechados.

Da fenomenologia científica, reflexão sintética que visa a compreender e descrever o mundo a partir dos dados unificados das ciências experimentais, pode esperar-se o equilíbrio dos sistemas, um sistema médio que permaneça aberto ao progresso do pensamento nos seus dois aspectos fundamentais, intuitivo e racional. O passado da humanidade assim elaborado constitui a fonte permanente de informações válidas para um presente melhor vivido e um futuro melhor programado. Se a felicidade é o fim de toda cultura, necessário se torna programar o processamento adequado na transmissão dos conhecimentos e dos valores, educação, a fim de que cada indivíduo e cada grupo atinja, com o desgaste mínimo de energia, o máximo progresso de que for capaz.

Finalmente

A fenomenologia científica, tomando a realidade no seu triplo aspecto, podendo ser, ao mesmo tempo, a verdade, um ocultamento da verdade ou um caminho para ela, é uma reflexão sintética que visa a compreender e descrever o mundo a partir dos dados unificados das diversas ciências experimentais, procurando o equilíbrio dos sistemas, um sistema médio que permaneça aberto ao progresso do pensamento nos seus aspectos fundamentais, intuitivo e racional. O passado da humanidade assim elaborado constitui a fonte permanente de informações válidas para um presente melhor vivido e um futuro melhor programado.

O progresso do pensamento afirma a necessidade da busca da verdade sobre a verdade, o resultado do exame de cada verdade obtida, levando-se em conta o progresso do indivíduo do qual se origina, no sentido da sua própria evolução, que inclui todas as informações que terá obtido no decorrer do seu amadurecimento. O indivíduo e o grupo, bastante bem conhecidos na sua estrutura, necessitam ser direcionados na sua dinâmica para assimilarem todo o conhecimento possível sobre o seu viver e o aplicarem no seu pensar sobre o seu próprio pensamento e sobre a verdade adquirida no confronto entre sua ideia e a realidade, necessitam ser educados.

A educação visa a criação racional do homem, único meio para a obtenção da verdade, alicerce da liberdade, que vai promover a criação de uma sociedade que permita que todos, indivíduo e grupo, atinjam a plenitude da sua humanização. A integração científica das leis que regem a harmonia do indivíduo e a harmonia do todo universal reza que o indivíduo é bios, psique e soma. O organismo humano, bios, parte do organismo universal, pode ser assistido, na sua evolução e nas suas inadaptações e desadaptações, pelos conhecimentos adquiridos sobre o soma, que permitem a manutenção do temperamento sadio e o tratamento de suas perturbações. O psiquismo humano, psique, pode ser também assistido na sua evolução e nas suas inadaptações e desadaptações, pelos conhecimentos adquiridos sobre a psique, que permitem a formação do caráter sadio e o tratamento de suas perturbações. A socialização humana, socius, condição para sua humanização, exige que os indivíduos e os grupos festejem a interdependência.

A integração filosófica do pensar humano aponta para as tendências racional, intuitiva e fenomenológica, bem como para o movimento nelas observado. A tendência racional registra as tentativas de explicação da origem, do mecanismo e do destino do universo e do ser humano no universo, bem como da transmissão de tais explicações. A tendência intuitiva registra as tentativas de ampliação de tais explicações. A tendência fenomenológica registra as tentativas de ampliação de tais explicações valendo-se de uma síntese das contribuições da razão e da intuição, portanto, da participação. O conhecimento filosófico, tal como a história o registra, não oferece nenhuma teoria consistente, nem mesmo um fundamento, um princípio que possa abarcar todos os princípios particulares elaborados. Uma ordenação do conhecimento filosófico inclui, necessariamente, o conceito de que compete à filosofia unificar inteiramente o conhecimento.

A integração teológica, do pensar humano sobre Deus, aponta para as teologias afirmativas, natural e revelada, e negativa. A teologia afirmativa natural, um saber de Deus à base do conhecimento do mundo, gerou uma pluralidade de dogmas, com crenças confusas, carregada de lendas. A teologia afirmativa revelada, um saber de Deus à base de verdades comunicadas diretamente por Ele, deu origem ao monoteísmo, que fez da crença na revelação divina um dogma de fé. A teologia negativa, mística, ensina que o ser humano possui uma capacidade de comunicar-se direta e inenarravelmente, com o desconhecido, com a certeza, com a verdade absoluta. Nenhuma comprovação consistente existe contra ou a favor de qualquer das alternativas. Cada indivíduo é livre para crer no que necessita, conforme o seu momento evolutivo.

A educação, condução, é o instrumento por meio do qual os indivíduos e os grupos contam, com o ambiente adequado e com as informações corretas, verdadeiras, para evoluir até o máximo de suas potencialidades. Para que tal evolução ocorra, é necessário que os educadores, sejam os dirigentes, sejam os professores, sejam os genitores, estejam preparados para cumprir os seus misteres, tenham-se tornado adultos comunitários, humanísticos e com visão cósmica. Cada indivíduo e cada grupo receberá, assim, a orientação adequada a cada etapa e à modulação para cada etapa seguinte, pois o princípio da liberdade é inerente ao saber. O por vir da humanidade, uma realidade para alguns de nós, é auspicioso, bastando que nos congreguemos para contribuirmos para que cada vez mais indivíduos e grupos façam dele, também, o seu presente.

Esta a verdade sobre a educação!

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SOBRE O AMOR

Preliminares

O amor, um dos pilares da humanização, origina-se da afetividade, capacidade do indivíduo de sentir-se emocionalmente ligado a outros indivíduos. Ele é personalizado quando une indivíduos, manifestando-se amor amizade, amor sexual e amor cósmico, e não personalizado quando une o indivíduo às coisas ou à divindade. Os outros pilares da humanização são a administração e a educação.

Teólogos, filósofos e literatos ocuparam-se do tema amor e decantaram-no em prosa e verso. Com o advento da ciência, empírica, eidética interpessoal e eidética multipersonal, o surgimento e a evolução do amor foram descritos na sua estrutura e na sua dinâmica.

Os amores personalizados surgem em momentos definidos da existência do indivíduo, quais sejam, seis anos para o amor amizade, doze anos para o amor sexual e sessenta anos para o amor cósmico. Os amores não personalizados surgem por volta dos seis anos, e o amor místico surge por volta dos sessenta anos.

O sexo tem sido um complicador na história da humanidade, considerado um mistério que ela não poderia desvendar. A orientação sexual adequada esclarece sobre a estrutura e a dinâmica dos sexos, a procriação e as responsabilidades pessoais e sociais da sua prática.

O amor só ocorre natural e espontaneamente em um mínimo de indivíduos, os psiquicamente normais, que contam com uma personalidade equipada de um temperamento equilibrado e de um caráter voltado para o bem, que lhes permitem atuar adequadamente no intercurso amoroso. O restante dos indivíduos normais, em face da ignorância cultural, necessitam de formação ou reformulação do caráter, de orientação psicoterapêutica, para exercer o amor.

Os indivíduos psiquicamente frágeis, psicóticos, são de duas naturezas, aqueles educáveis e aqueles ineducáveis. Os indivíduos psiquicamente frágeis, psicóticos, educáveis, uma vez tendo o seu temperamento equilibrado pelo tratamento psiquiátrico, medicamentoso ou não, e o seu caráter formado ou reformulado para a prática do bem, podem adquirir e manter atitudes externas que lhes permitam ser amados. Os indivíduos psiquicamente frágeis, psicóticos, não educáveis, necessitam atendimento psiquiátrico e psicoterapêutico constante para se tornarem suportáveis.

O amor apresenta-se como a salvação da humanidade. A humanização ocorre naturalmente em um por cento dos indivíduos; treze por cento deles, tendo temperamento normal, podem ser resgatados para o amor ao formar ou reformular o caráter. Dos oitenta e seis por cento restantes, alguns, devidamente tratados psiquiatricamente e orientados psicoterapeuticamente, conseguem ser amados; os demais estão perdidos para o amor. Para evoluir, a humanidade necessita administrar o seu viver, educar-se e amar.

O Diferencial

O indivíduo, insatisfeito consigo mesmo, necessita obedecer a modelos de conduta que lhe propiciem obter a atenção de alguém, para sentir-se ligado, pertencente a este alguém. Esta ligação ocorre em três níveis, quais sejam o sub-humano, da natureza, o humano, do semelhante, e o divino, de Deus. Na concepção grega, o amor é a aspiração do menos perfeito pelo mais perfeito, que se faz apetecível e desejável. Na concepção cristã, o amor parte também do amado, mas, a rigor, há mais amor ao amado, uma vez que o amor autêntico é a tendência que tem o superior e perfeito de descer até o inferior e imperfeito com a finalidade de atraí-lo para si e o salvar.

Enquanto que, para os gregos, o Sumo Bem não necessita amar, para os cristãos Ele é o próprio amor. Para os latinos de inspiração grega, Eros é o amor natural, carnal, e Ágape é o amor pessoal, amizade; ambos, amor natural e amor pessoal, são ontológicos e metafísicos, pois a natureza e a pessoa são duas dimensões da realidade; enquanto amor puro, a Deus, ele é uma experiência mística, um êxtase.

O amor é a busca da coesão universal. Cupido, em Roma, filho de Vênus, Eros na Grécia, filho de Afrodite, manifesta-se profano ou puro; pode ser, também, celadônico, platônico, pelo mesmo sexo. Plutarco homenageou a mulher na sua obra “Do amor”. Stendhal, na sua obra “Do amor”, considerou que as pessoas adornam a pessoa amada com mil belezas imaginárias. Michelet na sua obra “O amor”, declarou que há um elemento fisiológico e fatal no amor, e que o ideal é casar. São Francisco de Sales, na sua obra “Tratado do amor de Deus”, descreveu o êxtase místico.

Na mitologia, merece destaque a fábula de Apuleio, na sua obra “O burro de ouro”, ou “Metamorfoses”, que conta o mito de Amor e Psiquê: “Psiquê, jovem grega de uma beleza deslumbrante, por quem Eros se apaixonou e que lhe prometeu a felicidade, de eterna duração, num palácio encantado, desde que ela se comprometesse a não procurar ver o rosto do seu amante. Mas Psiquê, mal aconselhada por suas irmãs, invejosas, acendeu uma lâmpada para contemplar seu esposo adormecido e deixou cair sobre ele uma gota de azeite: Eros acordou e fugiu. Desde então, começou para Psiquê uma série de provações que Vênus lhe impôs. Graças ao auxílio secreto de Eros, Júpiter interveio e Vênus perdoou Psiquê, que se tornou imortal e uniu-se a Cupido para sempre”. O mito de Psiquê simboliza o destino da alma perdida que, depois de muitas desventuras, une-se para sempre ao amor divino.

