VIDA E PENSAMENTO

Maria Auxiliadora de Souza Brasil

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Tenho 93 anos de existência. Estou sentada em minha mesa de trabalho. “Penso, logo existo”. Eu não me criei, fui criada, logo há ou houve um Criador. Aprendi a ler e a escrever entre os 5 e 6 anos e, desde então, leio, leio, leio…, escrevo, escrevo, escrevo…. Pretendo continuar lendo e escrevendo enquanto minha saúde física e mental o permitir. Meu pupilo do coração, Tadeu, fica encarregado de colocar o ponto final quando eu não puder mais escrever e divulgar o meu escrito, como faz com os demais.

No quesito Obras Completas, tenho duas coleções. A primeira denominei “Surge uma Aurora” em seis volumes, e a segunda denominei “ Uma Luz no Caminho”, em doze volumes. Desse modo, registrei a trajetória do meu pensar e do meu pensar a vida. A vida, um interior que se aperfeiçoa, manifesta uma evolução, quer no indivíduo, quer no grupo humano, quer na humanidade toda.

Além de aprender a ler e a escrever, aprendi o Catecismo e me submeti aos rituais da Igreja Católica Apostólica Romana, pela ordem, batismo, primeira comunhão e crisma, e aspiro a receber as unções finais da vida. Segui o Catolicismo até os doze anos e sigo os mandamentos da Lei de Deus, de Moisés, desde sempre, e me inspiro, com vida, nas palavras de bem-aventuranças do Sermão da Montanha, de Jesus Cristo, além de professar a fé, a esperança e a caridade que assim expresso, fé na existência de um Criador, esperança de estar cumprindo os Seus desígnios e caridade para com aqueles que não têm esta fé e esta esperança.

Lembro-me de que as primeiras observações que me encantaram foram o crescimento das minhas unhas e dos meus cabelos, coisas que surgiram de dentro de mim, um milagre! Um encantamento posterior surgiu como conhecimento das minhas origens: o óvulo da minha mãe, os espermatozoides do meu pai, a fecundação do óvulo pelo espermatozoide. Depois, estudei o crescimento evolutivo do ovo, minha origem.

Por volta dos 12 anos, passei a interessar-me pelo estudo da evolução do indivíduo, do grupo humano e da humanidade em termos teológicos, filosóficos e psicológicos, que inspiravam minhas teses acadêmicas de doutorado “Da necessidade e da possibilidade da aplicação da psicologia à educação”, com 34 anos, de livre docência, “Da adolescência”, com 35 anos, e de cátedra, “Da personalização e da sintalização progressivas” com 45 anos.

Também aos 12 anos comecei a construir minha teologia, com base na premissa da doutrina secreta, que reza que não há religião superior à verdade, minha filosofia, com base no pensamento racional-intuitivo fenomenológico, e minha psicologia, com base na teoria evolutiva analítico-fenomenológico-existencial.

Teologicamente, com base na necessidade da crença em um Criador, uma vez que não me criei, fui criada, considero impossível que o Criador tenha criado indivíduos passíveis de errar e programe castigos pelos seus erros cuja origem se encontra no modelo estrutural por Ele criado e os faz passíveis de errar. Por outro lado, o Criador programar a vida e morte do Seu Filho como necessidade para a salvação da humanidade por Ele criada é inadmissível.

Filosoficamente, uma metodologia se impôs. O pensamento filosófico racional que gerou a teoria do conhecimento, a gnosiologia, ocupando-se, principalmente, com a estática e a dinâmica das coisas e do universo e com a estrutura e o funcionamento dos organismos. O pensamento filosófico intuitivo que procurou complementá-lo com hipóteses irracionalistas que apaziguem os espíritos. O pensamento filosófico fenomenológico que busca uma reflexão sintética sobre suas contribuições, à base da participação; assim penso eu.

Psicologicamente, com base na teoria evolutiva do indivíduo, do grupo humano e da humanidade toda, construí a teoria analítico-fenomenológico-existencial, com vistas à psicoterapia, ao tratamento do psiquismo, individual ou em grupo. A teoria é analítica, da análise científica, por que leva em conta as duas grandes vertentes do saber, de um lado o concretismo, que leva ao fisicalismo, e, de outro, o abstracionismo, que leva ao mentalismo.

Do concretismo, que tem como correspondente na biologia o mecanicismo, aprendi o conceito de átomo psíquico, de Demócrito, a observação sistemática de Hipócrates, a indução experimental, de Bacon, e a construção dos associacionistas e dos estruturalistas, passando pela psicologia humoral, pela fisionômica, pela frenologia e pela caracterológica experimental.

Do abstracionismo, que tem como correspondente na biologia o vitalismo, aprendi o conceito de inteligência imaterial, de Anaxágoras, o racionalismo dualístico corpo-alma, de Descartes, e a construção dos conservadores e dos funcionalistas, passando pela caracterologia literária, pela etologia, pelo pragmatismo e pelo introspeccionismo.

A teoria é fenomenológica, da fenomenologia cientifica, por que, no tratamento do ser humano e do grupo humano, leva em conta a reflexão sintética, que visa a compreender e descrever o mundo a partir dos dados unificados das ciências experimentais.

Das ciências experimentais chamadas empíricas, que são aquelas que se ocupam das experiências do experimentalista, experimentações que são experiências sobre o fenômeno, observações redutivas dos dados sensoriais, aprendi os ensinamentos da “Gestalt”, forma, e do campo psíquico, que instruem as teorias em termos de traço e tipo e a da aprendizagem.

Das ciências experimentais chamadas eidéticas, que são aquelas que se ocupam das experiências do fenomenista, que são experiências do fenômeno, apreensão direta das relações significativas num contexto interpessoal ou multipersonal, forma de experiência que dá sentido à primeira, pois o concebido é abstraído do vivido, aprendi os ensinamentos da fenomenologia, que instrui as teorias psicanalíticas, neopsicanalísticas e fenomenológicas.

A teoria leva, pois, em conta todos os experimentos referentes ao componente bioquímico, que constitui o temperamento, ao componente ético-social, que constitui o caráter, e à constante interação entre ambos, que constitui a personalidade.

A teoria é existencial, da dimensão estética, por que, no tratamento do ser humano e do grupo humano, leva em conta o fato de que o cientista, ou o grupo de cientistas, é um ser humano, ou um grupo humano e, como tal, necessariamente, objeto do e no evento.

Minha prática e meus estudos levaram-me à criação da minha teoria que, em troca, contribuiu para a elaboração da técnica que denominei, também, analítico-fenomenológico-existencial. Apliquei-a no meu trabalho pedagógico na Faculdade e a exerci, como psicoterapeuta de grupo, na clínica criada por uma aluna minha, Laura Cançado Ribeiro, que me convidou para ser a Curadora da clínica, que denominou Analítico-fenomenológico-existencial, CEPAFE, em minha homenagem. Lá trabalhei até os 84 anos.

Minha formação acadêmica se deu aos 27 anos, no Curso de Pedagogia da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, pois o Curso de Psicologia ainda não existia, tendo sido criado em 1963, tendo eu participado da comissão que o instalou. Meus professores no Curso de Pedagogia eram, na sua quase totalidade, oriundos do Curso de Administração e Orientação Escolar, que eu havia cursado para completar minha carga horária obrigatória para me capacitar para o Ensino Superior.