Desde sempre, teólogos e filósofos ocuparam-se exaustivamente da temática amor, enquanto que, paralelamente, a literatura a decantou em prosa e verso. Com o advento da ciência, em decorrência da evolução do pensamento, concluiu-se que o amor, que é bom, belo, verdadeiro e santo, é um dos pilares da evolução da humanidade; os outros dois são a administração e a educação. O pensamento, no ato de conhecer, começa por uma visão de conjunto, intuitiva, do objeto, depois analisa e, em seguida, faz a síntese; essa análise e essa síntese podem ser experimentais quando tratam fatos, dados concretos da experiência, e racionais quando tratam proposições abstratas. Pela razão, o homem busca a ciência, que só atinge o que é material. Os fenômenos ultrapassam, de muito, a capacidade humana de tomar consciência deles. Como consequência, surge o problema do caráter irracional do mundo, e vários sistemas se voltam para os princípios de altruísmo, fraternidade e amor.

A ciência se faz empírica, eidética interpessoal e eidética multipersonal. A ciência empírica, do soma, ensina que as sensações sexuais ocorrem desde a vida intra-uterina e que, só na puberdade, quando se dá a maturação genital, ocorrem a capacidade reprodutiva e o prazer sexual, o orgasmo. A ciência eidética interpessoal ensina que o amor surge por volta dos seis anos, com a conotação de amizade, sem ligação com as sensações sexuais, e que o amor sexual ocorre por volta dos doze anos, e vai amadurecendo com o correr dos anos. A ciência eidética multipersonal ensina que o amor amizade e o amor sexual vão-se integrando aos interesses sociais e evoluindo conforme os reclamos da comunidade, da humanidade e cósmico. O amor cósmico, o êxtase, faz-se possível na adultez, mais precisamente na adultez velha, podendo, porém, na forma infantil, mítica, ser aprendido desde cedo.

A afetividade, capacidade do indivíduo de sentir-se emocionadamente ligado a outros indivíduos, denominada afeição quando adequada, e afecção quando exagerada, origina o amor amizade, o amor sexual, o amor cósmico e o amor místico. Os distúrbios da afetividade têm início com o sentimento de abandono e se resolvem no amor, emoção central dos civilizados. Há dois níveis de relação afetiva com a realidade: choque, com agrado ou desagrado; antecipação, com busca ou evitação, compreendendo esta o medo, a cólera, a farsa, ou falso-amor, e o amor verdadeiro. O indivíduo vai-se tornando pessoa à medida que vai transformando o seu viver instintivo, impulsivo, inconsciente, em um viver racional, inteligente, consciente, o que ocorre a partir dos seis anos de idade, quando surge a personalidade, expressão do nível de conscientização dos seus componentes de temperamento, bioquímico, e de caráter, ético-social.

São componentes da personalidade: o campo vivencial, retrato da realidade, na sua evolução dinâmica, da determinação, da intenção, da imaginação e da elevação; a percepção, entrada em relação com a realidade para a conhecer, no espaço, no tempo, na duração e na unidade da estrutura dos contrários, de mecanismo e de movimento; a emoção, estado afetivo de choque e de antecipação, esta última, medo, cólera, farsa, ou falso amor, e amor verdadeiro; a inteligência sensório motora, simbólico-representativa, lógico-operatória e hipotético dedutiva; a consciência, espontânea, reflexiva e do absoluto; a moralidade, o ser-para-si da interioridade, infantil, adolescente e adulta; a sexualidade, o buscar do êxtase pela via direta do orgasmo, parcial na infância e na adolescência, total na adultez; a religiosidade, também parcial na infância e na adolescência e total na adultez.

O amor evolui conforme a aquisição das etapas que se seguem, de concreto, infantil e ingênuo, a abstrato, aguerrido, pacificador, comunitário, humanístico e cósmico. A saúde do amor, que exige um temperamento equilibrado e um caráter formado para o bem, só ocorre naturalmente, conforme os especialistas, em um por cento da humanidade, pois oitenta e seis por cento sofrem de algum tipo de fragilidade psíquica, psicose, exigindo assistência psiquiátrica para equilibrar o seu temperamento, e noventa e nove por cento sofrem de algum tipo de fragilidade moral, neurose, exigindo assistência psicoterapêutica para formar ou reformular o seu caráter. As psicoses são perturbações primárias da relação da energia com a realidade, provocando a internalização dessa energia. As neuroses decorrem de conflitos psíquicos cujas raízes se encontram na história da infância do indivíduo.

O amor manifesta-se amizade, sexual, cósmico e místico, nas idades próprias. O amor amizade inicia-se aos seis anos de idade e evolui, no plano cronológico, na adolescência e na adultez. O amor sexual só se manifesta na puberdade, com as implicações próprias da ignorância adolescente e das responsabilidades do adulto. O amor cósmico se manifesta na adultez, sendo natural na adultez velha, podendo incorporar o amor sexual e o amor amizade. O amor místico, também natural na adultez velha, é o amor à divindade, ao Criador.

As emoções menores, mas não menos importantes, são a angústia, o medo, a raiva, a farsa, a praticidade, a revolta e o pacifismo. Cada emoção aparece em uma determinada fase ontológica e permanece subjacente na dinâmica do indivíduo, podendo manifestar-se a qualquer momento em que as circunstâncias determinem a necessidade dela em função do instinto de vida. Cada fase ontológica prepara o indivíduo para a plenitude do ser.

O Amor

O amor, originado da afetividade, capacidade do indivíduo de sentir-se emocionalmente ligado a outros indivíduos, é personalizado quando une indivíduos, manifestando-se amor amizade, amor sexual e amor cósmico, e não personalizado quando une o indivíduo às coisas ou à divindade. Ele é um dos pilares da humanização; os outros são a administração e a educação.

Os Amores personalizados

O Amor amizade

O amor amizade, como todo amor, decorrente da expressão da afetividade por meio da personalidade, ocorre em função de um temperamento equilibrado e de um caráter formado para o bem. É a manifestação civilizada que resolve o sentimento de abandono que acomete todos os indivíduos desde o nascimento, a separação da matriz, provocando a angústia, o medo, a cólera e a farsa.

O surgimento do amor amizade, o primeiro dos amores, ocorre por volta dos seis anos de idade, quando o indivíduo já conta com o campo vivencial, retrato da realidade, ao nível da elevação, como campo dos valores potenciais, que abarca o conjunto dos aumentos das perfeições e dos melhoramentos que pode alcançar, tornar-se pessoa, permitindo-lhe dar o primeiro passo no sentido da participação.

A percepção da realidade, que lhe permite tomar posse dela, entrar em relação com ela para a conhecer, é a da unidade de tudo que existe, o bom e o mau, na sua concretude e na sua praticidade, o que lhe permite elaborar os relacionamentos afetivamente, procurar as oportunidades de convívio, colaborar, participar conscientemente de tudo que existe, congregar-se, amar.

A inteligência, que já lhe permite encarar os problemas de forma lógica, operar mentalmente sobre elas, abrindo o leque das possibilidades de respostas ao nível da representação do que ocorreu para chegar ao que está sendo e do que ocorreria se desfizesse o que foi feito, consegue orientá-lo no sentido de dominar as possibilidades efetivas de manifestações de cordialidade.

A consciência, o ser-para-si da interioridade, já agora reflexiva sobre o concreto, tomando a rotina como referência, organiza o seu viver de acordo com o que seja mais vantajoso no momento, abandonando as condutas desarrazoadas, que não levam ao seu objetivo, que é a busca de satisfação de suas necessidades de acordo com a rotina cultural, tornando-se ator e espectador da sua trama, buscando o companheirismo e a dedicação.

A moralidade, interpretação do “dever ser”, o buscar da razão de ser da escolha de determinadas condutas, já agora prático-utilitária, leva às indagações sobre o melhor procedimento para a vivência da ligação do amor amizade, na ética e na religião, com vistas a um constante atuar que propicie o bem-estar, para si mesmo e para as pessoas amadas, no seu cotidiano.

A sexualidade é parcial, aquela que tem como fundo apenas uma parte do todo vivencial, e é ocasional, podendo apenas colorir, de algum modo, a camaradagem que começa a aparecer, não representando interesse especial.

A religiosidade é também parcial, como resultado de uma parte do todo vivencial, e amplia o amor amizade com a necessidade de pertencer ao Criador.

O amor amizade adquire, na pré-adolescência, características que lhe são próprias. O campo vivencial, retrato da realidade, o da elevação ao nível abstrato de pugna, registra as frustrações advindas do fato de que nem todos os dados da equação vivencial se apresentam na natureza de forma clara e insofismável, e provocam a recaída na dúvida, levando à revolta contra os valores estabelecidos que não garantem a vivência tranquila da amizade.

A percepção da realidade, que lhe permite tomar posse dela, entrar em relação com ela para a conhecer, é a percepção da unidade de estrutura dos contrários, de que as contradições são aparentes e se completam num todo harmônico essencial, e bem e mal devem ser encarados em um clima de reflexão, no sentido de que têm sua razão de ser e precisam ser compreendidos na sua dinâmica.

A inteligência, ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da dúvida refletida, já se ocupa de um futuro hipotético, do que pode ser, permite uma revisão de suas angústias, fobias, obsessões e farsas e uma compreensão mais profunda do sentido da vida, em decorrência da unidade do pensamento, que lhe propicia a reflexão sobre a necessidade de lutar pelo que considera um bem.

A consciência, o ser-para-si da interioridade, já agora reflexiva sobre o abstrato ao nível da dúvida, reforça sua trajetória no sentido de tornar-se pessoa, libertar-se das rotinas culturais pré-estabelecidas, criar seu próprio estilo de vida, ser espectador-ator da trama universal, ver-se ator nessa trama, ser espectador de si mesmo no teatro da vida para garantir as condições de convivência afetiva em meio às ameaças naturais de pugna.

A moralidade, interpretação do “dever ser” ao nível da pugna no plano abstrato, retoma a dúvida do obsessivo, põe em questão não apenas os hábitos culturais, mas também, e principalmente, posições políticas, filosóficas e religiosas em geral, candidato a cidadão do mundo, inclusive como detentor do poder de reprodução, afetado pela desinformação geral sobre a vida e determinado a viver a seu modo a inclinação às devoções de amor amizade.

A sexualidade é parcial, vivida principalmente como meio de comunicação agressiva, mas já refletida e também sádica, embora como ornamento desconexo, aquisição sem função, necessitando de orientação para encaixar-se no seu viver.

A religiosidade é também parcial, e passa a ser vivida como instrumento de poder, aguerrida, tendendo a complicar os jogos do cotidiano numa guerra santa sádica.

Na adolescência propriamente dita, o amor amizade adquire as características que se seguem. O campo vivencial, retrato da realidade, o da elevação ao nível abstrato pacificador, de busca de consenso próprio, que permite o aprendizado, a elaboração intelectual do controle da agressividade, que só ocorre no plano da liberdade, buscando explicações abstratas em um clima de internalização, solidifica as devoções de amor.

A percepção da realidade, que lhe permite tomar posse dela, entrar em relação com ela para a conhecer, é também a percepção da unidade de mecanismo, aquela que leva à busca de solução dos conflitos em um clima de reflexão sobre a noção da existência de uma mecânica da vida cuja amplitude obedece a um direcionamento preestabelecido, com o objetivo de cada vez mais harmonia e amizade.