Meu curso de pedagogia teve peculiaridades interessantes. Em primeiro lugar, eu era a única aluna. Assim as matérias comuns a outros cursos, eu as frequentava nos cursos correspondentes: sociologia, matemática e biologia. Meu professor de psicologia, um neófito, era o Professor Pedro Parafita de Bessa. Nós dois, professor e aluna, destrinchamos juntos a obra de Arnold Gesell, Psicologia evolutiva da criança e do adolescente, que constituiu minha única formação.

Na juventude aprofundei minha formação com excelentes mestres. Fiz o Curso de Psicologia da Aprendizagem, instituído pela Professora Helena Antipoff no seu Instituto Superior de Ensino Rural, para o qual ela trouxe o professor suíço André Rey, que nos proporcionou uma formação sólida no assunto, que me deu a base necessária para o desenvolvimento de todos os meus estudos e pesquisas posteriores.

Eu me formei no Curso do Teste de Rorschach, do professor Ruy Flores Lopes, de uma cultura ímpar, principalmente no tocante à mitologia e à simbologia, base da interpretação do teste em questão. Esse curso me permitiu um desenvolvimento cultural muito grande; foi encantador e inesquecível. O professor Rui me chamava de “ Kant mineiro”, por que eu não faltava às suas preleções nem me atrasava nunca, como Kant que, em Konigsberg, cidade da Baviera, na Alemanha, onde morava, quando passava na rua os moradores acertavam os relógios.

Um curso decisivo na minha formação psicoterapêutica, transcorrido durante o meu Curso de Formação em Psicologia Profunda, com o Professor Malomar Lund Edelveis, do Rio Grande do Sul, que durou seis anos de aulas teóricas e análise pessoal, individual e em grupo, e me deu o título de analista naquela técnica de fundo psicanalítico, foi aquele ministrado pelo Professor Igor Caruso (analisado pelo Barão Von Getsalten, por sua vez analisado pelo próprio Sigmund Freud), denominado “Introdução à Psicologia Profunda”.

Nessa ocasião, minha juventude, uma coleção surgiu no meu caminho e me causou emoções inéditas e indagações mil. Era a obra “ A doutrina secreta” da médium russa Helena Petrovna Blavatsky, nascida em Ekaterinoslav, à meia noite de 30 para 31 de julho de 1831 (12 de agosto pelo calendário russo) e faleceu em 8 de maio de 1891 em Londres, no Reino Unido.

A leitura dessa obra abriu novos caminhos para a minha visão de mundo, colocou-me um sem número de questionamentos, e me obrigou a rever todos os meus conceitos. Prometi reler a obra tão logo me sentisse mais preparada para tal fim; tal releitura acaba de ocorrer nos meus 93 anos de vida.

Não me sinto capaz de aplicar, no estudo dessa obra, nenhuma metodologia conhecida. Não sei resumir, explicar, comunicar, interpretar tal conhecimento. Só me resta respeitar a obra no seu todo e me dar a licença de redigir o que penso que entendi. De início vou ocupar-me com a Cosmogênese, pois o universo é o cenário onde a vida se manifesta. Não pretendo comprometer a obra com a explanação de nenhum conceito que venha a emitir. Faço-me responsável por tudo que editar.

De todas as minhas especulações sobre o tema universo, registro, apenas, duas notícias. Uma delas, a mais comum, é a de que Deus, que é incognoscível, disse: “ Faça-se isso”; “ faça-se aquilo”; faça-se aquilo outro”. E tudo se fez por vontade dele. Outra é a de que houve uma substância pré-existente, que tudo originou. No entanto a “Doutrina Secreta” se arvora em explicar a origem e a evolução do universo, na sua estrutura e na sua dinâmica, com uma linguagem de beleza poética sem par.

O universo é a manifestação periódica da essência absoluta e desconhecida. Nele tudo é temporário. Tudo no universo, em todos os seus planos, é consciente, isto é, dotado de uma consciência que lhe é peculiar em seu próprio plano de percepção. Não há matéria morta ou cega. O universo é elaborado e dirigido de dentro para fora.

O poder ativo, o movimento perpétuo, desperta o cosmos na aurora de cada novo período, pondo-o em ação por meio de duas forças contrárias, a centrípeta e a centrífuga, que são o positivo e o negativo. Quando se deu a criação, a protomatéria fez brotar de si mesma o Cosmos; é um mistério tudo aquilo que é capaz de desenvolver algo que aí se acha apenas em estado de germe, como a semente e o ovo.

Tudo que é emana do absoluto, a única realidade; tudo é relativo. O pensamento divino manda o universo existir. A substância pré-existente, a protomatéria, é ígnea e evoluiu sobre si mesma por milhares e milhares de anos. Cada reino da natureza surgiu conforme a temperatura dessa massa, dando origem aos reinos mineral, vegetal e animal.

Os videntes descreveram tudo que ocorreu no universo desde sempre. O Mestre desencarnado de Helena Blavatzky e seus auxiliares ditaram para ela tudo que ocorreu desde o início e lhe mostraram, mediunicamente, livros que esclareciam os fatos. Eles falavam em seres divinos que auxiliaram na obra da criação. Desse modo, a obra caminhou para um assunto muito delicado, de difícil compreensão para mim, não que eu o negue.

Quanto às modificações no mapa planetário em função de ocorrências como o desaparecimento de continentes e o surgimento de outros, há uma lógica que me satisfaz, além da ocorrência tão atual dos fenômenos climáticos que os provocam.

Creio que o mundo, na sua história, já tenha comportado cinco raças, já estamos na sexta, e a sétima seja o fim de tudo. A matéria densa, que gira em torno de si mesma, origina os reinos mineral, vegetal e animal que alimentam o humano. A terra ainda possui milhares de resíduos de minerais, que se encontram perto e distante das metrópoles. A vegetação aí está. Os animais também.

No que concerne ao surgimento e à evolução da humanidade, a Doutrina Secreta ensina que ocorreu a evolução simultânea de sete grupos humanos, em sete diferentes partes do nosso globo, e que o homem precedeu a todos os mamíferos, inclusive os antropoides, o que a ciência nega. A Doutrina Secreta fala na Ilha Sagrada e Imperecível, no Continente Hiperbóreo, na Lemúria, na Atlântida, na Europa.

A Ilha Sagrada e Imperecível, o primeiro Continente, a primeira terra firme, onde evoluiu a Primeira Raça, e que nunca participou da sorte dos outros Continentes, por ser a única cujo destino é durar. É o berço do primeiro homem, escolhido para semente da futura Humanidade. A Estrela Polar mantém sobre ela o seu vigilante olhar, desde a aurora até o fim do crepúsculo.

O Continente Hiperbóreo, o segundo Continente, a terra que estendia os seus promontórios ao Sul e ao Leste do Polo Norte, para receber a Segunda Raça, e que abrangia tudo o que se conhece hoje como Ásia do Norte, nome dado pelos gregos mais antigos, onde o sol se punha durante a metade do ano, não havia inverno, e cujos tristes restos não têm, ainda hoje, mais que um dia e uma noite durante o ano.

A Lemúria, o terceiro Continente, que se estendia de Madagascar ao Ceilão e à Sumatra, incluindo algumas partes do que é hoje a África, e ia do Oceano Índico à Austrália, desapareceu por completo sob as águas do Pacífico, deixando ver, aqui e ali, somente alguns topos de seus montes mais elevados, que são ilhas atualmente.

A Atlântida, o quarto Continente, que contava com a famosa ilha de Platão, parte dela, teria sido a primeira terra histórica, na tradição dos antigos.

A Europa. O quinto Continente era a América, mas, como está situada nos antípodas, os ocultistas indo-arianos mencionam, geralmente, a Europa e a Ásia Menor como sendo o quinto Continente.

Desde a destruição da Atlântida, a superfície da Terra mudou mais de uma vez. Houve uma época em que o delta do Egito e a África do Norte faziam parte da Europa, antes que a formação do Estreito de Gibraltar e o levantamento ulterior do continente alterassem por completo o mapa da Europa. A última mudança notável aconteceu a uns 12.000 anos, e foi seguida pela submersão da pequena ilha atlante à qual Platão deu o nome da Atlântida, que era o Continente a que ela pertencia.

Diz a Doutrina Secreta que o homem não foi “Criado” como o ser completo que hoje é, por mais imperfeito que ainda esteja. Houve uma evolução espiritual, uma evolução psíquica, uma evolução intelectual e uma evolução animal, do mais elevado ao mais inferior, assim como um desenvolvimento físico, do simples e homogêneo ao complexo e heterogêneo.

Diz, ainda, que a primeira raça foi a dos sem-sexo. A segunda raça, dela procedente, foi a Assexual, produzida por brotamento e expansão, os nascidos do suor. A terceira raça foi a dos Andróginos, aqueles que possuíam os dois sexos, masculino e feminino, nascidos do ovo. Ainda na terceira raça e na quarta raça surgiram homens e mulheres, sendo que Adão se separou em homem e mulher. Falam da existência dos hermafroditas, indivíduos que apresentavam características particulares, sexuais e secundárias, tanto femininas como masculinas.

A terceira e a quarta raças proibiram as relações com fêmeas de animais, que geraram monstros. A quarta raça desenvolveu linguagem, deixando à quinta raça (a ariana) nascente, como herança, as línguas de flexão altamente desenvolvidas, surgidas dos idiomas monossilábico e aglutinante. O Sânscrito, idioma de inflexão, foi a primeira língua da quinta raça.

O nascimento da quarta raça (Atlante) trouxe a primeira espécie humana completa, embora com uma estrutura muito maior que a nossa. As sub-raças da quarta humanidade começaram a dividir-se e a mesclar-se entre si. Os homens da terceira raça não tinham crenças a que se pudesse dar o nome de religião. Os primeiros lemurianos tinham uma religião desde os primeiros dias de sua vida, herdada dos seus ancestrais. Os lemurianos dirigiram-se para o Polo Norte e os Atlantes dirigiram-se para o Polo Sul. Depois, a Lemúria foi destruída pelo fogo e a Atlântida pela água.

O terceiro olho transformou-se em uma glândula de função desconhecida, como o baço. Os híbridos, quer de animais com animais, quer de humanos com animais, foram desaparecendo. Os restos das duas primeiras raças desapareceram para sempre. Grupos das diversas raças Atlantes, juntamente com os antepassados da quinta raça, foram salvos do Dilúvio, constituíram a nossa raça, procedente do tronco santo.

A nossa quinta raça já tem, de existência, cerca de 1.000.000 de anos, podendo concluir-se que cada uma das quatro raças anteriores viveu aproximadamente 210.000 anos, e que cada família tem uma existência média de 30.000 anos. A família europeia ainda tem, portanto, bastante existência pela frente, se bem que as nações variem em cada estação sucessiva de três a quatro mil anos. Até então, a obra discorreu sobre a Doutrina Secreta ao nível de um Deus que necessitou de Deuses e Semi-deuses auxiliares, parte que não consegui assimilar. Mas a história da civilização humana descrita pela autora é imperdível e cobre todos os conhecimentos humanos sobre o tema.

Há uma considerável superposição de uma raça na que lhe sucede. Até mesmo atualmente, sob as nossas próprias vistas, a nova Raça e as novas Raças estão em via de formação, devendo a transformação operar-se na América, onde já se iniciou silenciosamente. No período de três séculos apenas, os Americanos se tornaram uma “raça primária”, antes de se converterem numa raça à parte, fortemente diferenciada de todas as demais raças que atualmente existem. São eles os germes da sexta sub-raça, e daqui a algumas centenas de anos serão os vanguardeiros daquela raça que há de suceder, com toda as suas novas características, à raça europeia de hoje, a quinta sub-raça.

Dentro de uns 25.000 anos, começarão a preparar a sétima sub-raça. A Humanidade do Novo Mundo, que é muito mais velho que o Antigo, tem por missão plantar as sementes de uma Raça futura, maior e muito mais gloriosa que todas as que temos conhecido até agora. Assim, a Humanidade, raça após raça, há de levar a cabo sua Peregrinação Cíclica, no curso da Natureza, sempre presente e sempre em formação. O passado, o presente e o futuro constituem a trindade em um eternamente viver. A contribuição dos espíritos e videntes que recriaram a história da cosmogênese, e da antropogênese, tão belamente descritas pela autora, é uma visão do passado desconhecido, quer do universo, quer da humanidade, que oferece ao ser humano subsídios verossímeis para acalentá-los na penosa experiência de vida que o assombra, do nascimento até a morte. Não nego o relato da vida espiritual de Deus, dos Deuses e dos Semi-deuses. Apenas, minha visão de Deus é outra, um Deus que chamo de Criador, e que não necessita do auxílio de nenhum outro Ser para exercer sua função, Criar!

Na minha adolescência, aos 12 anos, adotei um lema que acreditava ter sido criado por mim: não há religião superior à verdade. Para meu espanto, na juventude, ao entrar em contato com a “Doutrina Secreta”, li estes dizeres no selo da obra. A cada contato com a filosofia oculta, mais me identifiquei com ela. É um princípio dela cuidar do progresso espiritual das pessoas que nos são próximas; esta é a meta da minha vida, desde sempre. Considero que o pensamento é uma forma de energia que atua sobre os atos e os direciona. A consciência é a qualidade suprema do princípio espiritual e direciona as escolhas. Ainda não chegou o tempo em que a humanidade esteja disposta a ouvir a verdade toda.

O universo é um caos para os sentidos e um cosmos para a razão. O uno desenvolve os vários e a tudo interpenetra. O caminho não é a meta. Há a vontade e a manifestação dela. Não devemos crer em uma coisa somente por ouvi-la de outrem, mas só quando corroborada pela razão e por nossa consciência. É dever do ser humano unir-se à lei e identificar-se com ela. “Conhece-te a ti mesmo” é o lema do “sem resíduos” que não necessita do ego individual e é imune ao pecado. A existência individual ou pessoal é causa de penas e aflições; a vida coletiva e impessoal está acompanhada de divinas bem-aventuranças. O homem virtuoso pode alcançar, pelo autopercepção, a compreensão intuitiva. Não há passado nem futuro, a não ser na consideração que o presente lhes dá.

O convertido é um corrompido. A lei é uma mente clara e iluminada. Aquele que aceita ser aprendiz traz à tona seus defeitos, qualidades, hábitos e desejos reprimidos, sejam bons, maus ou indiferentes (é inevitável), e luta para dominar suas más tendências (futilidade, sensualidade, ambição). Não se deve ir a lugares sem estar em sintonia com as circunstâncias. A melhor proteção é uma consciência tranquila e um firme desejo de servir à humanidade. A verdadeira felicidade há de buscar-se unicamente no conhecimento e na experiência pessoal.