A inteligência, ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da busca de consenso próprio, já hipotético-dedutiva, permite uma revisão de suas angústias, fobias, obsessões e farsas com o objetivo de solucionar todos estes resíduos, em decorrência da unidade do pensamento, da busca de compreensão de que bem e mal se completam, procurando viver pacificamente suas relações afetivas.

A consciência, o ser-para-si da interioridade, já agora reflexiva sobre o abstrato ao nível da busca de consenso próprio, descobrindo permanentemente a si mesma na sua interioridade, refletindo-se continuamente, garantindo a vivência do ser-para-si, indagando do sentido da vida, reorientando permanentemente suas condutas, intensifica sua trajetória como pessoa, reforça seu estilo de vida e adéqua sua afetividade à rotina cultural.

A moralidade, interpretação do “dever ser”, ao nível da busca de consenso próprio, retoma a passividade do fóbico, já agora interessado em adequar os hábitos culturais e os posicionamentos políticos, filosóficos e religiosos aos seus interesses pessoais, embora despreparado financeira e culturalmente, tendendo, em geral, a sublimar praticamente todos os eventos da sua vida, com uma inclinação muito forte para sentir sua existência como um sacerdócio.

A sexualidade é parcial, vivida principalmente como meio de comunicação pacificadora, mas já refletida e também masoquista, confundindo-se com o amor ao próximo e com o sensível e o sensual com tendência à tolerância e à permanente auto-crítica.

A religiosidade é também parcial e passa a ser vivida como instrumento de congregação e tolerância, cultivando o auto-sacrifício, a aceitação masoquista do martírio.

Na adultez jovem, o amor amizade adquire as características que se seguem. O campo vivencial, retrato da realidade, o da elevação ao nível abstrato de cooperação com a comunidade, levando-o a unir-se cada vez mais aos semelhantes, em decorrência do registro de que o social é uma força a ser considerada, e de que é necessário buscar explicações abstratas para o mistério da vida, faz com que o cultivo da amizade seja o seu maior intento.

A percepção da realidade, que lhe permite tomar posse dela, entrar em relação com ela para a conhecer, é a percepção da unidade de mecanismo caminhando para a da unidade de movimento, a noção de que, no indivíduo e fora dele, tudo que ocorre depende de opção e de ação, e de responsabilidade pela ação, e que o movimento da mecânica da vida é universal e a amizade é o motor dele para o bem.

A inteligência, ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da cooperação no plano comunitário, firma seu tipo peculiar de reação diante da vida, seu estilo pessoal, que vai determinar seus interesses de ordem pessoal e profissional e a forma de comerciar com as pessoas mais adequadamente, de maneira justa e honesta, cooperativa, com base na amizade.

A consciência, o ser-para-si da interioridade, é a consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da cooperação no plano comunitário, garantindo a vivência na objetividade do ser-para-os-outros, constatando que toda ação sua provocará reação de alguém, direta ou indireta, imediata ou retardada, e preocupando-se com sua própria personalização e com a personalização dos demais indivíduos.

A moralidade, interpretação do “dever ser”, ao nível da busca da consolidação da independência e das devoções de amor à família e à comunidade, retoma o senso prático e utilitário do latente, já agora no sentido do bem comum, procurando também adequar seu mundo às suas necessidades, estabilizando sua vivência reflexiva no sentido de cada vez mais autocorreção e de busca de uma moralidade sempre crescente.

A sexualidade é total, satisfeita de modo consentido e programado, em um contexto de vida em que o sexo é utilizado para a obtenção do maior prazer possível, que pode incluir a formação do lar e a procriação, cabendo ao indivíduo assumir os cuidados com o parceiro e a criação dos filhos.

A religiosidade é também total, vivida em função da busca de adequação aos interesses da comunidade, do lar, da procriação programada, uma religiosidade socializada.

Na adultez madura, o amor amizade adquire as características que se seguem. O campo vivencial, retrato da realidade, o da elevação ao nível abstrato de cooperação com a humanidade, vivendo a elevação em um clima de cada vez maior externalização e elaboração das suas condutas, sempre com vistas à consolidação da sua estabilidade, exige dele levar em conta o bem da humanidade, o que o faz consolidar a confraternização com a totalidade humana.

A percepção da realidade, que lhe permite tomar posse dela, entrar em relação com ela para a conhecer, é a percepção da unidade de mecanismo coroada pela unidade de movimento, aquela que o leva a refletir sobre a lei primeira, a lei geral da harmonização, que rege o movimento do universo como um todo, e lhe permite perceber o que é verdade e o que é ilusão, na concepção mais geral do sentido da vida como um todo.

A inteligência, ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da humanidade, atuando fora da esfera do observável, do sensível, e necessitando intuir como foi o universo antes do seu nascimento e como será depois do seu fim, seu estilo de vida estando definido, participa no processo evolutivo, seu e dos grupos dos quais é membro, sempre no sentido da integração pessoal e coletiva, da amizade.

A consciência, o ser-para-si da interioridade, é a consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da cooperação no plano da humanidade, consolidando a vivência na objetividade do ser-para-os-outros, ampliando cada vez mais o ser-para-si, procurando abranger, na sua visão, o dentro e o fora das coisas, o espiritual e o material, buscando uma representação coerente do mundo, sentindo-se integrado afetivamente e atuante.

A moralidade, interpretação do “dever ser”, ao nível da organização no sentido da cooperação com a humanidade além das convenções e contribuindo para a evolução dos seus semelhantes, é realista, da realidade total, determinando um único papel, existir, com as variáveis de conduta necessárias a cada circunstância, contando com uma maioridade oficial e universal, como cidadão do mundo, cultivando sempre a amizade.

A sexualidade, total, contando com organização no sentido da cooperação no plano humanístico, amplia sua atuação como meio de comunicação ao nível consumatório superior, visando a humanidade toda como uma grande família.

A religiosidade, também total, amplia sua atuação como meio de comunicação ao nível consumatório superior, visando ao bem da humanidade.

Na adultez velha, o amor amizade adquire as características que se seguem. O campo vivencial, retrato da realidade, o da elevação ao nível abstrato de integração com a totalidade cósmica, levando ao registro da possível existência de uma força maior, a da totalidade universal, que subordina a força da totalidade humana, vive a necessidade de compreender a pré-vida, o pensamento e a sobrevida, como o fenômeno mais extraordinário do universo que ele é.

A percepção da realidade, que lhe permite tomar posse dela, entrar em relação com ela para a conhecer, é a percepção na unidade de movimento do absoluto, pois, na sua plenitude, a paisagem da vida decifra-se e se ilumina, do mais leve repouso ao mais agitado revolver-se, como o caudal que dá sentido ao micro e ao macro, ao ínfimo e ao imenso, a fraternidade garantindo a manutenção da unidade.

A inteligência, ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da totalidade, respondendo aos estímulos internos e externos em termos de abstração sobre o abstrato, atuando no terreno da possibilidade, representando o futuro mais distante e imaginável, com base no que pode ter sido o passado ignoto, direciona seus conceitos e suas ações como cidadão do universo.

A consciência, o ser-para-si da interioridade, a consciência do absoluto, a retomada de conhecimento do que se dá na consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da cooperação no plano cósmico, pautando o seu viver na aceitação da realidade, com estados de equilíbrio cada vez mais flexíveis, a fim de colaborar conscientemente na consecução das metas da harmonização do todo e no todo.

A moralidade, interpretação do “dever ser”, é a moralidade da liberdade plena, contribuindo na preparação das mentalidades para os eventos históricos que estão por vir, compreendendo o sentido da sua história e o sentido da história da humanidade na busca dos valores, a superação dos pré-conceitos e a participação ativa na evolução das pessoas e dos grupos aos quais esteja ligado, na preparação para o futuro.

A sexualidade, total, contando com organização no sentido da cooperação no plano universal, amplia sua atuação como meio de comunicação integrada, de unificação cósmica com o universo energético total, como antecipação das bodas místicas da temporalidade com a eternidade.

A religiosidade, também total, amplia sua atuação como meio de comunicação integrada, de universalização do espírito, visando ao bem universal.

O Amor Sexual

O amor sexual, como todo amor, decorrente da expressão da afetividade por meio da personalidade, ocorre em função de um temperamento equilibrado e de um caráter formado para o bem. É a manifestação civilizada que resolve o sentimento de abandono que acomete todos os indivíduos desde o nascimento, a separação da matriz, provocando a angústia, o medo, a cólera e a farsa, e o amor amizade, já agora coroado pelo surgimento da maturidade genital, que permite o orgasmo e a reprodução.

O surgimento do amor sexual, o segundo dos amores, ocorre por volta dos doze anos de idade, embasado no amor amizade, que lhe dá o respaldo em todas as suas fases de desenvolvimento, e na sexualidade, coloratura de cada fase desse desenvolvimento. O amor sexual manifesta-se pré-adolescente, adolescente, adulto jovem, adulto maduro e adulto velho, bastante conhecido pela ciência empírica e eidética, interpessoal e multipersonal, na sua conjuntura somatopsicossocial, mas pouco conhecido pela política, pela filosofia e pela religião.

O pré-adolescente, um ser querelante, tomado pela cólera e pela dúvida, naturalmente sádico e aguerrido, procura respostas de dúvida arrazoada para os seus problemas, já contando com a floração sexual e a capacidade de abstração. Necessita ele receber informações corretas sobre essas novas funções, para as quais se encontra despreparado de todas as formas, incapaz de assumir o amor sexual e suas consequências, quer como compromisso pessoal, quer como compromisso social.

O adolescente, um ser pacificador, em busca de consenso próprio, já com as peças do seu organismo recém-surgidas, a floração sexual e a capacidade de abstração encontrando seu lugar no conjunto, aparecendo como membros articulados de um todo funcional, procura respostas adequadas para seus problemas, num clima de medo refletido. Necessita ele, ainda, de muitas informações sobre a vida, principalmente sobre as regras do jogo sexual, do amor sexual e do amor em geral, incapaz de amar sexualmente de forma integrada.

O adulto-jovem, um ser comunitário, aquele que, capaz de garantir sua sobrevivência e de assumir a reprodução como necessidade pessoal e social, suas funções sexuais e sua capacidade de abstração tornadas habituais, seu organismo todo funcionando de forma integrada e harmoniosa, chega aos albores da sensação de plenitude. Necessita ele, ainda, de informações sobre a vida, mas já no plano do absoluto, da imensidade espacial, e de consolidação da independência e das devoções de amor à família e à comunidade.

O adulto maduro, um ser humanístico, aquele que, garantida sua sobrevivência, que inclui a reprodução como necessidade pessoal e social, vive com maior empenho a busca de compreensão, organização e interiorização, no sentido de cada vez maior personalização, de atualização do seu existir. Sua vivência é a vivência da plenitude do ser que decidiu existir, participar, comprometer-se conscientemente com a existência além dos limites do viver simplesmente comunitário, buscar permanentemente a verdade.