As leis estabelecidas pelas mentes humanas apenas são necessárias para a vida e o bem-estar do homem físico. A lei leva o homem a viver a eternidade na temporalidade. O homem é pai-mãe de si mesmo. A ressureição é a passagem das trevas da ignorância para a luz da verdade. Devemos aprender a teoria antes que nos seja ensinada a prática. A missão do homem consiste em vibrar a nota fundamental da verdade. O Eu superior se confirma nos atos. A consciência do absoluto é o abstrair sobre o abstrato, ser, existir, ser expectador de tudo e de si mesmo.

A colheita na seara da vida consiste nos mais elevados pensamentos espirituais da personalidade, na lembrança de suas nobres e altruístas ações e na constante presença de todos aqueles a quem amou com divina e espiritual devoção. A alma triunfa da carne. O homem de conduta reta e virtuosa nada tem a temer. Os cientistas modernos apenas redescobrem verdades antigas.

A Doutrina Secreta manifesta conceitos condizentes com minha filosofia de vida e apresenta uma Cosmologia e uma Antropologia de uma beleza estética e uma veracidade palatáveis, oferecendo estofo para o período em que o ser humano não estava presente no universo. Os dados da cultura universal, de uma riqueza inigualável, muitos deles pertinentes apenas aos videntes e aos espíritos manifestos, mostram um vasto panorama da vida e da vida humana no mundo.

A ciência ensina o que muito cedo foi do conhecimento dos povos. O óvulo fecundado torna-se ovo. É a união verdadeiramente sexual que se dá na terceira raça em sua fase última. A história do embrião é um resumo da espécie. Todo organismo, em seu desenvolvimento a partir do ovo, passa por uma série de formas, aquelas que passaram, na mesma ordem, os seus antecessores no largo transcurso da história da terra. A história do embrião é um esboço, em miniatura, da história da espécie.

O homem, no útero, é uma simples célula, um vegetal com três ou quatro folíolos, um girino com brânquias, um mamífero com cauda, um primata e, finalmente um bípede. Na evolução do embrião, é quase impossível deixar de reconhecer um esboço rápido e um resumo fiel da série orgânica completa. A evolução do indivíduo, desde o nascimento até a maturidade, pode descrever-se de forma simples, com as características de cada idade conforme hoje se concebe.

Do nascimento aos nove meses, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial dinâmico, regido pelo primado do instinto, instruído por uma percepção no espaço, no “aqui e agora”, dos estados momentâneos do organismo, ao sabor da emoção choque, sem qualquer outro tipo de defesa, pois não se pode, a rigor, falar em inteligência, senão a da potência dinâmica diretora do universo, que orienta os processos vitais, e sua consciência é apenas espontânea pré-objetal, sem moralidade, sua sexualidade é orgiástica, sem freios, e sua religiosidade praticamente não existe, ocorrendo apenas a vivência místico-homeostática.

Dos nove meses a um ano e meio, a atuação do indivíduo ocorre nos campos vivenciais dinâmico, da determinação, da intenção e da imaginação ao nível da crença ingênua, instruída por uma percepção no tempo e na duração, ao sabor da emoção antecipação-medo, com uma inteligência apenas ao nível da equilibração das ações externas sensoriais-motoras, uma consciência espontânea objetal precária ao nível da crença ingênua, uma moralidade pervertida no sentido da submissão passiva, uma sexualidade sensual-masoquista e uma religiosidade mítica de medo.

De um ano e meio aos três anos, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da imaginação ao nível da dúvida ingênua, instruída por uma percepção no tempo e na duração, ao sabor da emoção antecipação-cólera, com uma inteligência apenas no nível da equilibração das ações internas simbólicos-representativas da realidade concreta, uma consciência espontânea objetal precária ao nível da dúvida ingênua, uma moralidade pervertida no sentido da insubmissão ativo-agressiva, uma sexualidade sadomasoquista e uma religiosidade mítica de cólera.

Dos três aos seis anos, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da imaginação ao nível da esperteza ingênua, instruída por uma percepção no tempo e na duração, ao sabor da emoção antecipação-falso amor, com uma inteligência ainda apenas ao nível da equilibração das ações internas simbólico-representativas da realidade concreta, uma consciência espontânea objetal precária deturpada pela permissividade, uma moral pervertida no sentido da pseudo-submissão, uma sexualidade sadomasoquista permissiva e uma religiosidade mítica de farsa.

Dos seis aos doze anos, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da elevação ao nível concreto, instruída por uma percepção no tempo e na duração, ao sabor da emoção antecipação-amor verdadeiro ingênuo, com uma inteligência já ao nível da equilibração das operações internas simbólico-representativas sobre a realidade concreta, uma consciência reflexiva sobre o concreto, uma moralidade prático-utilitária, uma sexualidade ocasional e uma religiosidade mítica latente.

Dos doze aos quinze anos, a pré-adolescência, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da elevação ao nível abstrato de pugna, instruída por uma percepção na unidade de estrutura dos contrários analítica, ao sabor da emoção antecipação-cólera refletida, com uma inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da dúvida refletida, uma consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da dúvida, uma moralidade ao nível da pugna no plano abstrato, uma sexualidade sádica e uma religiosidade mítica aguerrida.

Dos quinze aos dezoitos, a adolescência propriamente dita, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da elevação ao nível abstrato de busca de consenso próprio, instruída por uma percepção na unidade de estrutura dos contrários sintética, ampliada pela percepção na unidade de mecanismo analítica, ao sabor da emoção antecipação-medo refletido, com uma inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da busca de consenso próprio, uma consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da busca de consenso próprio, uma moralidade também ao nível da busca de consenso próprio, uma sexualidade masoquista refletida e uma religiosidade mítica masoquista.

Dos dezoito aos trinta anos, o adulto jovem, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da elevação ao nível abstrato de cooperação com a comunidade, instruída por uma percepção na unidade de mecanismo sintética e na unidade de movimento analítica, ao sabor da emoção antecipação-amor verdadeiro extensivo à comunidade, com uma inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da cooperação no plano comunitário, uma consciência reflexiva sobre o abstrato ao nível da cooperação com a comunidade, uma moralidade ao nível da busca de consolidação da independência e das devoções de amor à família e à comunidade, uma sexualidade e uma religiosidade socializadas.

Dos trinta aos sessenta anos, o adulto propriamente dito, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da elevação ao nível abstrato de cooperação com a humanidade, instruída por uma percepção na unidade de movimento sintética, ao sabor da emoção antecipação-amor verdadeiro à humanidade, com uma inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da humanidade, uma consciência reflexiva sobre abstrato ao nível da cooperação no plano humanístico, uma moralidade ao nível da organização no sentido da cooperação com a humanidade além das convenções, uma sexualidade e uma religiosidade humanísticas.

Dos sessenta anos em diante, o adulto velho, a atuação do indivíduo ocorre no campo vivencial da elevação ao nível abstrato de integração com a totalidade cósmica, instruída por uma percepção na unidade de movimento sintética do absoluto, ao sabor da emoção antecipação-amor verdadeiro cósmico, com uma inteligência ao nível da equilibração das operações internas sobre o abstrato a serviço da totalidade, a consciência do absoluto, a moralidade da liberdade plena, uma sexualidade e uma religiosidade cósmicas.

A evolução do indivíduo assim descrita pode ser o caminho para a compreensão da humanidade atual. No seu todo, ela manifesta um desenvolvimento precário, uma fixação no medo e na subserviência. Uma porcentagem um pouco menor transforma o medo em raiva e revolta. Uma porcentagem muito menor ainda manifesta a farsa, escondendo a raiva e o medo. A farsa é uma aquisição valiosa, quando o indivíduo esconde seus sentimentos negativos e se faz de equilibrado, educado de mentira.

À farsa segue-se a praticidade. O indivíduo não mais cultiva o medo e a raiva nem gasta seu tempo em mentir e omitir. Ele busca as condutas que irão leva-lo à meta almejada, sem mais interregnos. Infelizmente, a maioria da humanidade ainda está no medo e na raiva, e alguns poucos conseguem fingir uma educação que de fato, não possuem, e a praticidade está longe de ser adquirida. A humanidade, como um todo, ainda não completou a infância.

Tal constatação nos leva à necessidade iminente da criação de um processo educativo que catapulte a evolução humana nos planos das idades cronológicas, como consta do já esclarecido. A formação do caráter é a base da evolução, e uma programação como se segue é a solução para o evento: no ensino fundamental, no 1º ano, a introdução; no 2º ano, o ser de angústia; no 3º ano, o ser de medo; no 4º ano, o ser de cólera; no 5º ano, o ser de farsa; no 6º ano, o ser prático; no 7º ano, a sexualidade; no 8º ano, a religiosidade; no 9º ano, o ser querelante. No ensino médio: no 1º ano, ainda o ser querelante; no 2º e 3º anos, o ser pacificador. No ensino superior: no 1º ano, o ser comunitário; no 2º ano, o ser humanístico; no 3º ano, o ser cósmico; no 4º ano, a mística. No site www.fsb.org.br ofereço a bibliografia necessária para a feitura dos planos de aula, que consta das minhas Obras Completas.

A história atual da humanidade está emperrada, na sua maioria, no medo e na raiva, que vão representar o contingente para os futuros adolescentes querelantes na manifestação de possíveis atritos e guerras que os governantes, uma vez mergulhados na farsa, não vão ser capazes de debelar. Na minha clínica, CEPAFE, já tratei mais de seis mil adultos, em grupos de doze, com o maior sucesso. O todo dos adultos deve receber, no lar e nas escolas, os ensinamentos necessários para formar o seu caráter.

É bem verdade que todos os indivíduos necessitam ligar-se para existir, ser com. Em primeiro lugar vem o lar, depois a escola e o trabalho. O indivíduo necessita também religar-se ao mistério do mundo, o que o faz religioso. As religiões, todas elas produto da imaginação dos povos, criaram um Deus vingativo e castigador de pecados, que quase todos temem, infernizando suas vidas. Tais crenças fixam os indivíduos até os três anos de idade emocional, no máximo, podendo safar-se um pouco mais, pela via da farsa, até os seis anos de idade emocional. Eles jamais serão adultos.

O progresso da humanidade só ocorrerá quando o indivíduo desenvolver de forma harmoniosa a sua personalidade, em função do campo vivencial, da percepção, da emoção, da inteligência, da consciência, da moralidade, da sexualidade e da religiosidade. Só assim a humanidade poderá realmente caminhar para a sua meta de comunhão com o mistério do mundo, sem entregar-se a crendices, mitos e lendas, buscando o verdadeiro sentido do mistério que a criou e a cerca.

Minha família foi exemplar no trato dos meus pais entre si e com os filhos. Tive oito irmãos, cinco homens e três mulheres. Meus dois irmãos menores faleceram cedo, o menor com pouco mais de um ano, com infecção na garganta, denominada Krupp, nome do cientista que a descobriu e que não tem vacina até hoje; e o mais velho que ele quase dois anos, por queimadura de água fervendo em todo o corpo, por que esbarrou na babá que ia levando água para as abluções matutinais do meu pai. Nunca fiquei sabendo de detalhes. Antes dos tristes eventos eu ainda não tinha nascido e, depois, não eram assuntos para se trazer à tona.

No decorrer da vida, perdi meus pais, os três irmãos e a irmã logo abaixo de mim. Tenho agora, duas irmãs viúvas com lindas famílias, a mais nova bisavó e a penúltima trisavó. Estou organizando um álbum da família para quando eu me for. Meu avô materno era tio da minha avó; tiveram onze filhos. Não conheci meu avô, mas minha avó era uma doce criatura que eu persegui o tempo todo, até os onze anos, quando ela faleceu. Soube, por um primo, que meu trisavô casou-se com uma índia que foi batizada de Maria Tereza. Soube também que meu avô paterno, português, foi herói da guerra do Paraguai, e acrescentou Brasil no seu nome por patriotismo.

Minha avó materna me contava passagens da vida dela. Contou-me que o pai dela, meu bisavô materno e irmão do meu avô, tinha uma fazenda denominada Fazenda das Palmeiras, perto de São Pedro da Aldeia, cidade onde ele morava numa linda casa colonial com varanda dos dois lados e uma horta enorme, em declive, que acabava em um portão que dava para a praia e para o mar. Cheguei a conhecer essa casa, o que muito me comoveu. Não pude ver a casa por dentro por que o vigia disse que ela estava alugada por uma empresa para fazer fotonovelas, o que era comum quando lá fui, mas pude vê-la pelas janelas e pelas portas, sem tocar no piso já preparado para as fotos, mas vi a horta a praia e o mar, foi lindo!

Desde pequena eu tinha paixão por carrilhões, que vi nas casas de dois tios paternos. O tio mais velho morava em um palacete, com móveis enfeitados de entalhes dourados, inclusive o carrilhão, que ficava no escritório; a horta era enorme e dava para a rua dos fundos; o jardim tinha um belo tanque com peixinhos dourados; havia um pássaro vermelho, ignoro a raça, que ficava em uma gaiola dourada, cuja porta nunca foi fechada, e ele voava pela casa e entrava na gaiola, a seu gosto. A casa do meu outro tio era mais moderna e o carrilhão ficava na sala de jantar.

Meu tio mais velho tinha dois casais de filhos; duas primas, muito mais velhas que eu, tinham uma biblioteca de romances para moças, todos encadernados, alguns até com títulos “Coleção Azul”, “Coleção Rosa”; meu pai sempre foi muito amigo delas, e foi levando os livros delas, aos poucos, para eu ler; eu devo ter lido todos. Meu tio era Juíz de Direito, tinha uma biblioteca portentosa que cujo conteúdo nunca conheci. Meu tio mais novo, muito meu amigo, Catedrático de História da Civilização, liberou sua biblioteca para mim, e, não só devorei todos os livros de História da Civilização como os de Direito Penal e de Medicina Legal, que me abriram outros horizontes.

A casa da minha avó materna era muito bem construída, do tempo em que quase tudo era importado. A parte de madeira era de pinho de Riga e os azulejos eram portugueses. A mobília era escura e antiga. Os armários dos quartos eram enormes, entalhados e com portas de espelho, e se chamavam guarda-casacas. A mobília da sala de jantar tinha um guarda-louça enorme e um móvel chamado “etager”. A sala de visitas tinha, além do sofá e das cadeiras, dois móveis chamados “dunquerque”, uma escarradeira de porcelana que servia de enfeite e um enorme espelho todo de cristal, até as cabecinhas dos parafusos.

A casa dela tinha uma linda varanda coberta, com um jardim. Quando meu tio mais velho se casou, fez um amplo quarto cuja sacada dava para o jardim. Havia também uma horta, que ia até a rua do fundo, com árvores frutíferas, inclusive uma laranjeira sob a qual nos reuníamos numa mesa rodeada de bancos. A casa tinha um pé-direito muito alto e um porão habitável, onde minha avó protegia os pintinhos recém-nascidos com a mãe deles, e lá socava o milho numa laje para fazer canjiquinha para eles.