O adulto velho, um ser cósmico, aquele que, cumprido o seu papel pessoal e social, vive a plenitude iluminada, daquele ser humano que, existindo, comprometido com a existência, atua como modelo, reconhece que o destino do mundo depende da atuação de cada um em particular e de todos em geral. Mantém ele o espírito de comunhão de todos os amores, torna mais vigorosa sua participação na unificação do universo, atualiza o binômio evolução e fé. Servir e amar, servir com amor, agora e sempre, torna-se o seu lema até o fim.

O Amor Cósmico

O amor cósmico, como todo amor, decorrente da expressão da afetividade por meio da personalidade, ocorre em função de um temperamento equilibrado e de um caráter formado para o bem. É a manifestação civilizada que resolve o sentimento de abandono que acomete todos os indivíduos desde o nascimento, a separação da matriz, provocando a angústia, o medo, a cólera e a farsa, e o amor amizade coroado pelo amor sexual, e já agora ambos completados pelo surgimento do êxtase, a comunhão com o absoluto.

O surgimento do amor cósmico, o terceiro dos amores, ocorre por volta dos sessenta anos de idade, embasado no amor amizade e no amor sexual, que lhe dão o respaldo para a sua existência. O amor cósmico manifesta-se na adultez velha, do ancião sábio, quando a síntese biológica da reflexão ocorre no seu mais alto grau, sob as forças da compreensão, da organização e da interiorização, levando à aspiração da eternidade. O retrato que tem do mundo é o da totalidade cósmica, num movimento unificado de devoção ao mistério, a tudo que é.

O amor cósmico, coroamento da felicidade, em decorrência da vivência mística, bem-estar do corpo, da experiência mística, bem-estar psíquico, e do êxtase místico, bem-estar espiritual, é o amor decorrente da liberdade plena. O adulto velho, com base na amizade, com ou sem amor sexual, vive em permanente êxtase místico, em harmonia com a temporalidade iluminada pela idéia de eternidade, antecipação, pelo amor humano, do amor definitivo, místico, ao Criador.

Os Demais Amores

O amor, a manifestação civilizada que resolve o sentimento de abandono, é personalizado quando se refere ao intercurso entre pessoas, seja amor amizade, seja amor sexual, seja amor cósmico. Ele pode referir-se à afetividade em geral, o amor à natureza com tudo que ela representa, o amor ao lazer, o amor ao esporte, o amor ao trabalho, o amor ao conhecimento, o amor às artes, o amor a um suposto Criador que pode referir-se à experiência direta com ele, o amor místico.

O amor místico apresenta um divisor de águas que necessita ser bem compreendido. Ele é um corolário do amor cósmico naquilo em que extrapola o terreno da ciência e chama para si elementos explicativos da crença e da fé. Mística é a contemplação que chega até ao êxtase e une misteriosamente o homem à divindade. A experiência mística é o coroamento das sete funções vitais no seu mais alto grau de integração, um fenômeno místico, que decorre de uma estrutura e de uma dinâmica específicas.

Na sua estrutura, o fenômeno místico é psicológico de evolução biológica, inserido na fenomenologia universal, uma culminância pouco comum, dificilmente concebível para aqueles que se encontram nos planos da normalidade atual. Sua estrutura vibratória coloca-o diretamente em consonância com a vibração cósmica, universal, pelo processo do amor, passando da vibração à ressonância, à sintonização, à afinidade e, finalmente, à unificação, em um movimento cuja meta é o êxtase místico, a comunhão direta com o Criador.

Na sua dinâmica, o fenômeno místico, psicológico, de evolução biológica que é, sempre existiu, em todos os tempos e em todos os lugares, como atestam inúmeros relatos históricos. A compreensão, o método da noologia, teoria do espírito, torna a ascese, fenômeno de evolução, de harmonização e de unificação, um método, e afirma a existência de uma metodologia mística para a transmutação para se chegar a Deus, que consiste na absorção do eu inferior no eu superior, deslocando o centro de gravidade da vida para um mundo hiperbiológico, um arrebatamento.

Um místico assim descreve o que sentiu: “Chega-se à unificação com Deus depois de se haver compreendido, numa síntese conceptual, o funcionamento orgânico do universo, fundindo-se e identificando-se com a alma universal! … Através do amor realiza-se o mistério da unificação… em todos os sentidos uma sublimação suprema… Medidas humanas não nos servem… no infinito… Guiou-me ao centro, de esfera, em esfera, um cântico de amor. Deslizando ao longo da sinfonia dos fenômenos e da teoria dos seres, o meu espírito subiu a Deus”.

O amor místico é esotérico, interior, indizível, as bodas da temporalidade com a eternidade, com o mistério, com o Criador. Tal fenômeno só é do conhecimento de quem o vive, podendo ser acreditado apenas pela crença no Criador e pela fé daqueles que conheceram o relato dos místicos e que constataram sua sanidade no seu viver. Vivido a primeira vez o amor místico, o espírito não o pode esquecer e passa a devotar toda a sua existência na busca de repeti-lo e o manter.

A Dificuldade

O amor, um sentimento imponderável, implica em intercurso entre pessoas, entre pessoas e coisas e entre a pessoa e a divindade. Quem necessita mais de quem, o amante ou o amado, é questão polêmica desde sempre, considerando os gregos que o amado não necessita retribuir ao amante, e os latinos que o amante necessita salvar o amado. As tramas de amor são várias e constituem a temática universal que tem inspirado teólogos, filósofos, literatos, músicos, escultores e pintores através dos tempos.

Todos aqueles que se ocuparam do tema amor, antes do advento da ciência, cometeram erros crassos, confundindo-o ora com elementos advindos da ignorância sobre a sexualidade, ora com elementos advindos da ignorância sobre os valores morais que devem nortear o caráter dos amantes. Os tabus sobre a prática sexual causaram a comicidade no exercício dessa atividade. O desconhecimento dos valores morais conspurcou o sentido da prática amorosa.

Os amores, ao se manifestarem, estão sujeitos às prerrogativas das idades em que se manifestam, o amor amizade aos seis anos, o amor sexual aos doze anos, o amor cósmico e o amor místico aos sessenta anos. Somente um por cento da humanidade apresenta, naturalmente, o amor na idade que lhe é própria. Treze por cento são prejudicados pela ignorância cultural que os acomete, necessitando de orientação psicológica para manifestar o amor na idade adequada.

Uma vez que só quatorze por cento da humanidade manifestam saúde psíquica que os capacita para amar, há que resgatar, dos oitenta e seis restantes, aqueles que, embora sofram limitações psíquicas, possam agir normalmente tendo seu temperamento psiquiatricamente equilibrado, manifestando o amor, por meio da formação do caráter, pelo menos na manutenção das atitudes externas que os permitam fazer-se amar. Os demais indivíduos necessitam atendimento psiquiátrico e psicoterapêutico constante, para conseguirem manter as atitudes adequadas para se tornarem suportáveis pelos parceiros.

No caminho das patologias mentais encontram-se os psicóticos, que vivem à margem do comércio com o mundo. Há os neuróticos, ignorantes culturais, associados à psicose. As condutas de cada indivíduo, em cada momento do seu viver, vão ocorrer de acordo com suas deficiências, acopladas às deficiências do parceiro, dando origem a toda espécie de conflito.

Há, pois, o indivíduo normal, capaz de amar, e o indivíduo psiquicamente frágil, incapaz de amar. Alguns indivíduos psiquicamente frágeis são capazes de aprender as condutas adequadas para obter o amor. Para a maioria da humanidade, o amor é uma utopia, inexistente. Os relacionamentos são, em geral, incoerentes, conflitivos, havendo necessidade constante de orientação psicológica para atenuar os atritos por meio de mediações. A ausência de amor é o grande mal que afeta a humanidade.

Finalmente

Se a finalidade última do homem é a criação racional do próprio homem, se a humanização é fundamental para a humanidade toda, e se só haverá futuro para a humanidade se os dirigentes se conscientizarem de suas responsabilidades, os pilares da humanização devem ser a preocupação máxima de todos: a administração, a educação e o amor.

O bem-estar do corpo, a vivência mística, exige que a humanidade se ocupe da sua sobrevivência, o que vai determinar todas as providências para este fim, com uma administração esclarecida de todos os empreendimentos necessários, sem a escravização aos produtores de bens, e sem o desrespeito à humanidade do ser.

O bem-estar psíquico, a experiência mística, exige que a humanidade se ocupe da sua educação, o que também vai determinar todas as providências para este fim, que incluem uma programação adequada das informações necessárias em todos os níveis do ensino, e da formação profissional e da formação do caráter de todos os indivíduos.

O bem-estar espiritual, o êxtase místico, exige que a humanidade se ocupe do amor, o que também vai determinar a assistência aos indivíduos na sua evolução no tocante ao viver equilibrado dos amores personalizados e não personalizados com a abertura cultural necessária para a compreensão do amor místico.

A base cultural necessária para o surgimento e o cultivo do amor, em todas as suas manifestações, exige notícia adequada das contribuições das religiões, das filosofias e das ciências depuradas dos preconceitos, das mistificações, das falácias promocionais de inverdades.

Pode notar-se que as religiões, sendo utópicas, têm prestado um desserviço à humanidade, a exceção da Lei Mosaica promulgada pelos Judeus, que tem perdurado através dos tempos, e os ensinamentos cristãos de fé, esperança, caridade e amor, de relevante e significativa duração.

A Lei Mosaica ensina a reverenciar um único deus, não esculpir imagens, respeitar o nome de Deus, santificar o sábado, honrar o pai e a mãe, não matar, não cometer adultério, não furtar, não dar falso testemunho, não cobiçar os bens do próximo, ensinamentos estes que são a base da saúde mental e do viver o amor.

Os ensinamentos cristãos resumem-se em duas máximas que são: “Amai a Deus sobre todas as coisas”, e “Amai-vos uns aos outros”. O amor a Deus, amor místico, é o coroamento de todos os amores, e o amor ao próximo é a realização de todos os amores personalizados, em busca de suavizar o abandonismo, a solidão.

As filosofias concluíram que os fenômenos ultrapassam, de muito, a capacidade humana de tomar consciência deles. Como consequência, surge o problema do caráter irracional do mundo, e vários sistemas se voltam com ardor, para os princípios de altruísmo, fraternidade e amor.

No sentido do conhecimento ético, aqueles que desejaram, pela razão, estabelecer o que é e o que não é moralmente válido, chegaram à conclusão da necessidade de se estabelecerem limites para a liberdade individual, proclamando que o homem deve aspirar ao melhor para o maior número de pessoas, e que o sentimento é que dá validade existencial ao materialmente valioso.

Uma visão atual do conceito de patologia trouxe uma nova luz para a descrição dos indivíduos, não os considerando doentes na sua maioria, mas apenas não evoluídos. Esta nova visão da questão está focada no conhecimento sobre os problemas mentais e modifica as percepções sobre o temperamento e o caráter.