Já nossa casa era menor e mais simples, mas satisfez muito bem a nossa família. A mobília era, também, toda antiga. Aos poucos vieram as camas para os filhos crescidos. Havia um quarto com um berço coberto com um acortinado de filó, por onde todos passamos até vir a mais nova e nos desalojar. Eu fui a única que tive um quarto só para mim, com uma mesa de estudo e uma penteadeira armada e forrada de brocado azul e um espelho. No mais eram, meninas num quarto e meninos no outro.

Minha cidade natal, Barbacena, como todas as cidades daquela época, tinha, no centro, uma praça, com a igreja em frente a ela. As laterais da praça tinham duas ruas, à esquerda e à direita, com casas coloniais muito vistosas. À direita da praça estavam os casarões dos ricaços e a casa do vigário. À esquerda as casas eram todas dos meus tios, irmãos e irmã do meu pai. Eu não os conheci a todos, só minha tia mais velha e dois tios, cujas casas já descrevi.

O “footing” era na rua da esquerda. Quando acontecia algum namoro, o par passava para a rua da direita. Quando o namoro ficava mais firme, o casal passava para uma praça mais adiante, mais acolhedora. Segundo eu fui informada, minha avó paterna morava num casarão nessa praça, onde foi criada pelo padrinho que dava o nome da praça, Conde de Prados. Soube que meu avô era noivo de outra, mas se apaixonou por minha avó e desfez o noivado para casar-se com ela. Meu irmão mais novo casou-se com a neta da quase nossa avó, que muito se regozijou com o fato.

Minha professora de francês, por quem me apaixonei na adolescência e para sempre residia na casa que fora da minha tia, irmã do meu pai. Minha professora e uma amiga ficavam apreciando o “footing”. Eu passava, passava e passava… em frente a casa dela. Nessa época, entre 15 e 20 anos, tive quatro namoros nos termos da época. Meu pai me vigiava muito, sem interferir; mas não aprovou um deles, dizendo que ele até gostava muito dele e da família, mas que o rapaz tinha um apego doentio à mãe e nunca se casaria, o que, de fato, aconteceu.

Meu pai sempre quis ser médico, mas não o conseguiu porque naquela época não havia Faculdade na nossa cidade e ele, por motivo de saúde, como já expliquei, não poderia viajar como todos os irmãos o fizeram. Ele trabalhou no Manicômio Judiciário, órgão prisional de criminosos de gênero masculino diagnosticados com doença mental. Ele estudava com afinco, a ponto de os profissionais abonarem seus diagnósticos e suas prescrições, o que muito o envaidecia. Ele me ensinava tudo que sabia, inclusive os diagnósticos de meus tios maternos, três com problemas desde a infância e outros, já idosos, que manifestaram depressão, como meu avô, pai deles e tio de minha avó, com quem se casou.

Tive que cursar a disciplina psiquiatria, parte do Curso de Psicologia Profunda, e estagiar em hospitais psiquiátricos, a fim de aprender a fazer o diagnóstico diferencial dos clientes e distinguir os que poderiam fazer psicoterapia dos ineducáveis, que deveriam ser encaminhados para os psiquiatras. Os educáveis, aqueles que tinham noção de bem e mal, precisavam muitas vezes, também, de medicação psiquiátrica para se capacitarem a receber as intervenções psicoterapêuticas. Mais tarde, adaptei minha técnica psicoterapêutica a um sistema próprio para os ineducáveis, para eles serem condicionados, e o sistema foi muito bem-sucedido.

Não conheci meu avô paterno, mas soube que ele veio de Portugal com a mãe viúva, Maria Tereza, com 15 anos. Adulto, montou uma loja de tecidos. Meus irmãos brincavam com nosso Pai, dizendo que um soldado, armado de fuzil e baioneta, entrou na loja dele e disse “Seje voluntário! ” Na verdade, meu avô lutou na guerra do Paraguai, como já disse, e voltou com a patente de tenente-coronel, a bandeira que empunhava e a estrela de Herói. Ele é homenageado todo ano, no dia 21 de abril, na Divisão de Infantaria, D.I, no Bairro do Prado, em Belo Horizonte.

Pelos feitos do meu avô, todas as filhas mulheres dele receberam pensão vitalícia. Minha tia mais velha, que morava na Capital, ia todo ano às comemorações, pois toda a família dele era convidada para os festejos. Quando morei com minha tia para fazer meus estudos, eu ia com ela aos festejos que eram sempre junto com os de Tiradentes. Fiquei sabendo que, apesar das brincadeiras dos meus irmãos, ele havia sido Herói mesmo. A bandeira encontra-se numa vitrine, no salão nobre da Prefeitura de Barbacena.

Quando eu vim para a Capital para completar meus estudos, meu Pai exigiu que eu ficasse com minha tia, sua irmã mais velha, que havia cuidado dele quando minha avó, que eu não conheci, faleceu, pelo menos por três meses até conhecer a cidade e me acomodar em definitivo. Minha tia insistiu em que eu ficasse com ela o tempo que quisesse, o que aceitei com prazer. Ela era muito inteligente e culta, e muito sensível; fazia questão de assistir o meu almoço, que era mais cedo que o da família, por causa do meu horário escolar.

Meu Pai fez questão de me trazer quando mudei para cá. Minha Mãe, apesar de hemiplégica do lado direito, com o braço paralisado e a perna claudicante, por causa do que, à época, se chamava derrame, providenciou um copioso enxoval para nada me faltar; além disso aprendeu a escrever com a mão esquerda, pois era uma contumaz missivista e queria comunicar-se comigo e com meu irmão mais velho que trabalhava fora. Minha mãe era uma pessoa muito amada por todos. Eu ia vê-la todos os fins de semana até o dia 21 de junho de 1950, quando faleceu. Minha vinda para cá não deixou de ter o seu lado pitoresco. A única via era o trem e, embora na Estação estivesse marcada a duração de seis horas para a viagem, nunca a fiz em menos de dez e o comum eram doze horas. Usávamos guarda-pó, pois às vezes entravam fuligem e brasinhas pelas janelas. Minha mãe providenciou um farto lanche com frango, farofa, batatas fritas e água mineral. Meu pai, em cada Estação, contava um caso da cidade em que estávamos parados; lembro-me de todos; eram anedóticos; não dá para contar todos; eram doze Estações.

A rotina das minhas idas para ver minha mãe era a seguinte: depois da última aula de sexta-feira no Instituto de Educação, onde eu fazia o Curso de Administração e Orientação Escolar, que me permitiria inscrever-me no vestibular do Curso de Pedagogia, pois ainda não havia Curso de Psicologia, como já disse, eu descia à pé para e Estação, que era perto. Quando chegava em Barbacena, um de meus dois irmãos que moravam lá estava me esperando; no domingo à noite, o outro irmão me levava para a Estação. Eu chegava no horário da primeira aula de segunda-feira. Eu almoçava com minha família, visitava, com minha tia e madrinha, uma das duas tias internadas em casas psiquiátricas, alternadamente, todo domingo, e também a empregada, escrava da vovó, na Casa de Saúde, que encantou minha infância com suas histórias, apesar de cega.