De qualquer forma, levadas em conta todas as considerações sobre o tema, pode concluir-se que a salvação da humanidade está no amor, em aprender a amar, o que exige que os indivíduos sejam assistidos em todas as suas necessidades, aprendam todas as verdades e cultivem o amor em todas as suas instâncias.

Esta a verdade sobre o amor!

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SOBRE A PAZ

O Universo, tudo que existe fisicamente, a totalidade do espaço-tempo, todas as formas de matéria, incluindo todas as galáxias, com seus planetas e satélites, as estrelas e os componentes do espaço intergaláxico, contém a Terra, planeta cenário da humanidade, e, no seu todo, é harmonia, visa harmonia, trabalha a harmonia, razão pela qual toda a ação humana deve harmonizar-se como conjunto dos determinismos universais.

Ser humano é pensar. Cada indivíduo se expressa, em cada momento da sua vida, em função do nível de integração dos seus componentes de temperamento (bioquímico) e de caráter (ético-social) que vão compor a personalidade, sua forma de ser. Ele se torna pessoa em função da transformação do seu viver instintivo, impulsivo, inconsciente, em um viver racional, inteligente, consciente.

Pode considerar-se a humanidade, no seu todo, uma entidade em evolução, uma pequena parte dos indivíduos tendo atingido, espontaneamente, as etapas evolutivas esperadas na adultez. Pelo que tem sido observado, a maioria da humanidade se encontra cristalizada nas fases anteriores, pela ordem, infância e adolescência, esta nas suas duas etapas, a da revolta e a do pacifismo.

Os indivíduos cristalizados na infância, que constituem a grande maioria, manifestam, condutas de medo e raiva, sendo que um fenômeno universal está ocorrendo na humanidade, com o despontar franco e decisivo da fase da farsa, da escamoteação, quando alguns evoluíram abertamente na busca de meios espúrios para satisfazer suas necessidades.

Os indivíduos chamados corruptos são os que, com o tempo, evoluíram da angústia, do medo da angústia e da raiva do medo da angústia para a farsa, necessitando serem conduzidos para a praticidade, forma infantil de obterem a satisfação de suas necessidades sem se prejudicarem e sem prejudicarem terceiros.

Os pré-adolescentes transformam sua raiva em revolta contra tudo e todos que se antepõem à satisfação de suas necessidades, e se valem, para esse fim, da manipulação dos indivíduos fixados na fase infantil. Os adolescentes propriamente ditos transformaram o seu medo em pacificação, manipulando os indivíduos fixados no medo a fim de obterem os seus objetivos de paz.

Os adultos encaram suas responsabilidades pessoais e profissionais, na comunidade e na humanidade como um todo, procurando amparar e orientar os infantis e os fixados na infância a superar seus medos e sua raiva, e os adolescentes fixados na adolescência a superar sua revolta e seu pacifismo pouco racional, de acordo com a capacidade de cada um, com vistas à busca do maior bem-estar possível.

Tanto o ser humano em si, quanto a humanidade no seu todo, manifestam uma evolução previsível, razão pela qual o sistema evolutivo de ambos se faz compreensível e capaz de intervenção no seu caminhar. O conhecimento da pré-vida e da vida e a suposição da pós-vida permitem ao ser humano e à humanidade atuarem nessa evolução.

A proporção de indivíduos nas diferentes etapas evolutivas, infância, adolescência e adultez, e nos diferentes descaminhos do temperamento (psicose) e do caráter (neurose) permanece praticamente a mesma desde que as organizações mundiais de saúde se manifestaram a respeito, ou seja, 14% de indivíduos com temperamento saudável e 86% de indivíduos com caráter sob suspeição.

O temperamento, substrato bioquímico da personalidade, necessita ser tratado no seu todo, todo o tempo, a fim de poder oferecer o equilíbrio do indivíduo nos seus momentos de angústia, medo, raiva e farsa, para propiciar o surgimento da razão nas fases posteriores de praticidade, revolta, pacificação e maturidade nos seus diferentes aspectos.

A saúde do temperamento é imprescindível para o surgimento do caráter nos albores da racionalidade. Sem ela, o caráter pode, simplesmente, inexistir, ou mergulhar nos dissabores de uma fixação em desvalores e ideais irracionais que levem os indivíduos a condutas prejudiciais a eles mesmos e aos demais indivíduos.

A tão decantada globalização, ideada, mas pouco efetivada, para garantir um futuro melhor programado em todos os seus setores, necessita levar em conta os pilares da cultura: uma administração e uma educação que, além dos seus fins precípuos contribuam para a criação racional do próprio homem, num clima de amor, que o capacite a sentir-se emocionalmente ligado à humanidade nos seus diferentes patamares.

A meta do ser humano, a felicidade, decorre da aquisição da vivência mística, bem-estar do corpo, da experiência mística, bem-estar psíquico e do êxtase místico, bem-estar espiritual. A felicidade depende, para sua permanência, do estado de paz, equilíbrio entre as necessidades dos indivíduos. A paz, o ideado éden terreno, é possível desde que cada indivíduo busque a sua paz individual e contribua para a paz dos demais.

Necessária se faz a organização de todas as nações em um único bloco, cuja administração se encontre nas mãos de adultos maduros em todos os seus setores, principalmente no da educação, a fim de garantir, além dos seus fins precípuos, a formação do caráter de todos os indivíduos no sentido da busca permanente da racionalidade.

Minha vida, quer pessoal, quer profissional, sempre foi voltada para a educação e a reeducação, quer como professora, quer como psicóloga. Minha infância percorreu sem problemas, bem como minha adolescência, nas suas duas fases, e minha adultez, nas suas três fases. Encontro-me na minha idade provecta de noventa e um anos, e minha trajetória de vida encontra-se na minha apologia de Deus.

Minhas atividades, sempre voltadas para a educação do caráter, levaram-me a elaborar teses sobre a necessidade e a aplicabilidade da psicologia à educação, quer de crianças, quer de adolescentes, quer de adultos. Especializei-me no estudo da evolução do ser humano e do grupo humano e na intervenção psicológica para a evolução do caráter dos indivíduos em ambas as situações.

Além de lecionar as disciplinas psicologia da educação e psicologia da personalidade, apliquei sempre, nesse mister, e na minha clínica, os princípios exarados na técnica de intervenção psicológica na formação do caráter, por mim elaborada, e que me levou à minha Teoria, que denominei analítico-fenomenológico existencial, pelo estofo dela.

No meu afã, cheguei a aplicar minha técnica na formação do caráter de dirigentes e professoras de um jardim de infância e de um grupo escolar, e nos dirigentes, psiquiatras e funcionários de três hospitais psiquiátricos, todos pertencentes ao Estado e a mim cedidos para minhas pesquisas acadêmicas, que resultaram em doutorado, livre-docência e cátedra (hoje denominado título).

Tudo indica que a intervenção psicológica para a formação do caráter por mim elaborada funciona, pois funcionou durante décadas por mim orquestrada e continua funcionando nas atividades diárias dos colegas formados por mim, que criaram uma Fundação à qual deram o meu nome e que continua formando profissionais especialistas nela.

A pergunta milenar “tem futuro o homem? ”, e, a mais genérica “tem futuro a humanidade? ”, pode-se responder afirmativamente, desde que os dirigentes dos diversos segmentos da sociedade apliquem a intervenção psicológica nas entidades comuns para elas se tornarem globais, aquelas que também preparam indivíduos e os grupos para a busca permanente do verdadeiro e do valioso.

Ao noticiarmos a verdade sobre a administração e sobre a educação pormenorizamos os procedimentos técnicos para as tornar, de entidades comuns, a entidades globais. Convém salientar aqui que indispensável se faz a criação, nas grades programáticas das escolas, da disciplina orientação da conduta, no ensino fundamental, e a da formação do caráter, no decorrer de todo o ensino médio e superior.

O por vir da humanidade, já uma realidade para alguns de nós, é auspicioso, desde que o ser humano consiga cultivar o espírito crítico na busca da verdade, e da verdade sobre a verdade. O conhecimento filosófico deve oferecer uma teoria consistente, um sistema dedutivo ao qual certas consequências observáveis se sigam do conjunto dos fatos observados; compete à filosofia unificar inteiramente o conhecimento.

Quanto à teologia, não há nenhuma comprovação consistente contra ou a favor das alternativas apresentadas, as teologias afirmativas, natural e revelada, e a negativa. O conflito permanente dos povos quanto a aceitação de uma ou de outra, gerando guerras sem fins, decorrem da imaturidade dos seus seguidores. Cada indivíduo necessita crer naquilo que o seu momento evolutivo o induz a crer.

A fenomenologia científica busca o equilíbrio dos sistemas, um sistema médio que permaneça aberto ao progresso do pensamento nos seus dois aspectos fundamentais, intuitivo e racional. Assim sendo, pode deduzir-se que os cientistas estarão sempre buscando conhecimentos que promovam o bem-estar físico, os filósofos estarão buscando a verdade sobre o pensamento, e os teólogos a verdade sobre Deus.

Se a felicidade é o fim de toda cultura, se só a verdade liberta, se só há liberdade se os indivíduos podem expressar seus pensamentos e ações, pode concluir-se que a paz necessita da administração de todos os bens e da educação de todos os indivíduos; uma vez que os infantis e os fixados na infância necessitam ser orientados na sua conduta, os adolescentes necessitam formar o caráter e, os adultos, aprimorá-lo.

A paz demanda um trabalho incessante de toda a humanidade, o tempo todo, em todos os seus afazeres, a fim de que o planeta subsista e evolua em todas as suas esferas, cada indivíduo também subsista e evolua de acordo com o seu potencial, e a harmonia se faça em todos os setores material, orgânico e espiritual, este último como elo entre a vida e a pós-vida, esta última uma utopia, sem lugar na realidade.

Esta a verdade sobre a paz!

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SOBRE DEUS

O universo aí está, no espaço sideral, a terra no universo, o homem na terra; logo, algo ou alguém os criou. Ser é tudo que existe. Ser humano é pensar. Pensando, o ser humano raciocina para conhecer. Ele nasce, vive e morre só. Sua solitute o leva à necessidade de se comunicar para sobreviver, pois ele não se basta. De sua peregrinação do berço ao túmulo, ele é um ser de relação e evolução.

A história do ser humano fala da sua ansiedade em conhecer a terra em que habita. Como observador, pela sua condição, ele se encontra limitado na sua capacidade de percepção da realidade. A verdade, encontro da ideia com a realidade, tem sido única para cada indivíduo em cada momento de sua evolução, e decorre de uma labuta permanente.

A verdade sobre o universo, sua origem, seu périplo, seu fim, como é visto atualmente, mostra que a humanidade continua insegura diante dos azares da natureza, uma vez que todos os argumentos explicativos sobre o tema vêm dele mesmo, observador, e carecem de fundamento real, fazendo com que ele continue temendo o desafio de viver plenamente cada instante.