Depois que minha mãe faleceu, tudo mudou. Não deixei de ver meu Pai, mas, com o advento da rodovia, eu ia de ônibus, o primeiro do dia de domingo, e voltava no último do dia. Com o passar do tempo, comprei um carro, que trocava de dois em dois anos, quando acabava de pagar o anterior. Sempre contratei um motorista para as viagens, pois não gostava de dirigir e nunca dirigi na estrada. A rotina da viagem era a mesma, só que eu já contava com uma amiga, a maior que já tive por toda a minha vida, e uma priminha que ela criava, que iam sempre comigo, com as quais eu morava. O lanche antes da volta era na casa da minha tia e madrinha, mulher do meu tio e padrinho, com os quais a irmã dele, minha tia e madrinha, também morava.

A amiga à qual me refiro me foi apresentada por uma colega de trabalho. Nós nos afeiçoamos pelo resto da vida. Ela nos protegeu no nosso viver, eu e uma amiga com a qual eu tinha uma relação homo afetiva, como se diz hoje em dia, e nos fez acolhidas por todos os parentes e amigos dela, dando-nos aceitação e paz afetiva socialmente. Morei na casa dela, mesmo quando percebi que não deveria continuar a ligação com a amiga de mais de dez anos, e só tive necessidade de me mudar quando me apaixonei perdidamente por uma viúva que me procurou profissionalmente, pois eu já clinicava, e que eu, a par dos meus sentimentos, indiquei para um colega; logo em seguida ela me procurou relatando os mesmos sentimentos por mim, e assumimos em sigilo, nosso amor.

Essa minha companheira se relacionou comigo por quarenta e um anos, quando faleceu. Ela nunca admitia publicamente a nossa relação, o que eu compreendi e aceitei. Nosso relacionamento foi maravilhoso até o fim. O psiquiatra dela achou melhor ela dizer à filha que retribuía minha afeição, pois ela era minha cliente e a dispensei, explicando que tinha me apaixonado pela mãe dela e que, tecnicamente, ficava impedida de tratar ambas. A filha teve uma crise de violência com a mãe que, após três dias, acabou.

Meu relacionamento com os filhos dela era impossível, embora necessário ocasionalmente. Minha companheira logo ficou empobrecida, pois teve que gastar a herança com a educação dos filhos, ela médica e ele engenheiro. Assumi minha companheira em todas as suas necessidades e eles não se importavam; não era possível que não soubessem, pois nunca lhe faltava nada; casa, carro novo de dois em dois anos, viagens anuais ao exterior, e idas à praia todo ano, sustento de domésticas e da mãe dela, uma provecta senhora, muito fina e culta, enquanto viveu. Ela era muito sutil; quando a conheci, ela me disse, em segredo, que compreendia nossa afeição e que fossemos discretas.

Nos últimos anos, meu relacionamento com os filhos dela foi tumultuado. O filho não se pronunciava verbalmente, mas subscrevia todas as atitudes da irmã, que não foram poucas, não por causa do caráter da nossa relação, mas pela defesa dos direitos financeiros, inclusive sobre os dois apartamentos que coloquei em nome dela, usufruto vitalício, um para ela morar e outro para renda, que ela cedeu para a filha, continuando eu a sustentá-la. Foi o maior amor da minha vida; valeu tudo que custou em todos os sentidos. Quando, no fim da vida dela, já com sintoma de Alzheimer, a filha tendo decretado cárcere privado, conquistei as cuidadoras, que a traziam para me ver quando a filha ia trabalhar, pois, nessa época, já vivíamos no mesmo prédio.

No último ano da vida dela, não nos vimos mais, pois a filha descobriu nosso arranjo e mudou suas cuidadoras e não deu mais brecha para eu a ver. Ela faleceu às7:30h da noite do dia 3 de outubro de 2018, e foi sepultada na manhã seguinte, na presença apenas dos filhos. Os parentes e amigos, que eram muitos, reclamaram; eu só soube no dia seguinte às 16h da tarde. Soube que ela proibiu a síndica de divulgar o evento, principalmente para mim. Ela foi sepultada no mesmo lugar que a mãe, cujo jazigo eu havia adquirido para ela.

Uma vez à tona esse assunto, registro aqui que adquiri, no Columbário do Cemitério Parque da Colina, um nicho para colocar a urna com minhas cinzas, urna essa que deverá ser da cor lilás Saint Germain, que é a cor da Fundação, que tem o meu sobrenome, Souza Brasil. Mandei colocar, à esquerda, uma foto minha e, à direita, uma jarrinha cor de cobre com uma flor de lótus artesanal, a flor da vida, e nos dizeres do meu nome, na plaquinha, acrescentar meu lema que, por coincidência, é o mesmo da “Doutrina Secreta”, que conheci mais tarde, e é “ Não há religião superior à verdade”.

Até o presente, descrevi o que aprendi, academicamente, da cosmogênese e da antropogênese pré-históricas de origem de videntes e médiuns, e uma súmula do meu viver. Minha proposição apresenta, pois, o que aprendi, na escola, na “Doutrina Secreta” e na vida. Resta registrar o que penso de tudo isso agora e concatenar o meu pensar com a visão de futuro que se me descortina. O passado pré-histórico, um presente dos indivíduos dotados de poderes para descrever o que ocorreu no universo antes do surgimento da humanidade e depois do surgimento dela, mas não historicamente registrados, indivíduos esses denominados videntes e médiuns especiais, que noticiaram o vivido, não só do cosmos como da humanidade pré-letrada.

Minha visão científica da vida constatou que, quanto à cosmogênese e à antropogênese anterior aos registros históricos, vale festejar os registros da “Doutrina Secreta”, colocando entre parêntese o ir e vir de deuses e semideuses auxiliares do deus maior que não consigo compreender, pois nada melhor a humanidade registrou até hoje, apesar do progresso alcançado nos vários aspectos dela conhecidos. Considero que o fenômeno, o que é, pode ser o que é, o oposto do que parece ser, ou o caminho para esclarecer o que ele é. Assim sendo, o indivíduo pode abarcar a verdade toda, na sua visão livre sobre tudo o que é, verdade que é só sua.

Partindo do princípio da liberdade, cada indivíduo pode imaginar como surgiu e como evoluiu o cosmos, e como surgiu e como evoluiu a humanidade, até o momento em que a história se fez registrar. Surgiram as hipóteses e as comprovações, a ciência se fez. No entanto a ciência não resolveu o problema da origem e destino do universo. Esse vazio no pensamento do ser humano ampliou a angústia diante do mistério posto. Surgiram as primeiras crenças; o estrago estava feito. Cada povo criou as crenças que quis criar e, quando as sentia ameaçadas, tornava-se aguerrido; o “quem não está comigo está contra mim” criou um sem número de contendas.

A história da humanidade está repleta de fatos registrando as lutas e guerras dos povos entre si. Um estudo da teologia mostra a saga das raízes da teologia afirmativa natural, da teologia afirmativa revelada e da teologia negativa, mística. A teologia afirmativa natural manifestou-se no vedismo-bramanismo, no taoísmo, no budismo, no confucionismo e no milagre grego. A teologia afirmativa revelada manifestou-se no judaísmo, no cristianismo, no islamismo e no espiritismo. A teologia negativa, mística manifestou-se na teosofia, na mística cristã e na mística espírita.