O ser humano, desde sempre inseguro diante dos azares da natureza, desenvolveu uma sensação de temor ao desconhecido, que teria dado origem a um sentimento de religiosidade, de religação com sua origem ignota, gerando a necessidade de reverenciar forças ocultas, simbolizá-las e procurar angariar suas bênçãos, sua proteção.

Num primeiro momento, a tradição, sob a forma de ritos e dogmas, perpetuou fórmulas míticas apaziguadoras e propiciatórias. Necessariamente feiticista de origem, a ideia religiosa manifestou-se cosmológica e/ou antropomórfica. Egípcios, assírios, fenícios, persas, cartagineses, gregos e romanos, gauleses, germanos, cada qual apresentava sua versão politeísta, com dogma incerto, crenças confusas e carregadas de lendas. O culto, em geral local, algumas vezes nacional, era concebido como uma espécie de contrato entre o homem e as divindades. No final do mundo antigo, os cultos aos diversos deuses se confundiram num largo sincretismo, apresentando vasto panteão, levando às reflexões de cunho antropológico que se seguiram.

Num segundo momento, o ser humano desenvolveu um permanente anseio de comunicação com a divindade. Sabia ele que os argumentos que desenvolvia para explicar a origem e o destino do mundo, e sua própria origem e destino, vinham dele mesmo e careciam de fundamento real. Imaginou que o Criador lhe trazia a verdade, só possível de ser conhecida pela revelação. Em toda a história antiga da religiosidade encontram-se passagens em que uma visão direta da verdade é registrada. O monoteísmo fez da crença na revelação um dogma de fé, no judaísmo, no cristianismo e no espiritismo.

Num terceiro momento, o ser humano passou a desejar comunicar-se, direta e inenarravelmente, com o desconhecido, com a certeza, com a verdade absoluta. Trata-se de um contato do indivíduo com o mistério do mundo, que suscita uma iluminação interior da alma, que a faz conhecer, sem ser capaz de enunciar, a essência e a existência da realidade divina. É um superconhecimento indizível, uma passagem direta, imediata, do imanente para o transcendente, um mergulho da pessoa no seu próprio ser e na realidade total, na consciência absoluta do mistério, como rezam a teosofia, a mística cristã e a mística espírita.

A mística, no seu mais alto nível, o do êxtase, é considerada a atividade espiritual que aspira a conseguir a união da alma com a divindade, seja por meio do ascetismo, da devoção, do amor ou da contemplação. No êxtase místico, a alma participa da divindade, estabelecendo com ela uma unidade de vida. O êxtase místico é indizível, pois aquilo de que não se pode falar deve ser silenciado. O próprio exame do pensamento místico se torna sem sentido por ser o exame da tradução do indizível, portanto, um mito.

O mito, exposição simbólica de um fato, tradição em forma de alegoria que diz respeito a um grande acontecimento, utópico, quimérico, fantasioso, imaginário, tentativa do pensamento de preencher o vazio deixado pela ignorância, vem impedindo a evolução espiritual dos povos. A utopia sadia, diferentemente da mítica, aponta para um porvir cheio de fé e de esperança na vitória da bondade, da paz e da harmonia universais, festejando a existência do Criador.

A crença na existência do Criador e de que Ele deseja a felicidade de todos, razão pela qual capacitou cada ser humano com a faculdade de configurar na sua mente um retrato da realidade e de trabalhar esse retrato, seu campo vivencial, de modo a perceber cada vez mais a amplitude do seu viver no mundo, controlar as emoções menores, cultivar a emoção maior, o amor, com inteligência cada vez mais aguçada a caminho da consciência do todo e a adoção de uma moralidade, uma sexualidade e uma religiosidade universais, o faz apto para se amar, amar a todos, amar e servir, a meta que acalenta.

Pode falar-se em uma evolução da mística, uma vivência mística, o bem-estar do corpo, uma experiência mística, o bem-estar psíquico, e um êxtase místico, o bem-estar espiritual, no caminho da mística total, uma figura natural, aquela que tem como fundo o todo universal. O outro êxtase místico, aquele propiciado pela graça da visita do Criador, é individual, único, inefável, indizível e objeto da crença ou da descrença dos que não tiveram a felicidade de o sentir.

A crença na existência do Criador e a experiência de sua visita, constituindo os dois caminhos, o da fé e o da comunhão com Ele, vêm sustentando o equilíbrio emocional do indivíduo, em particular, e da humanidade como um todo, possibilitando o viver místico, parcial ou total, conforme a qualidade do seu existir. Na sua estrutura, o espírito, nous, dependendo do soma, se faz, inicialmente, indiferenciado, e vai-se diferenciando até sua integração final. Na sua dinâmica, ele vai-se manifestando em função da evolução estrutural.

Fala-se em três caminhos de evolução do nous, o do céu, o da terra e o do homem. O do céu, a ordem do espírito ao qual não pesa a matéria, o não ser, o desapego, a não resistência, o profundo, o interior, a tranquilidade suprema, o vazio, o nada, a essência, o eterno, leva à renúncia e a um mergulho beatífico no oceano da harmonia da divindade. O da terra, a ordem do espírito submetido à matéria que o contém, o ser, o apego, a resistência, o superficial, o exterior, a intranquilidade total, o pleno, o tudo, a aparência, a temporalidade, leva à busca da fundamentação. O do homem, o da psique, o caminho do meio, o da cópula entre o do céu e o da terra, leva à busca de sintonização com as zonas superiores da sua evolução, que lhe vão propiciar viver, cada vez mais, a eternidade na temporalidade.

A crença na existência do Criador, uma afirmação natural para o raciocínio, baseando-se no fato de que o universo é, a terra é, o homem é, uma vez que ao homem é dado se conhecer e conhecer a terra e o universo, levou à afirmação de que eles, homem, terra, universo, existem, são com, na realidade do homem observador de tudo que é. Ao se perceber no cenário terra-universo, o homem, dando-se conta da existência de tudo que é, passou, de observador, a pesquisador no seu habitat próximo e na plenitude dele, o espaço sideral.

Reverenciar as forças da natureza, das quais ele depende totalmente para sua sobrevivência, tornou-se uma atitude natural da evolução do seu raciocínio. Observando que ele é mais do que a natureza faz dele, concluiu que o Criador deve ser mais do que as forças da natureza, e imaginou os deuses a ele semelhantes como fatores e dominadores do todo universal. Não satisfeito com a ideia dos deuses semelhantes a ele, imaginou o Criador como uma força ignota e misteriosa.

Partindo da ideia da existência do Criador, um passo decisivo para a percepção de que a natureza e ele mesmo são mais do que meras criaturas, passou a pesquisar a origem, a existência e o destino de tudo que é. Nessa pesquisa, o homem passou a registrar e a utilizar suas descobertas para garantir sua sobrevivência e sua evolução. Da pecuária, da agricultura, do comércio, da indústria, extraiu cada vez mais o substrato que garantia sua sobrevivência. Do estudo da sua evolução e da evolução dos povos, extraiu os conhecimentos para garantir que elas se dessem a contento.

A afirmação da existência do Criador, uma premissa indispensável para o raciocínio, não obscurece com a ideia de muitos de que Ele não existe, uma vez que estes descrevem, apenas, substantivos que buscam corrigir as falácias descritivas do Criador decorrentes das diferentes crenças, o que acaba dando no mesmo. A continuação do raciocínio de que o Criador existe exige o abandono de todas as criações míticas sobre o tema, vazadas por todas as religiões.

À afirmação da existência do Criador sucede um corolário indispensável, de que deve haver uma lei de Deus, que projeta, programa, descreve e administra tudo que é, corroborando a ideia de que tudo que é, que existe e que acontece obedece à técnica funcional da lei de Deus. Isto posto, necessária se faz a aceitação de todas as forças da natureza, de todos os seres, animais e humanos, e de todos os eventos contidos neste cenário.

Uma vez que o Criador é e que existe no pensamento do homem pode deduzir-se que a crença n’Ele e o comércio com Ele são fenômenos estritamente individuais. O homem não dispensa a crença n’Ele, que é inerente ao seu ser, e tem-se a ver diretamente com Ele na vida e na morte, no seu compromisso com seus atos e na especulação sobre o seu destino depois dela. A pré-vida, a vida e a sobre-vida são fenômenos que ocupam o pensamento do homem e exigem dele uma postura clara e insofismável diante deles para garantir o seu equilíbrio.

A pré-vida aí está, matéria primordial, berço e sustentáculo da vida. A vida, um interior que se aperfeiçoa, aí está como mistério sondável, mas não inteiramente conhecível. A pós-vida, a possível existência do espírito liberto da matéria, é um mistério insondável que abarca, inclusive, a ideia da existência divina. Um grande problema é a fixação da humanidade na revolta pré-adolescente, que perdura na maioria dos adultos, e que se vale do imenso contingente dos raivosos, irritados, para a manutenção do seu poder, o que se supõe ser vontade de Deus.

O homem necessita ter fé em que haja um Criador, ter esperança de estar compreendendo seus desígnios, e ter caridade para com aqueles que não têm o conforto desta fé e desta esperança. Os pilares da cultura, a administração, a educação e o amor, que têm como objetivo trabalhar para a felicidade de todos, contam com as diretrizes éticas das civilizações, que têm como base a lei mosaica, que preconiza o amor a si mesmo e ao próximo como premissa para a harmonia universal. A pós-vida é uma questão a ser equacionada individual e inefavelmente.

Esta a verdade sobre Deus!

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SOBRE A VERDADE

A verdade é o resultado do confronto da ideia com a realidade. Há a verdade individual, decorrente de cada momento da vida de cada indivíduo, a verdade coletiva, decorrente da aceitação da verdade individual por um ou mais indivíduos, e a verdade absoluta, jamais conhecida e, talvez, incognoscível, o mistério. A ideia é o produto do pensamento, a tentativa da mente de configurar a percepção, seja empírica, sobre os seres, seja psicológica, na esfera da existência dos seres humanos, seja social, no âmbito da existência dos grupos humanos.

A verdade individual se aninha no campo vivencial da mente do indivíduo, o componente básico do todo harmônico que registra sua visão de mundo, afetada pela percepção, entrada em relação com ele, que é feita com emoção, que influi nela, com inteligência, elaboração da percepção, com consciência, o buscar do sentido da conduta, com moralidade, o buscar da razão de ser da conduta, com sexualidade, o buscar do êxtase pela via orgânica, com religiosidade, o buscar do êxtase pela via mística.

A verdade individual, que ocorre a cada momento da vida de cada indivíduo e é registrada no seu campo vivencial, apresenta fases distintas durante a evolução do indivíduo.

A verdade individual infantil manifesta-se precária:

Numa primeira fase, o seu campo vivencial dinâmico é regido pelo instinto, com percepção no espaço, emoção-choque, sem inteligência, consciência e moralidade, com sexualidade sem freios e religiosidade mítica.

Numa segunda fase, o seu campo vivencial vai-se ampliando para a determinação, a intenção e a imaginação, com percepção no tempo e na duração, emoção-antecipação medo, inteligência ao nível da equilibração das ações externas sensório-motoras, consciência espontânea objetal precária ao nível da crença ingênua, moralidade pervertida no sentido da submissão passiva, sexualidade decorrente da resposta sexual parcial masoquista, religiosidade também masoquista.

Numa terceira fase, o seu campo vivencial é o da imaginação ao nível da dúvida ingênua, com percepção também no tempo e na duração, emoção antecipação-cólera, inteligência ao nível da equilibração das ações internas simbólico-representativas da realidade concreta, consciência espontânea objetal precária ao nível da dúvida ingênua, moralidade pervertida no sentido da insubmissão ativo-agressiva, sexualidade sado-masoquista, religiosidade mítica de cólera.

Numa quarta fase, o seu campo vivencial é o da imaginação ao nível da esperteza ingênua, com percepção também no tempo e na duração, emoção antecipação-falso amor, inteligência também ao nível da equilibração das ações internas simbólico-representativas da realidade concreta, consciência espontânea objetal precária deturpada pela permissividade, moralidade pervertida no sentido da pseudo-submissão, sexualidade sado-masoquista permissiva, religiosidade mítica de farsa.

Numa quinta fase, o seu campo vivencial é o da elevação ao nível concreto, com percepção também no tempo e na duração, emoção antecipação-amor verdadeiro ingênuo, inteligência ao nível da equilibração das operações internas simbólico-representativas sobre a realidade concreta, consciência reflexiva sobre o concreto, moralidade prático-utilitária, sexualidade ocasional, religiosidade mítica latente.

A verdade individual adolescente é limitada:

Numa primeira fase, quando o campo vivencial do pré-adolescente é o da elevação ao nível abstrato de pugna, com percepção na estrutura dos contrários analítica, emoção-antecipação cólera refletida, inteligência ao nível das operações internas sobre o abstrato a serviço da dúvida refletida, consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da dúvida, moralidade ao nível da pugna no plano abstrato, sexualidade sádica, religiosidade mítica aguerrida.

Numa segunda fase, quando o campo vivencial do adolescente propriamente dito é o da elevação ao nível abstrato de busca de consenso próprio, com percepção na unidade da estrutura dos contrários sintética e na unidade de mecanismo analítica, emoção-antecipação medo refletido, inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da busca de consenso próprio, consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da busca de consenso próprio, moralidade também ao nível de consenso próprio, sexualidade masoquista refletida, religiosidade mítica masoquista.

A verdade individual adulta manifesta o ápice da evolução do adulto:

Numa primeira fase, quando o campo vivencial do adulto jovem é o da elevação ao nível abstrato de cooperação com a comunidade, com percepção na unidade de mecanismo sintética e na unidade de movimento analítica, emoção antecipação-amor verdadeiro extensivo à comunidade, inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da cooperação no plano comunitário, consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da cooperação no plano comunitário, moralidade ao nível da busca de consolidação da independência e das devoções de amor à família e à comunidade, sexualidade e religiosidade socializadas.

Numa segunda fase, quando o campo vivencial do adulto maduro é o da elevação ao nível abstrato de cooperação com a humanidade, com percepção na unidade de movimento sintética, emoção antecipação-amor verdadeiro extensivo à humanidade, inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da humanidade, consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da cooperação no plano humanístico, moralidade ao nível da organização no sentido da cooperação com a humanidade além das convenções, sexualidade e religiosidade humanísticas.

Numa terceira fase, quando o campo vivencial do adulto velho é o da elevação ao nível abstrato de integração com a totalidade cósmica, com percepção na unidade de movimento sintético do absoluto, emoção antecipação-amor verdadeiro cósmico, inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da totalidade, consciência do absoluto, moralidade da liberdade plena, sexualidade e religiosidade socializadas a nível cósmico.

A verdade coletiva, aceitação da verdade individual em algum plano da grupalidade, manifesta-se em estágios correspondentes à evolução da verdade individual. A verdade coletiva infantil manifesta-se também precária; a verdade coletiva adolescente manifesta-se também limitada; a verdade coletiva adulta manifesta o ápice da evolução do grupo adulto.

Tanto a verdade individual quanto a verdade coletiva estão sujeitas às perturbações no esquema evolutivo dos indivíduos: inadaptação, quando o indivíduo e o grupo ficam fixados em alguma etapa evolutiva; desadaptação, quando perdem uma adaptação já adquirida. No caso da verdade individual, fica ela afetada pela fragilidade psíquica do indivíduo, psicose, que é de natureza polarizada, numa base de fechamento excessivo, esquizofrenia, e de projeção excessiva, paranoia, muitas vezes com a coloratura emocional, também polarizada, de entusiasmo excessivo, euforia, mania, e tristeza excessiva, depressão, melancolia. No caso da verdade coletiva, fica ela ao sabor das perturbações dos seus membros.

A verdade ocorre sempre no indivíduo e se comunica com a coletividade. Há a verdade da ciência, a verdade da filosofia e a verdade da religião, cada qual amparando-se em suas premissas. A verdade da ciência sobre o indivíduo, tal como lhe é dado conhecer, tem ocorrido através da ciência empírica, que parte do “bios”, da ciência eidética interpessoal, que parte da “psique”, e da ciência eidética multipersonal, que parte do “socius”. A verdade da filosofia tem-se manifestado, ora racional, ora intuitiva, ora fenomenológica. A verdade da religião tem-se manifestado, ora afirmativa, natural ou revelada, ora negativa.

A verdade da ciência empírica reza que o homem é um animal superior; o biológico contém as condições necessárias para a vida psíquica; o sistema nervoso e o endócrino produzem efeitos recíprocos extremamente complexos e se acham anatomofisiologicamente entrelaçados de modo quase inextricável. A nova noção sobre o cérebro como elemento supervisor, também afetado pelas “instâncias inferiores”, e não como simples órgão de comando, deu origem ao conceito de “integração” e define as bases do funcionamento do psiquismo normal e do psiquismo frágil, psicótico.

A verdade da ciência eidética interpessoal reza que há uma lei geral, a da harmonização, que reza que o universo é harmonia, e que a harmonização consiste em detectar as causas das dissonâncias em um ou em vários dos componentes do todo harmônico e as resolver. No caso do ser humano, o componente básico do todo harmônico é o campo vivencial, influenciado pelos demais, quais sejam, a percepção, a emoção, a inteligência, a consciência, a moralidade, a sexualidade e a religiosidade, cada qual regido pela sua própria lei. Há a personalidade, expressão global do psiquismo, que integra todos os seus componentes em cada momento do existir, também regida pela sua própria lei.

A verdade da ciência eidética multipersonal reza que: os fatos sociais se submetem a leis; todo regime social é a aplicação de um sistema filosófico; há uma anatomia, ou estática, social e uma fisiologia, ou dinâmica, social; só o indivíduo é capaz de pensar, acrescentado ao seu o pensar de outros indivíduos antes dele; os indivíduos, reunidos em grupos, empenham-se em manter o mundo em uma dada situação ou em modificá-lo. A ideia de progresso apresenta estágios; o quiliásmico, irrupção de uma ideia; o liberal-humanitário, regulação dela; o conservadorismo, controle prático do ambiente; o socialista-comunista, síntese deles, compromisso com as contribuições de cada um e uma nova criação delas. Há os supostos básicos de dependência, quando o grupo se submete ao líder, de contradependência quando reage a ele, e de interdependência, quando colabora com ele. Não há natureza humana sem ambiente social, e o grupo humano é o fator e transmissor da cultura.

A verdade da filosofia, desde todos os tempos, tem-se manifestado ora racional, ora intuitiva, ora fenomenológica. A filosofia racional propiciou que o ser humano percebesse sua capacidade de conhecer, através da reflexão, as forças das leis da natureza, simbolizá-las e procurar proteção na sua lógica. A filosofia intuitiva levou o ser humano a compreender que a razão não atinge o conhecimento total. A filosofia fenomenológica levou o ser humano a desenvolver a capacidade de ampliar sua percepção para tentar abarcar os diferentes ângulos de apreensão do fenômeno existência e do fenômeno existência humana e de, consequentemente, levantar hipóteses a respeito da realidade, tomando-a sob triplo aspecto, podendo ser, ao mesmo tempo, a verdade, um ocultamento dela ou um caminho para ela. Tais tipos de abordagem, racional, intuitivo, fenomenológico, manifestam-se em todas as épocas e em todos os locais, com argumentação e linguagem próprias deles, alimentando teses, antíteses e sínteses, na busca da verdade sobre o pensamento.

A verdade da religião tem-se manifestado ora afirmativa, natural ou revelada, ora negativa. A teologia é o discurso sobre Deus. Quando afirmativa natural, busca um saber de Deus à base do conhecimento do mundo, que gerou explicações míticas, crenças confusas carregadas de lendas, sem nenhum fundamento de verdade. Quando afirmativa revelada, trata um permanente anseio de comunicação com a divindade, que gerou o registro de passagens em que a verdade teria sido transmitida por Deus diretamente ao indivíduo, também sem nenhum fundamento de verdade. Quando negativa, mística, trata a capacidade de comunicação, direta e inenarrável, com o desconhecido, com a certeza, com o absoluto, também sem nenhum fundamento de verdade para aqueles que não a sentiram. Tais tipos de abordagem, afirmativa, natural e revelada, e negativa, são puramente idealizados, sem qualquer possibilidade de confronto com a realidade.

A verdade, resultado do confronto da ideia com a realidade, que é individual na origem e coletiva por extensão, decorrente de uma labuta permanente do pensar humano, fica na dependência de cada momento evolutivo do indivíduo, infantil, adolescente, adulto, e de cada grupo que o endosse, dependente, contradependente, interdependente. A verdade assim obtida está sujeita a erros e acertos de cada indivíduo e de cada grupo, conforme o seu estágio evolutivo e as fases que o constituem, com base no funcionamento de cada psiquismo, normal ou frágil, psicótico, com as limitações de cada tipo de fragilidade e cada grau que ele apresente. A verdade assim obtida exige constante revisão dos enunciados que originaram suas premissas.

A verdade sobre a verdade é o resultado do exame de cada verdade obtida, levando-se em conta o progresso do indivíduo do qual se origina, no sentido da sua própria evolução, que inclui todas as informações que terá obtido no decorrer do seu amadurecimento. O indivíduo e o grupo, bastante bem conhecidos na sua estrutura, necessitam ser direcionados na sua dinâmica para assimilarem todo o conhecimento possível sobre o seu viver e o aplicarem no seu pensar sobre o seu próprio pensamento e sobre a verdade adquirida no confronto entre sua ideia e a realidade.

A assimilação, pelo indivíduo e pelo grupo, de todo o conhecimento possível sobre o seu viver, ocorre em função da educação e da reeducação que receberem, que visam sua criação racional, único meio para a obtenção da verdade, alicerce da liberdade, que vai promover a criação de uma sociedade que permita que todos, indivíduo e grupo, atinjam a plenitude de sua humanização.