As raízes da teologia afirmativa natural podem resumir-se como se segue: o temor ao desconhecido deu origem a um sentimento de religiosidade. A tradição registrou os esforços dos indivíduos e dos grupos humanos no sentido de explicarem o mundo e sua presença no mundo, o que gerou explicações míticas, originalmente feiticistas politeístas, cosmológicas e/ou antropológicas e, posteriormente, monoteístas antropológicas. Uma das tentativas mais coerentes dessa fase foi a do vedismo, que originou o bramanismo, o qual, juntamente com o taoísmo, ofereceu o material que iria orientar os antropologistas budistas e confucionistas, base do pensamento socrático e platônico, pedras angulares da teologia afirmativa natural.

As raízes da teologia afirmativa revelada podem resumir-se como se segue: o temor ao desconhecido deu origem a um sentido de religiosidade. A tradição registrou os esforços dos indivíduos e dos grupos humanos no sentido de explicarem o mundo e sua presença no mundo. A tentativa mais bem-sucedida de implantar o dogma revelado foi a do judaísmo, que vê no Cristo apenas um dos profetas e aguarda o Messias com a revelação total. Os seguidores de Cristo viram nele o Messias, o salvador. O islamismo tomou a palavra de Cristo e, com ela toda sua herança judaica. O espiritismo fez de todo esse acervo histórico a realidade da sua crença e tornou-se a pedra angular da teologia afirmativa revelada.

As raízes da teologia negativa, mística, podem resumir-se como se segue: o temor ao desconhecido deu origem a um sentimento de religiosidade, e a tradição registrou os esforços dos indivíduos e dos seres humanos no sentido de explicarem o mundo e sua presença no mundo, esforços de duas naturezas, um saber de Deus à base do conhecimento do mundo natural, e um saber de Deus por ele revelado. A outros indivíduos, porém, foi dado um outro caminho, fazendo-se Deus presente neles, sem palavras e sem necessidade de entendimento, o êxtase místico, que permite viver diretamente a unificação com o divino. O espírito abandona o corpo e põe-se a caminho, emerge das profundezas do seu ser, supera a dor do mundo, ressurge em outro plano, expande-se, harmoniza-se, unifica-se com Deus pelo amor.

A teosofia, resume-a Mme. Helena Petrovna Blavatsky na sua obra “Doutrina Secreta”, já muito citada por mim.

A mística cristã, descrevem-na Santo Agostinho, Santa Catarina de Sena, Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz.

A mística espírita congrega, no seu bojo, toda a mística da humanidade. Registra todas as ocorrências místicas do Antigo Testamento e detém-se na mística de Cristo e dos cristãos. Cita São Dionísio Areopagita, João Ruysbroeck, São Francisco de Assis, São Boaventura, a Beata Ângela, Johan Eckhart, Jean Tauler, Santa Teresa de Jesus, São João da Cruz e Piero Ubaldi.

A teologia é a reflexão sistemática sobre o absoluto enquanto relacionado ao nosso ser; o que se busca é a integração de essência e existência, de absoluto infinito e de finito, de eternidade e de temporalidade. A hipótese habitual, presente nas teologias, é a de que um princípio uno, geralmente denominado Deus, transformou-se, no seu íntimo, em elementos diversos, coordenados em hierarquias e funções que reforçam esta unidade, conservando o mesmo esquema em todas as individuações menores, donde a afirmação de que todo ser é feito à imagem e semelhança de Deus, que é sua origem e seu destino.

Segundo as teologias, restam ao ser humano cinco alternativas para o além-túmulo. A primeira, do materialismo, é a do nada. A segunda do panteísmo, é a da absorção no todo universal. A terceira, das igrejas, é a da continuação da individualidade com sorte fixa. A quarta, do espiritismo, é a da continuação da individualidade com a possibilidade de progresso infinito. A quinta, da teosofia, é a da evolução do todo no seio de Deus.

Suponho que o que o ser humano tanto teme seja o mero desafio de viver plenamente cada instante, enfrentar a mutabilidade, a transitoriedade no eterno, o que o tornaria permanentemente unido a Deus. Liberto de toda ilusão, seu palco seria o aqui e agora de cada instante, com toda a responsabilidade de ser, e todas as comunicações seriam unificadas e estáticas, o paraíso da relação. A condição para o ser humano ser feliz sempre é a simples e insofismável capacidade de se tornar responsável por ser!

Para ser livre, o indivíduo necessita receber todas as informações sobre a vida, de acordo com a capacidade de aprendizagem em cada fase do seu viver. Há que ter notícias sobre o cosmos e sobre a humanidade pré-letrada, sendo informado de que são revelações dos adivinhos e dos médiuns, que lhes cabe a liberdade de crer nelas se o seu raciocínio crítico assim o decidir, ou os registrar como mera imaginação deles. Na educação, a chave mestra é o espírito crítico, que deve ser registrado sempre; ele parte de uma base sólida de cunho filosófico que explica os princípios do raciocínio, intuitivo, indutivo e dedutivo, e o coroamento deles, o fenomenológico.

O livre pensar pode valer-se da afirmação de que a verdade deve examinar-se nos seus três aspectos: o que ela parece ser; o que pode ser o contrário do que ela afirma; o que ela afirma pode ser o caminho para chegar a ela. Tal exame vale para cada estudo de cada disciplina de cada curso escolar. Só assim o indivíduo forma o seu caráter, base do seu ser. O indivíduo, desde sempre, necessita valorizar sua intuição, a indução e a dedução para exercitar o seu livre pensar e definir sua ética, sua diretriz de vida. O bom, o belo, o verdadeiro e o santo são a meta do seu viver.

As religiões, de um modo geral, baseiam-se nos conceitos de pecado, crime e castigo. Assim sendo, são todas primitivas e irracionais. Enquanto os líderes das religiões não criarem um códice universal e ético, a humanidade permanecerá nesse primarismo e nessa permissividade que vêm mantendo os indivíduos prisioneiros de crenças e dogmas inconcebíveis. Cabe aos próceres assumirem a verdade de que é impossível crer que Deus criou os indivíduos propensos a errar, e castigá-los por exercerem sua propensão.

É necessário que os educadores ensinem os alunos a compreender e a controlar os seus medos e os seus rancores, mantendo uma conduta equilibrada no seu viver. Na idade adulta, far-se-ão seres comunitários, promovendo a comunhão de interesses e o bem-estar de todos. Evoluindo, farão o mesmo pela humanidade. É inevitável e urgente que os líderes de todas as religiões desenvolvam o seu viver místico e abandonem todas as crenças nas punições divinas, neste mundo ou em um outro.

A humanidade ainda se encontra, na sua maioria, fixada nos três anos de idade emocional. Aqueles que se encontram na adolescência, e que não são poucos, valem-se deles para deflagrar as contendas e cultivar os proselitismos. A única solução para a humanidade é criar uma religião universal que festeje a evolução do caráter e, consequentemente, da ética. Necessário se faz que todos os quadros disciplinares contem com a disciplina Formação do Caráter no seu bojo.

Não é possível que os países continuem ensinando crenças inconcebíveis como vêm fazendo desde o início dos tempos. Querer destrinchar o mistério da nossa origem e do nosso destino, criando lendas e mitos, religiões e quejandos, é alimentar nossa ignorância. Devemos viver o aqui e o agora, aguardando o futuro com resiliência, e o devir com fé em que haja um Criador, esperança de estarmos cumprindo os seus desígnios e caridade para com aqueles que não têm essa fé e essa esperança. Os fenômenos climáticos apontam para uma futura mudança no mapa do mundo, e nada podemos fazer!

Maria Auxiliadora de Souza Brasil

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