A verdade absoluta, jamais conhecida e, talvez, incognoscível, o mistério, se faz presente, como ideia, na religiosidade, sentimento que decorre da sensação de incompletude do indivíduo em consequência da ignorância sobre a sua origem e o seu destino e a origem e o destino do universo. A religiosidade, seja como produto da imaginação, seja como lídimo pensar sobre uma evolução futura, é vital para o indivíduo e para a humanidade, constituindo-se em um direito de cada um crer no que necessitar crer em cada momento do seu existir. Uma vez que só a verdade liberta da ignorância, cabe a cada indivíduo, e à humanidade como um todo, ter a coragem de viver, a cada instante, a verdade que possui e buscar o enriquecimento permanente dela em função dos dados do progresso que for adquirindo.

Esta a verdade sobre a verdade!

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APOLOGIA DE DEUS

Eu sou. Sendo, penso. Pensando, idealizo. Idealizando, retrato, para mim mesma, o que sou e como é o meu mundo. Minha idealização do que sou e de como é o meu mundo, o meu campo vivencial, abrange causa e efeito, determinação de os promover com certa intenção, ampliação pela imaginação e com busca de elevação dos melhoramentos que posso alcançar.

Sendo, eu percebo. Percebendo, tomo posse da realidade, entro em relação com ela para a conhecer. Percebo: no espaço, aqui e agora; no tempo, pela noção de que o aqui e agora é diferente do aqui antes; na duração dos eventos; na unidade de tudo que é, da estrutura dos contrários; na unidade de mecanismo, da noção de que tudo, em mim e fora de mim, ocorre dentro de um plano evolutivo; na unidade de movimento de tudo que é, movimento este do qual participo, optando e agindo.

Percebendo, eu me emociono. Emocionando-me, eu entro em pane orgânica, angústia, quando minha sobrevivência é ameaçada; tenho medo quando me lembro do choque e me sinto incapaz de o evitar; pela minha constituição, não tenho raiva nem vivo a farsa, e entrego-me plenamente ao amor.

Amando, eu respondo de forma civilizada à minha dependência afetiva do ambiente. Meu amor personalizado me une aos amigos, aos amantes e ao cosmo. Meu amor não personalizado me une à natureza, ao lazer, ao esporte, ao trabalho, ao conhecimento, às artes e a um suposto Criador, coroado pela minha inteligência.

Com inteligência, elaboro a percepção do meu campo vivencial, com emoção e com consciência, representando o que é e o que pode ser, sem necessidade de buscar correspondência com o observável, o sensível.

Com consciência, busco o sentido da minha conduta de forma espontânea e de forma reflexiva, tomada de consciência da espontânea, e em face do absoluto, de que eu, indivíduo, sou parte do todo, ao qual presto serviço.

Com moralidade, busco a razão de ser da minha escolha de determinadas condutas, quer no âmbito individual, quer na repercussão social, exercendo minha liberdade plena de ser quem sou.

Minha sexualidade é vivida plenamente, nos planos orgânico, psíquico e espiritual, com total responsabilidade pelo meu bem-estar e pelo bem-estar do objeto do meu desejo.

Minha religiosidade, o meu buscar do êxtase pela via indireta da mística, o meio definitivo para obtenção dele, é total, adequada para sua finalidade, o viver a eternidade na temporalidade, a vida extática, a antecipação, pelo amor humano, do Amor Definitivo, do Criador.

Minha personalidade, a expressão do meu viver a integração dos seus componentes de temperamento e de caráter, propicia-me organizar o controle de minhas motivações de forma consciente e responsável, permitindo-me agir como catalisadora do progresso dos grupos dos quais participo.

Vivendo, procuro informar-me sobre mim mesma e sobre o universo onde habito. Sobre mim mesma, sempre vivi com saúde física, psíquica e espiritual; sempre fui feliz e sou feliz.

Quanto ao universo, o cosmo, estou informada da hipótese de ter surgido de um único ponto, ou singularidade, e da observação de que vem-se expandindo há cerca de treze bilhões e oitocentos e vinte milhões de anos, num diâmetro de noventa e três bilhões de anos-luz, subdividido em superaglomerados e aglomerados de galáxias, numa dimensão espacial que não se sabe se é finita ou infinita.

Quanto à Terra, estou informada de que se encontra na galáxia Via Láctea, e de que sua formação teria tido início, aproximadamente, há quatro bilhões e seiscentos milhões de anos, e que a vida nela começou há pouco mais de três bilhões e seiscentos milhões de anos, compreendendo períodos distintos.

Quanto ao homem, estou informada de que teria surgido na África, no final do período plioceno ou no início do período pleistoceno, e migrado para fora do continente em torno de cinquenta a cem mil anos atrás, e que existiram várias espécies, tendo a espécie atual, o homo sapiens, surgido no pleistoceno médio, a história da humanidade tendo compreendido a história antiga, a idade média, a idade moderna e a idade contemporânea, com formas de governo diferentes, historicamente, horda, tribo, feudo, império e república, e tendências quiliásmica, liberal humanitária, conservadora e socialista comunista, que se debatem até hoje.

Quanto à cultura humana, estou informada de que: a teologia manifesta-se afirmativa, natural e revelada, e negativa, mística; a filosofia manifesta-se racional, intuitiva e fenomenológica; a ciência manifesta-se empírica, eidética interpessoal e eidética multipersonal. Estou informada, também, de que a administração, a educação e o amor são os pilares da transmissão da cultura, sempre com vistas à felicidade.

Isto posto, cabe considerar minhas conclusões a respeito da existência de Deus:

A existência de Deus se faz necessária, pois, se existo, sou uma criatura, não me criei, logo, algo ou alguém me criou.

Minha origem é um ovo, resultante da união de um óvulo com um espermatozoide.

O crescimento desse ovo ocorreu mediante uma lei, conforme uma técnica funcional, determinando minha infância, minha adolescência e minha adultez.

Meu corpo sempre procurou o bem-estar, a vivência mística.

Além do meu corpo, dei conta da existência do meu psiquismo, algo material, que sempre procurou o bem-estar, a experiência mística.

Dei conta, também, da existência do meu espírito, algo imaterial, que sempre procurou o bem-estar, o êxtase místico.

Dei conta de que meu habitat é um planeta, Terra, que faz parte de uma galáxia, a Via Láctea, que compõe o cosmo, o universo, todos com sua história.

Minha emoção permanente é o amor em todas as suas formas, sendo que não tenho medo da morte, mas tenho medo do ato de morrer, que imagino que possa ser angustiante.

Meu raciocínio induz e deduz sobre tudo que é, concluindo que a unidade percebida na estrutura dos contrários, embora bastante conscientizada, esbarra com o mistério de que grande parte do que é é incognoscível para minha inteligência.

Assim sendo há que considerar a verdade de que a unidade de estrutura dos contrários, no seu todo, é inatingível para a inteligência humana. Tal barreira, a do mistério, intransponível para o ser humano, que ocorre na unidade de estrutura dos contrários, obnubila a percepção da unidade de mecanismo e da unidade de movimento, no seu todo.

A crença no Criador, necessária emocionalmente e incontestável racionalmente, constata que tudo que é, e da forma que é, o é por vontade do Criador, segundo sua Lei, com seus corolários e escólios, com a funcionalidade técnica que lhe é inerente e que determina seu surgimento e sua evolução.

Naquilo em que a percepção da unidade de estrutura dos contrários embaraça a inteligência humana, surge o contraponto do mal inerente às catástrofes de toda espécie, que assolam tudo que é, assombrando, emocional e racionalmente, cada indivíduo e a humanidade como um todo.

A grandeza do bom, do belo e do verdadeiro, ameaçada pelo mau, pelo atro e pelo falso, abala a noção de unidade de percepção do Criador pela criatura e obscurece sua noção de santidade, fazendo-a mergulhar na angústia, na descrença, no desespero, no medo, na farsa, na ingenuidade, na revolta, no pacifismo.

Para melhor entendimento do dilema, necessário se faz constatar que o contrato com o Criador é com a criatura, e é único, indivisível e inabalável, num contexto adequado ao fato de que cada indivíduo conhece a origem e o funcionamento do seu corpo, do seu psiquismo e do seu espírito, mas não conhece o fim destes dois últimos.

Um fenômeno curioso faz com que o indivíduo, embora sabendo que seu corpo vai morrer, não creia, de fato, na possibilidade desse evento, e não saiba se o seu psiquismo e o seu espírito vão fenecer junto com ele ou se há para eles, psiquismo e espírito, uma eternidade além da espiritualidade.

O conceito de morte ou de não morte do psiquismo e do espírito é o grande dilema do indivíduo que, na sua afirmação e na sua negação, cria explicações religiosas e filosóficas imaginosas, carentes de fundamento, tendenciosas, ilógicas, gerando crenças espúrias, que se vulgarizam formando agrupamentos.

Os agrupamentos dos indivíduos criam entidades, seitas, igrejas, conciliábulos, que, com base no medo da angústia, levam à farsa, à crença, à revolta e ao pacifismo ingênuo, gerando inimizades, guerras e toda espécie de mal-entendidos nas suas fases do viver infantil e adolescente.

Sempre tendo em vista a afirmação da necessidade emocional e racional da crença na existência do Criador, fica subentendido que a evolução é a condição para a funcionalidade da técnica da Lei de Deus, sendo o medo, a raiva, a farsa e a crença, a revolta e o pacifismo ingênuos etapas observáveis nela.

Atingida a adultez, não há como duvidar da existência do Criador, pois a criação aí está, com todo o seu vigor, testemunhando, indubitavelmente, a presença Dele, inclusive na existência de todas as catástrofes como produto de Sua Técnica funcional, misteriosa nos seus desígnios.

O campo vivencial do indivíduo e sua percepção dele com emoção, inteligência, consciência, moralidade, sexualidade e religiosidade, continuam obliterados no quesito unidade, pois a compreensão da unidade da estrutura dos contrários, que esclarece as unidades de mecanismo e de movimento, constitui um mistério no tocante ao conceito de mal.

Cabe ao indivíduo conformar-se com a limitação dessa percepção da unidade no que se refere à Técnica Funcional da Lei de Deus, que permite a existência do mal como instrumento da evolução, e procurar viver a eternidade na temporalidade, tão contraditória que permite a catástrofe como necessária à vida.

A solução para o dilema do indivíduo é, pois, viver cada momento tendo fé na existência do Criador, esperança de estar compreendendo Seus desígnios no que concerne à sua destinação e contribuir efetivamente para que todos vivam a eternidade aqui e agora, na temporalidade.

Tal solução determina que cada indivíduo, criatura, promova sua vivência mística, bem-estar do corpo, sua experiência mística, bem-estar psíquico, e seu êxtase místico, bem-estar espiritual, para ser feliz aqui e agora, antecipando, pelo amor, as Bodas Místicas com o Criador que, se não é provável, não é impossível!

Maria Auxiliadora de Souza Brasil

Psicóloga

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